nem tão vazio assim

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ao deitar a cabeça no travesseiro, senti a profundidade colossal do abismo me envolver. com seus braços trêmulos em volta de meu corpo, o breu sussurrou palavras entoadas vagarosamente, terminando as frases com um suspiro intrigante, carregando consigo o que poderia ser... alívio. ou dor. pesar. um sentimento agridoce nos lábios de alguém que sabe que o melhor a fazer sempre foi deixar ir. por isso implorava-lhe. todas as noites. o barulho do choro cortante vindo do vazio sendo capaz de destruir a minha sanidade. só queria algo forte o bastante para romper as correntes trancadas no pescoço, ameaçando-me de morte a cada segundo.

talvez eu tenha achado esse algo, afinal. uma vez que, nesse ponto, ser abraçado pelo vazio não é algo tão assustador. foge da minha compreensão o modo como você se infiltrou por entre os nós desesperados da minha cabeça e remodelou a situação fazendo ser tudo sobre você. entretanto, é um alívio. em outras eras, talvez eu estivesse lutando contra isso e implorando às forças superiores do universo para te tirar do meu caminho, evitando o sofrimento unilateral que me perseguia. mas agora, tudo o que eu mais almejo é sair daqui com você para qualquer lugar onde possamos juntar nossas linhas e dissipar nossas sombras. e fazer transbordar um no outro a euforia que somente existe quando nossas almas se sintonizam.

respire fundo. nós vamos fugir desse lugar horrível. ir direto pro fim do mundo, onde ninguém possa nos achar. onde eu possa juntar meu olhar com o teu e sentir a eternidade presente em teus traços abraçando minha pele. onde nós possamos correr como as crianças bobinhas que somos, transformando o tão impiedoso fim do mundo em um refúgio indestrutível. talvez seja esse o nosso propósito. transformação. dos meios em que convivemos, de músicas e momentos, transformação total de alma. porque foi isso que você, até sem perceber, fez. obrigado por reconstruir cada centímetro de mim.

quando nossos dedos se entrelaçam, sinto todas as partes que faltam em mim se preenchendo. como se o formato do seu coração fosse feito especialmente para encaixar no meu. como se nossas linhas se amarrassem e não existisse a possibilidade de rompimento. e eu não quero que se rompam. nunca. eu preciso de você comigo pra todo sempre e muito, muito mais do que isso. me viciei na sensação de amar você com tudo de mim e, sem me dar conta, me deixei levar por cada palavra saída de sua boca.

por sua causa, pela primeira vez em um bom tempo, tenho medo de morrer. pensamentos que antes me atormentavam hoje não passam de momentos rápidos que se dissolvem no meio das nossas risadas se misturando e nossos dedos se juntando. nos tornamos um. e isso é a melhor coisa do mundo. é a melhor coisa do mundo finalmente poder confessar-me. confessar cada poema e cada música dedicada timidamente a você. confessar tudo o que eu senti em todo esse tempo e reprimi pelo medo desesperado e ingênuo da rejeição. poder gritar que, sim, tudo sempre foi sobre você.

fim do mundoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora