Capítulo Único

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    De mãos dadas, caminhávamos por aquela multidão que não parecia disposta a nos deixar passar. Era o primeiro show grande de um grupo de amigos nossos e queríamos estar na primeira fila, dando todo o apoio e atenção que eles mereciam. Era estranho sentir a mão de Luan tão firme, áspera e ao mesmo tempo confortável contra a minha, já que nunca havíamos sido próximos a esse ponto. Éramos amigos há alguns meses, havíamos nos aproximados por causa do trabalho, mas nunca fomos de sair juntos ou de segurar a mão um do outro por qualquer motivo que seja.

    Depois de alguns longos minutos tentando abrir caminho por entre as pessoas, conseguimos chegar num lugar legal de onde poderíamos ver o show tranquilamente. Por algum motivo, que ainda era desconhecido para mim, Luan não havia soltado a minha mão. Eu também sequer pensei em soltá-la. Apesar de estranha, a sensação era boa, era quase de familiaridade, mesmo que nunca tivéssemos feito aquilo antes.

    O show do nosso amigo começou e eventualmente nos desatamos para que pudéssemos erguer os braços e aplaudir. Podia sentir o olhar do moreno sobre mim em alguns momentos do show, mas evitei retribuir. Estava me sentindo estranha naquela situação. Ele era bonito, sabe, muito bonito na verdade. Mas era meu colega de trabalho. A gente se via todos os dias. Era uma situação complicada. Não sei se saberia lidar com aquilo, com aquela proximidade se, por algum motivo, nós… bom, nos aproximássemos mais, se é que você me entende.

    Ao fim da apresentação, encontramos outros amigos do trabalho, além do que cantava na banda, e decidimos ir comer algo, beber para comemorar o sucesso do show. Eu estava um pouco distraída, já que o comportamento de Luan estava meio que… anormal e não conseguia entender o que estava acontecendo. Bom, tecnicamente eu até entendia, só não queria aceitar. Não fazia sentido, sabe? Não posso negar que eu tinha muita vontade de ficar com ele, apesar de nunca ter demonstrado, mas definitivamente não era o tipo dele. Não. Ele gostava de mulher padrão, já havia deixado isso claro e… eu não era padrão. Pelo contrário.

    Acho que não cheguei a me apresentar devidamente, né? Bom, eu sou a Elena Heilel, tenho quase 26 anos e faz aproximadamente 84 anos que não me envolvo com alguém. Veja bem, não disse que não me interesso ou me apaixono, só não me envolvo. Você deve estar se perguntando o porquê disso, ou talvez isso não te interesse o suficiente, mas é simplesmente porque não me encaixo. Não sou o padrão de beleza definido por essa sociedade doente na qual vivemos e já ouvi muita coisa ruim por isso quando me permitia sair para o mundo e conhecer alguém legal. Então, para evitar mais sofrimento, acabei me fechando e desistindo. Ser gorda numa sociedade em que o certo é ser magra não era uma das coisas mais fáceis e agradáveis da vida, mas era o que tinha para o momento.

    Já Luan… Ele era o que o mundo esperava que um cara fosse. Exceto pela cor de sua pele, já que era negro. De resto, o homem ideal para olhos treinados pela intolerância, o que nos afastava quase que completamente. Ele era alto, forte e extremamente divertido. Era delicioso estar perto dele, porque não era possível ficar um segundo sequer sem rir. 

    Luan tinha a mulher que quisesse e eu não tinha ninguém já há muito tempo. Primeiro foi por escolha dos outros e agora por escolha minha. Ele gostava de um tipo de mulher que eu não poderia ser e já havia deixado isso mais do que claro durante as conversas que tínhamos, então ele demonstrar o menor interesse por mim realmente me deixava confusa.

    Enquanto minha mente voava completamente dispersa, pude notar Luan me encarando como se esperasse uma resposta. Abri um sorriso levemente culpado e sem graça antes de respondê-lo.

— Desculpa, tô viajando e não te ouvi. 

— Percebi mesmo —- ele comentou de maneira divertida. Certeza que eu o estava encarando enquanto viajava. -— Perguntei se você quer mais uma cerveja. 

Apenas um sonhoWhere stories live. Discover now