E cá estava eu, mais uma vez no shopping, sentada em um dos bancos em frente ao refeitório. Gostava de estar cercada pelas pessoas, apesar de ninguém poder me ver, diminui a solidão de ser um fantasma. Sim, coitada da Jade, a fantasma. Afinal, não é todo mundo que tem a sorte de ter uma morte precoce, e melhor, ficar presa nesse mundo. Infelizmente acho que vou permanecer por um bom tempo aqui, não lembro se quer de onde morava. Como vou superar um ressentimento se não sei qual é ele?
Uma das minhas amigas fantasmas, Caroline, me disse que isso acontece quando você tem uma morte repentina e brutal. Isso é sem dúvidas reconfortante.
Sigo observando o fluxo das pessoas. Os casais, as crianças, o grupinho de amigos indo ao cinema. Queria ao menos ter algumas dessas memórias. Será que já me apaixonei? Será que eu namorava? Tinha amigos? Isso é angustiante, nem meu sobrenome sei. Sou apenas Jade.
Uma família passa ao meu lado. Pai, mãe e duas filhas. Uma das garotas estava levando um cachorro na coleira, e como de costume, ele sentiu minha presença, começando a latir em minha direção.
- Oi auau – Disse, dando um aceno para ele.
Sim pessoas, não é apenas mito. Cachorros realmente são sensitivos, alguns podem até nos enxergar. Então se seu dog estiver latindo para o nada, se preocupe. Ou não, muitos fantasmas são bonzinhos, eu sou uma prova.
A família que estava com o animal olhou na direção em que o cachorro estava latindo. No caso, para mim. Mas como sempre, eles franziram o cenho, afinal, havia nada ali. Após alguns segundos, pegaram o cachorro no colo, e seguiram caminho.
Apenas bufei e cruzei os braços.
Logo, um casal senta no banco que eu estava, bem ao meu lado. Ele era um jovem moreno, de cabelo ralo e forte. Eu com certeza pegaria um desse, se estivesse viva – fato curioso, a maioria dos fantasmas mulheres tendem a ser taradas, então cuidado, pode ter um espírito de olho no seu namorado agora.
A moça também era atraente. Eles faziam um casal bonito.
— Então, comprei algo pra você – Ela disse, com um sorriso malicioso para ele.
— Hmmm, interessante – Cruzei as pernas, me virando para eles.
— Mesmo, o quê? – Ele perguntou, passando a mão pela coxa dela.
— Uii – Disse — Tá aqui a minha, gatão.
Ás vezes o fato de que ninguém te escuta ou te ver é positivo, você pode fazer ou falar qualquer tipo de bobagem, que quando viva, não poderia. Por exemplo: me atirar descaradamente em homens comprometidos.
— Vou te mostrar mais tarde. Vai passar lá em casa de noite, né? – Notei uma breve mordida de lábio da moça. Casal fogoso, gostei.
— Safados, planejando a transa no meio da praça do shopping – Comentei.
Algo que peguei mania, eu fico narrando as conversas alheia. Ajuda a passar o tempo, o que acaba sendo muito útil quando você tem a eternidade pela frente.
— Claro amor, não perco por nada – O moço respondeu, dando uma leve apertada na coxa dela.
— Ai Deus, eu só queria um moreno desse – Suspirei, enquanto olhava para seus músculos expostos, já que estava usando uma regata.
— Jade? – Meu nome é ecoado logo atrás de mim. Rapidamente reconheci a voz, era Caroline, uma das minhas amigas fantasmas.
— Oii – Respondi, me virando para ela.
— Porque está aí só? Estamos te esperando no Mc Donalds.
Outro fato curioso, o ponto de encontro de muitos fantasmas de Pheonix é o Mc Donalds do shopping central. Não sei ao certo porque, mas é isso.
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As Particularidades do Amor
Teen FictionJade tem 21 anos e em toda a sua vida morou na cidade de Pheonix, Arizona. Uma moça bonita, simpática e adorada por todos, era dessa forma que as pessoas a definiam - quando ela estava viva. É, isso mesmo. Jade morreu há cerca de um ano e hoje vive...