Bilhetes

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Bilhetes


Começou em um dia normal, tudo ensolarado, dia lindo pra ser sincera. Acordei de manhã cedo, fui até o banheiro e tomei um baita banho quente, daqueles nos quais o box fica todo embaçado sabe? Devo ter passado ao menos meia hora curtindo o momento, saí do banheiro e me enxuguei, havia depilado as pernas no dia anterior, e apesar de não recomendado o banho quente era satisfatório.

Meu nome é Gilca, tenho trinta e dois anos, cabelos escuros e encaracolados, cachinhos de mola segundo mainha, meus olhos são castanho escuro como os cabelos, minha pele é branca, tenho lábios nem finos e nem grossos, o nariz é um pouquinho redondo sabe? Um dia faço plástica! Mesmo sob protestos de meu companheiro Valter. Não sou gorda nem magra e meço 1,68m, Aqui em Salvador na Bahia não passo de uma pessoa normal, moro na Pituba, meu pai deixou esse apartamento de herança pra mim, caso contrário não teria dinheiro para uma casa aqui.

Ao vestir minhas roupas de trabalho notei algo ali, quando entro no banheiro deixo tudo já separado antes, assim não perco tempo, sendo assim sabia que era algo novo, deixado lá durante meu banho. Ao lado do vestido jazia um envelope preto, em seu centro havia um olho aberto desenhado em tinta branca. Curiosa abri rapidamente o item, será que era coisa de Valter? Com seu trabalho noturno mal nos víamos, e àquele horário da manhã ele ainda não deveria ter chegado. Puxei o bilhete que vinha dentro:

Nas gordinhas de ondina.

Nada mais estava escrito. Trabalho na barra e costumo passar pela avenida oceânica todos os dias, então as gordinhas de ondina, monumento referência composto por três estátuas de mulheres gordas em um canteiro próximo à orla do local era paisagem trivial.

Humm curiosa com isso viu...

Terminei meus preparativos e peguei o elevador, meu carro aguardava no primeiro estacionamento. O trânsito estava como sempre, insuportável, fiz o trajeto em pelo menos meia hora, a curiosidade era grande, queria ver o que o monumento tinha haver com minha vida hoje. Há um cruzamento em "T" com sinaleira em frente às estátuas, curiosamente o sinal fechou na minha vez de passar e tive visão plena do que acontecia ali.

No primeiro momento julguei que não veria algo diferente, havia uma senhorinha caminhando em direção à UFBA (Universidade Federal da Bahia), um garoto de skate, um mendigo sentado aos pés de uma estátua, não havia nada fora do normal... então vi.

Foi repentino, um pedestre andava ao lado de uma das gordinhas, por algum momento não consegui desviar mais a atenção dele, foi quando um buraco na calçada o fez desequilibrar, ao tentar ficar em pé torceu o tornozelo e tombou para o lado da pista, o ônibus que vinha por ali não teve como desviar e suas rodas estouraram o crânio dele como uma fruta madura. A cena fora horrível, em choque não consegui me mover dali até o buzinaço começar atrás de mim, parcialmente catatônica fiz o trajeto até o trabalho, tanto que ao parar o carro quase não percebi um segundo bilhete que descansava no banco do passageiro.

Trêmula peguei o segundo envelope e o coloquei na bolsa, não iria abrir aquele mau agouro de maneira nenhuma. Fui até minha sala no escritório de contabilidade no qual trabalho e fiquei ali amuada por alguns momentos. Então Rita entrou:

- Tu tá com cara de fantasma menina, o que aconteceu?

Rita era minha amiga ali, conversávamos sobre tudo, parceiros, desejos, fofocas e qualquer assunto que fosse colocado. Uma morena de cabelos crespos e curtos, tinha olhos fortes e um sorriso largo, era magra e como eu dizia pra ela todos os dias: "Magra de ruim". Olhava pra mim curiosa naquele momento.

- Eu nem sei ainda se tem algo a ser dito... aconteceu algo muito estranho comigo essa manhã.

- Me conte logo minha filha, tenho paciência pra suspense não.

BilhetesWhere stories live. Discover now