Capítulo I

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— Hoje está completando um ano e meio que ele se foi, mas parece que foi ontem que tudo aconteceu. Me disseram que com o tempo essa dor diminuiria, que essa ferida se cicatrizaria, mas não, a cada dia essa dor só aumenta e tudo vai ficando mais difícil. Tento seguir, finjo que estou seguindo a vida, mas sempre tem dias como esse, dias que parece que o meu coração está sendo arrancado do peito. Ele era o meu tudo e fico o vendo em tudo, como isso é possível? Como as pessoas podem ser tão cruéis a esse ponto? Depois disso minha vida virou de ponta cabeça, me perdi, meu marido mudou totalmente, ele nunca foi de demonstrar sentimentos, mas consigo ver como ele está igual a mim, não ele estar pior, porque se culpa e está destruído emocional e psicologicamente, não é o mesmo e nunca será. Hoje o nosso pequeno estaria completando quatro anos e é por isso que hoje é um dia tão difícil, muito mais que os outros. — Natasha diz com os olhos fechado e limpa as lágrimas

— É normal sentirmos mais saudades das pessoas que se foram em datas assim, principalmente sendo um filho. — A psicóloga fala a olhando — Você está indo bem, aos poucos está aceitando essa situação e seguindo sua v....

— Sempre fala a mesma coisa! — Natasha a olha — Não estou bem, não vejo avanço em minha vida e nem sei porque estou pagando psicólogo, não está me ajudando em nada. — Ela diz irritada

— Pode não ver, mas as pessoas a sua volta veem o quanto você melhorou desde o ocorrido. Acredite em mim, está muito melhor, teve enormes avanços.

— Não estou bem, finjo estar! Se estou mesmo tendo avanço porque essa dor não some? Como não diminui?

— Essa é uma dor profunda, por isso leva mais tempo. Natasha, essa dor não vai simplesmente sumir e sim amenizar.

— Estou cansada disso. — Ela levanta — Esperava que você pudesse me ajudar e vejo que não pode, não virei mais aqui.

Duas horas depois

— Danilo! — Natasha disse ao entrar em casa — Droga! — ela fala ao ver várias coisas da sala quebrada no chão e sai procurando o marido — Amor! — ela o encontra sentado no chão

— Sabe que dia é hoje? — Danilo fala embolada, segurava uma garrafa de uísque na mão direita e com a outra o celular

— Por isso quebrou a nossa sala?

— Ele tinha dois anos, hoje faria quatro.

— Eu sei. — Natasha sussurra — Levanta, vamos sair desse quarto.

— Aqui ainda tem o cheiro dele, posso escutar a risada do Dan. Ele era tão esperto, tinha um futuro inteiro pela frente, mas um desgraçado roubou nosso carro e não me deixou pegar o meu filho... Foi tão rápido Nat, sair do carro e ia pegá-lo, vi um vulto e o carro começou a andar... Juro que tentei abrir a porta e o tirar antes, corri atrás do carro... E.... — Danilo começa a chorar e beber o resto do uísque

— Não foi sua culpa.

— Ainda vou matar aquele desgraçado, não precisava matar o nosso filho, era uma criança indefesa, não saberia o reconhecer e....

— Chega! — Natasha pega a garrafa da mão dele — Você precisa de um banho gelado.

— Não preciso, me deixa!

— Não vou te deixar aí nesse estado, vou cuidar de você.

— Sai daqui! — ele grita

— Ok. — Ela suspira — Sempre acha que só você está sofrendo com isso, é egoísta e.... — Natasha respira fundo — Quebrar as coisas, encher a cara e ficar no quarto que era dele não muda a situação, não traz ele de volta.

— Acha que se tivesse um jeito de mudar isso, de o trazer de volta eu estaria nessa situação? Se pudesse trocaria de lugar com ele. Me deixa em paz, esse é o meu jeito de lidar com a dor, você tem o seu. Bebo e você se dopa com remédios para tentar fugir da realidade, me deixa.

— Não vou limpar sua bagunça.

— Sai daqui, Natasha!

Dia seguinte — Manhã

— Temos que conversar. — Danilo diz ao ver Natasha

— Estou ouvindo. — Ela o olha

— Vou limpar a bagunça de ontem e venho.

— Ok. — Natasha responde atenda a TV

— Espera, esse é o vagabundo que....

— Shiu! — ela prestava atenção na matéria

— Ele está sendo solto?

— Pelo que entendi o advogado dele recorreu a pena e ele pode ficar livre nesse tempo.

— É o que? Isso não pode ser verdade, esse país está perdido mesmo! O cara ficou só um ano e meio preso e vai ser solto?

— É réu primário, tinha 18 anos na época, pegou uma pena de seis anos e....

— Isso é injusto!

— Odeio esse país. — Natasha sussurra

— Eu.... — Danilo respira fundo — Vou matar esse desgraçado. — Ele disse muito irritado

— Pode por favor parar de dizer isso? Por mais que eu tenha sentimentos ruins por esse ser desprezível, matar não resolve a situação, pelo contrário.

— O nosso advogado não.... — O celular da Natasha toca

— Por falar nele. — Ela diz pegando o celular

— Eu falo com ele. — Danilo pega o celular e atende — Não pode deixar esse vagabundo livre, já não basta ele ter pego apenas seis anos.... Não tem como me acalmar... Se ele não ficar atrás das grades vai acabar dentro de um caixão... Nada vai trazer o meu filho de volta, mas se a lei desse lixo de país não fará justiça, matarei o cara... Ok. — Danilo desliga

— Estou começando a me preocupar com suas ameaças. — Natasha diz o olhando fixamente

— Ou ele fica preso, ou o mato. — Danilo diz rangendo os dentes

— Está mesmo acreditando em suas palavras?

— Não se preocupe, será menos um vagabundo no mundo, sou réu primário e pegarei pouco tempo, recorro a pena igual a ele e posso responder em liberdade ou regime semiaberto, vingarei nosso filho.

— Não quero que faça isso e o Daniel jamais ia querer isso.

— Não é por nenhum de vocês, é por mim.

— Meu Deus! — Natasha segura o rosto dele — Não pode tirar uma vida, não é certo.

— Ele tirou a do nosso filho e destruiu nossa vida.

— Isso não trará o Dan de volta, não diminuirá a nossa dor, não mudará a realidade, você vai ficar preso e fazer dois pais chorarem como choramos.

— Vão é me agradecer!

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Os capítulos são atualizados toda quarta e sexta.

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RecomeçoWhere stories live. Discover now