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Um... dois... três... quatro...

Malen contava horrorizada, todas as gotas de sangue que caíam do pescoço daquela pobre garota deitada no chão, com olhos verdes, agora sem vida. 

Mas como diabos isso havia acontecido? E por que? Não era uma coisa que fosse capaz de explicar, principalmente hoje, quando tudo o que a garota desejava fazer era jantar fora, não presenciar uma cena tão apavorante como esta, sozinha

Tinha saído de casa aproximadamente às nove horas da noite e embora fosse um horário tardio, sua rua era bem movimentada por estar no centro de tudo. 

Bem diferente do beco que estava no momento. 

Quando parava para pensar nisso, quase se achava uma idiota sem noção, final, anos atrás, quase havia sido convencida a desistir de sua casa, única coisa deixada por seus pais antes de morrerem naquele terrível acidente. 

E os pais de Malen eram tudo para ela.

O motivo pela qual levantava todos os dias as cinco horas da manhã, tomava seu banho e saía de casa rumo ao seu trabalho tedioso como jornalista. E o que lhe deixava mais frustrada em relação a admitir que tinha um trabalho maçante, era que na época escolar, ser jornalista foi tudo o que mais desejou.

Se tivesse deixado aquela maldita teimosia de lado... se tivesse escutado seus pais e se tornado algo além. Algo que fizesse diferença para as pessoas, como médica ou advogada... com toda certeza seria bem sucedida agora. Com toda certeza sentiria que mesmo com seus pais mortos, ela teria um propósito: ajudar pessoas.

Entretanto, agora, mesmo com seus vinte e quatro anos de idade, não possuía mais coragem para fazer isso. Não após ver uma cena tão horrível como esta bem na sua frente.

— Onde diabos está a polícia? — Malen perguntou, enquanto abraçava a si mesma numa tentativa inútil de afastar o medo que sentia. Mas a quem desejava enganar? Estava sozinha em um beco completamente vazio e um corpo morto. — Esses desgraçados me pediram para esperar aqui porque sou testemunha, mas já se faz vinte e cinco minutos. Porra, eles não...

A garota sentiu de relance o barulho de algo movendo-se e parou de falar, como um pobre coelhinho assustado. Então se encolheu, mesmo sem querer, enquanto continuava tentando confortar a si mesma. Enquanto tentava soar corajosa.

Era a primeira vez em tempos que não se sentia assim. 

Nervosa.

Nervosa de verdade.

Seu coração começava a ficar acelerado e ela sentia a mão gelar. Tentava respirar calmamente e ainda assim era como se o ar, ao invés de voltar, estivesse se esvaindo pelo ar, deixando-a sem nada. 

Acalme-se, sussurrou mentalmente para si mesma, enquanto olhava ao redor atentamente.

Sentia que estava sendo vigiada e odiava essa sensação. Era incomoda. Agonizante.

Era como ir tomar banho e ter uma câmera a observando em seu próprio banheiro. Ou pior, era como estar transando com alguém dentro do banheiro e ter uma câmera a observando em seu momento íntimo. A vendo no seu mais puro ápice de prazer. Vulnerável. 

Malen afastou o pensamento inapropriado e se concentrou em olhar a sua volta. 

Desejava sair dali o mais rápido possível, então por que caralhos a polícia não conseguia se apressar? Por acaso queriam uma segunda vítima? Era uma teoria que explicava  de modo razoável toda aquela demora.

Novamente o barulho de passos voltaram. Ela  vinha da direção esquerda do beco mal iluminado pelo qual tanto Alyce quanto a garota loira haviam passado provavelmente para encurtar o caminho para seus objetivos, mas nenhuma delas havia saído desse maldito lugar ainda. 

Nenhuma delas, haviam conseguido concluir seu objetivo.

No entanto, ao menos uma delas estava viva.

Por enquanto.

— Está fazendo frio — murmurou, Malen.

Não costumava usar casacos ou mesmo jaquetas em épocas de frio e isso sempre ocasionava em resfriados no inverno. Mas não era como se não gostasse. Estar resfriada era um bom motivo para faltar sem precisar temer ser demitida, ou ter sua falta descontada de seu péssimo salário.

 Respirou fundo.  O medo transpassando por seu corpo, mas a garota juntou coragem e virou-se na direção que os passo vinham. 

Era incrível como uma mudança de rotina conseguia proporcionar, algumas vezes,  consequências terríveis. 

Nós não deveríamos estar aqui. Nenhuma de nós. 

Outro pensamento surgiu de Melan ao voltar a encarar a garota. 

Se continuasse ali, poderia morrer também. É claro que poderia. Mas por que o desespero só havia surgido agora? Era por causa da sensação crescente de morte? Isso parecia estar rondando-a sem parar. 

E por mais que estivesse pensado em se matar incontáveis vezes depois do falecimento de seus pais, não era desse jeito que desejava que fosse. Do jeito que desejava que terminasse.

Ela queria se matar de forma digna. Se é que houvesse de fato, uma.

— Hoje é um bom dia para morrer, será? — perguntou a si mesma, tentando desviar a atenção do corpo, inutilmente. 

O cabelo rosa desbotando, o corpo imóvel, o cheiro de sangue presente ao redor dela... 

Malen só tentava ignorar já que nunca gostou muito de sangue. Isso sempre a enjoava facilmente. Quando pensava nesse fato, talvez fosse um dos motivos que a faziam viver com apenas metade da culpa que sentia por não ter feito medicina. Talvez não fosse capaz de ser uma médica decente. 

De longe, finalmente conseguiu escutar o som de sirenes se aproximarem e agradeceu por ter continuado ali. E por estar viva. 

A garota estava começando lentamente a desistir e apenas voltar para casa, mas era bom que não o tivesse feito. Ao menos ajudaria em algo.

Ela olhou para entrada do beco, onde faróis estavam ligados e fechou um pouco os olhos pela claridade. O beco era pequeno, tornando impossível o carro adentrar e avistou quando um policial desceu do carro e caminhou em sua direção.

Quando o homem parou na sua frente, não pôde deixar de notar que era bastante sexy. Mas esses pensamentos pareciam tão errados nesse momento. Ela deveria apenas eliminá-los. 

Mas não podia deixar de sentir excitada com todo o perigo. 

— Malen? — o policial perguntou, analisando-a. 

Talvez estivesse surpreso por ela ser tão linda, mas a garota já sabia da beleza crescente que carregava em seu ser. Era um presente de sua mãe. 

O longo cabelo negro, a pele clara, os olhos de um profundo azul, a boca carnuda e rosada sendo coberta por um batom vermelho...

— Sim, sou eu — Malen confirmou. 

Blood Drops ❄ Choi YoungjaeWhere stories live. Discover now