Analisando essa cadeira ela é de praia

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Como começar uma história? Eu não sei bem, nunca escrevi uma, quer dizer todos nós escrevemos involuntariamente, certo? Não estou falando de notas no caderno ou anotações mentais, estou falando sobre decisões, estamos o tempo todo tomando caminhos e deixando outros de lado, isso é interessante não? Talvez não seja, mas eu acho. De qualquer modo eu não estou escrevendo nem um tipo de monólogo que vai te fazer dormir, a história que vou contar hoje não e minha e sim de uma pessoa que fez um monte de escolhas, erradas ou certas, não caberá a mim julgar, não há homem são que não tenha pecado.Em um ano qualquer, talvez 1989, em algum lugar do mundo fazia muito calor, lá era tipo 30 Celsius todo dia, Jim Waterson poderia abrir uma lanchonete e não teria despesa alguma com fritadeiras. O que teria de especial nesse dia? Para 5,984,793,941 pessoas não havia nada demais, contudo 1 pessoa pensava diferente e se essa história não fosse sobre essa pessoa provavelmente ignoraríamos ela, assim como ignoramos que não haveria uma "coincidência" de ser um dia especial para algumas das outras pessoas. Então vamos lá, me conte o que há de tão importante? Não me apresse, não estou sendo pago para escrever. Apenas tenho interesse em contar-lhe o que aconteceu. Pois bem, Catheryne estava vestindo seu uniforme novo com o primeiro agasalho que ela ganhou na vida, eu sei o que você vai dizer, o que alguém faria com um agasalho em uma cidade iluminada pelo fudendo Walkie Talkie? Vamos dizer que ela achava que valia a pena usar aquele agasalho.

-Bom dia Catheryne, o diretor pediu para falar com você. - O cara que apresentou a escola, digamos que ela é péssima com nomes

-Okay. Err onde fica a coordenação? - Ela também é péssima com direções, você vai ficar impressionado em quantas coisas ela consegue ser péssima, talvez isso te ajude a se sentir melhor consigo mesmo, quem sabe.

Ele acabou tendo que levar ela até a coordenação. Um longo passeio pelos corredores de latejos brancos, aquele lugar parecia um banheiro só que muito maior e com janelas e mesinhas onde as pessoas fingiam que estavam estudando, ela nunca esteve em um lugar tão bonito com gente tão bonita, palavras dela. Enfim, a grande questão era que o diretor queria investir em um novo departamento na Academia Real de Inovações, mecatrônica, eles eram os melhores na matemática e muito bons na física, mas ainda não tinham nada desenvolvido nessa área. Ela foi encaminhada ao laboratório de biologia, que mais tarde será conhecido como: biologia não é importante e aulas de química acontecem quase sempre aqui mesmo existindo um laboratório de química no mesmo corredor. O diretor fez questão de acompanhá-la, talvez para evitar que a nova aposta da academia fosse parar na dispensa por não ter senso de direção. Quando ele abriu a porta haviam dois alunos na sala, estavam usando shorts e camisas floridas, como um casal de velhos indo pegar um sol, um estava sentado numa cadeira de praia e tinha um cabelo ruivo laranja e óculos redondos o outro era moreno com cabelo militar e tinha um óculos quadrado, ambos sob um grande guarda-sol, na verdade ela imaginou a parte do guarda do guarda sol e não seria tão antiquado nos exteriores daquele edifício.

 -Vocês são o que? Engenheiros do Hawaii? - Ela pensou, mas achou que seria muito rude dizer.

O que estava em pé foi até ela e disse:

-Prazer. Me chamam de Atom, mas meu nome é Luís. - Ele virou para onde estava o guarda sol, indicando. - E o daquele cara ali também, mas a gente chama ele de Ronald.

-Mas porq... - Antes que ela conseguisse terminar a frase, Atom a interrompeu

-Primeira pergunta! Seu nome não seria Luísa por acaso, seria?

-Não, meu nome é Catheryn... - E de novo a interrompeu

-Isso é uma pena, o último que tivemos se chamava Luís e - Dessa vez ele foi interrompido pelo garoto que estava até agora sentado e julgando a recém-chegada

-E ele não sabia fazer nada direito. - Não falou com indiferença, mas como uma criança quando os pais fizeram algo que não queria

-Isso. Segunda pergunta! Você sabe soldar? - Ele não tinha perdido o entusiasmo da primeira pergunta

-Bem, eu faço isso desde que me entendo por gente. Mas agora... acho que estou um pouco enferrujada.Ronald saiu fechando a porta logo atrás dele.

-Aonde ele vai? - Ela perguntou.-Nosso lanche deve ter chegado. - Ele tinha se distraído por um segundo e voltou o olhar para ela. - Você não vai escapar, só há um jeito de descobrir.

Atom subiu no seu mini cruiser e deslizou até o outro lado do laboratório, Catheryne ainda estava processando, tudo era muito novo e diferente de onde ela veio. Teriam sido 3 ou 4 anos na academia militar, não importa, não estava perto de ordem e progresso, mas certamente não permitiriam alunos de shorts com cadeiras de praia, muito menos andando de skate em um laboratório cheio de coisas caras, e não teriam coisas caras.Em pouco tempo ele voltou com um carrinho trazendo duas enormes pernas metálicas, não era nada de excepcional para Catheryne, ela já tinha visto milhares daquelas em lutas de robôs, já tinha até mesmo construído algumas. Contudo, aquela perna era de aço inoxidável e refletia a luz advinda dos tubos gaseificados no teto, refletindo seu rosto, as juntas eram sextavadas, os parafusos espanados e os motores possuíam caixas de redução industriais. Antes que ela terminasse de admirar a peça:

-Legal né? Esse é o Bob, ou o que sobrou dele. - Ele encarou as peças por um momento - Solda isso.

-PERA. Eu?? Não posso soldar isso, faz muito tempo que eu - Ela disse com espanto e uma pequena ansiedade subiu lhe a espinha

-Sim. Você disse que sempre fez isso né? Solda aí, quero ver como vai ficar. - Ele falou com um tom desafiador

-Okay. Calma, 40 ou 70 Watts?

-Olha aí. - Ele entregou um ferro de solda bege com uma liga azul nele, não era da mesma marca que ela costumava usar, mas é como dizem "um ferro de solda é um ferro de solda", na verdade ninguém diz isso e se você diz, sinto muito.

A mão dela não parava de tremer, ela se perguntava porque estava tão nervosa ao ponto de desenvolver um parkinson momentâneo, será que era por estar soldando pela primeira vez na frente de alguém? Talvez porque ela achava que era só uma iniciante, independente do que fosse ela estava pressionada e a única coisa que passou na cabeça dela foi: caguei a solda.

-Hmm. Eu não diria que está mal. Vamos deixar o Ronald julgar, ele adora julgar a solda dos outros.

-E o que ele diz sobre a sua solda?

-Que ela é péssima. - Os dois riram, ela menos do que ele, então a porta abriu

- Hamburguers! - Ele disse isso com a cara de quem já tinha comido sua parte e deixou o saco com o resto encima da mesa, se dirigindo para onde Atom e Catheryne estavam

- O que você acha? Acabei de soldar.

- Hmm. Na verdade está muito bom. -Ele parou por um momento como se estivesse pensando numa piada - Têm certeza que foi você?

- Não, na verdade foi a novata que fez. - Ronald voltou a encará-la com aquele olhar julgador

- Entendi, deixa eu ver como estão os cabos... - Quando ele puxou um dos cabos vermelhos daquele arco-íris de cobre o cabo se partiu com a solda, ele parou por um momento, Ronald e Atom se olharam e disseram em coro: Solda isso de novo

Agora ela estava muito menos nervosa, fez uma solda perfeita que os dois tiveram que esconder como ficaram impressionados e ficou com as batatas do lanche de Atom. E foi mais ou menos assim o primeiro dia de Catheryne na Academia Real de Inovações.

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⏰ Last updated: Nov 10, 2019 ⏰

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Lemon RainWhere stories live. Discover now