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     _ Dá pra levar minha mochila, Isao? Tô apertado pra ir no banheiro e correr com peso não é nada legal.

     _ Tu é um folgado, C. Neto. Vai lá Topetudo aproveitador, travestido de melhor amigo.

     _ Tudo bem, Isao. Não vou mais. Agora vou mijar na tua perna.

     _ faça isso C. Neto e espalho pra toda escola que você participava de concursos de peidos mais altos nos acampamentos de férias que íamos juntos.

     Vê-lo correr pelo corredor já desesperado foi muito engraçado. Assim que ele sumiu do meu campo de visão, Malik, o garoto novo, entrou. Lhe dei um tchau e ele fez de conta que eu era o maior buraco negro do universo, e ao ajeitar sua mochila no ombro, ele fez questão de quase me atingir. Aí pra disfarçar a grosseria dele...

     _ Te entendo, cara. Aula de Literatura no último horário de quarta-feira, ninguém merece.

     Ele apenas ergueu a mão esquerda, esticou o dedo do meio, rodou no ar e disse:

     _ Acha outra pica pra se empalar, Japa.

     Comecei a gargalhar e ele se foi. Alguns amigos passaram por mim e quado já estava tirando a corrente da minha bike, o C. Neto praticamente correu na minha direção.

     Oi, turma. Eu sou o Isao... Mais isso não é relevante. O que é realmente relevante é vocês saberem que eu sou um Japa totalmente diferenciado de muitos que andam por aí, beleza?... Odeio eletrônicos, não gosto de ficar no celular o dia todo e não sei comer com pauzinhos como todos da minha espécie. Esse pequeno detalhe devo a todos os familiares nojentos da minha mãe, que jogaram a coitada na rua, só porque ela decidiu me ter. Por falar em minha mãe, a D. Saori Kazuaki, eu e ela moramos na esquina do Colégio. Acho que sou o único cara da turma que dorme praticamente em cima da escola e não tem pesadelos com ela. Fiz os famosos 18 anos bem na virada do Ano Novo. Acho que nascer no primeiro dia de cada ano novo me tornou um cara totalmente da paz, e um pacifista não declarado.

     Nunca conheci meu pai. Acredito que ele deve ser um tipo que daria muito certo com a família da minha mãe, e juro pra cada um de vocês que isso nunca me fez falta. Ela jamais falou nele, e eu pra respeitar sua posição diante desse armário das nossas vidas, deixei pra lá. Meu amigo finalmente chegou e tratei de sentar no selim da bike...

     _ Cara, tu tem que parar com as cervejas. Vovó Chantal devia te ensinar a beber vinho.

     _ Vai sonhando, Japa. cara, eu tava apertado desde que a gente começou a última aula. Graças a Deus terminou o dia.

     _ Nada disso. pelas minhas contas ainda faltam oito horas e quinze minutos para isso acontecer.

     _ Tu é irritante, Isao. Tava falando do dia de aulas.  

     _ E eu, meu caro amigo, do dia em si. Vai esperar o Batista?

     _ Vou, né. Se essa droga de bike tivesse uma garupa, bem que tu podia me levar em casa.

     _ Faça-me Rir, C. Neto. Olha teu tamanho, tua grossura, o peso dos teus livros e as coitadas das minhas canelas finas... Sem chance, amigo. Acho que não chegava nem na calçada do meu  prédio.

     _ Cara, na boa... Tu é mesmo um Japa bem diferente.

     _ Nesse quesito vou concordar. E aquele novato? O que tu achou dele?

     _ Seja específico, Isao. Qual deles?

     _ O que peitou o Davi na aula de Trigo...

     _ Alto, forte, olhar penetrante, voz grave e...

Ponto de Fusão  - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora