Ninguém importante

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NOAH URREA

Mais uma sexta-feira da minha vida em que posso me desvencilhar totalmente da minha casa. A pedidos do meu pai eu não iria a nenhuma festa, porém isso não significa que não posso trazer a mesma para a minha casa. Bom, ainda não posso dar o luxo de chamá-la de minha porque ele sempre deixa claro que tudo isso é do bolso dele e que terei de estudar ou estar no mesmo lugar que o próprio para ter o mesmo sucesso. Sinceramente eu não vejo a menor graça em usar o mesmo terno todos os dias para estar sentado atrás de uma mesa, esperando as reuniões acontecerem ou papéis a serem assinados. Embora seja importante a presença dele na empresa, não é necessária. Ken poderia colocar um substituto no lugar dele e continuaria ganhando da mesma forma.
Mas depois que a minha mãe morreu ele passou a dedicar todo o seu tempo a empresa, como uma forma de manter a sua cabeça ocupada. Já eu pude fazer isso de uma outra forma e não quero me afastar dela tão cedo. Diferentemente dele eu estou vivendo a minha juventude. A maior parte do seu tempo quando tinha a minha idade era dedicado a sua faculdade de administração. Mas não foi o suficiente para ele então quando a terminou, passou a cursar direito e desde então a sua vida sempre foi baseada em estudos e dinheiro. A minha não é tão diferente, embora os estudos já não façam parte da minha vida a muito tempo.

                  ──── Bom dia, Salete. ──── Me coloquei atrás da mais baixa, deferindo um beijo conta a sua bochecha.

    A Salete é a governanta da casa. Sem ela eu não sei como seria a minha vida ou a do Ken e sinceramente eu prefiro pensar dessa forma, não sabendo. Ela é como uma mãe para mim, está nessa casa desde que os meus pais se casaram e se a minha mãe estivesse junta até hoje, eles estariam completando quase vinte e cinco anos de casados. Ela está aqui a muito mais tempo do que eu e em nenhum momento penso em dispensa-la, muito pelo contrário.

       ──── Você já comeu alguma coisa, Noah? Nem consegui ver o horário que chegou em casa. ──── A sua voz é calma e consequentemente consigo ser calmo com ela.

          ──── Já disse que não precisa ficar esperando eu voltar. Você sabe que eu sempre volto. ──── Ergo as sobrancelhas, me sentando sobre o banco à frente daquela bancada, segurando um dos biscoitos que ela havia acabado de assar. Sei disso por conta da temperatura dos mesmos.

           ──── Eu já tentei não ficar preocupada, mas não é fácil. Custa avisar ou chegar um pouco mais cedo? ──── Ela repousou uma xícara de café preto à frente do meu corpo, me fazendo suspirar profundamente.

         ──── Sinceramente? Custa. ──── Levanto um pouco do meu café, levando a minha mão até a minha testa ao sentir uma leve dor na minha cabeça. Ressaca de cada dia. ──── E cadê o velho?

──── Seu pai saiu cedo para a empresa, como sempre. ──── Até mesmo Salete sabe como isso chega a ser insuportável. Longe de mim viver uma rotina dessas. ──── Você vai comer fora hoje?

──── Sim e você vai pra casa. ──── Bebo devagar o café daquela xícara. Me levanto da cadeira, indo até a pia, lavando aquela xícara branca rapidamente. ──── A arrumação já chegou? ──── Ela assente enquanto me direciono até a própria, beijando fortemente a sua bochecha. ──── Eu te amo. ──── A Salete é a única pessoa que escuta isso de mim. Eu não digo nem para o meu pai. A receptora disso era a minha mãe.

Seguro as chaves do meu carro, saindo daquela casa. O meu carro é um Rubicon Jeep preto. Eu tenho uma paixão por carros altos e foi o primeiro e único presente que o meu pai me deu quando completei vinte e um anos. Adentro ao meu carro, colocando o cinto de segurança e em segundos arranco com o mesmo dali. Eu estou faminto e biscoitos e café não foram o suficiente para a minha fome. Em poucos minutos estacionei o carro a frente do estabelecimento, descendo do carro, alcançando a porta do restaurante após fechar as do automóvel. Entro naquele local, indo até uma das mesas. O restaurante não está muito movimentado, já que isso conta no início da noite, por exemplo. Conduzi os meus dedos as minhas madeixas, podendo erguer a minha mão para a garçonete.
A mesma possui cachos bem definidos porém os mesmos estão presos em um coque, porém existem alguns fios caindo sobre o seu rosto. A sua pele é morena e os seus olhos são castanhos assim como os seus cabelos. O seu perfil entrega a sua nacionalidade e principalmente o seu sotaque quando vai atender os clientes. Mais uma vez levantei a minha mão em direção a ela afim de chamar a sua atenção. A mesma caminha em minha direção com um sorriso estampado em seus lábios e aquilo foi o suficiente para me fazer sorrir também.

A PropostaWhere stories live. Discover now