Para cada dia...

3 0 0
                                    


Para cada dia, uma possibilidade. Esse era meu pensamento todos os dias ao acordar, mas alguma coisa mudou depois do dia fatídico. Essa história que vou contar é para mostrar como que uma escolha, nem que seja a mais simples delas, pode fazer toda diferença no final. Tudo começou na primeira semana de setembro de 1994, meus pais estavam super eufóricos pois a qualquer momento, poderiam ter a grande revelação que esperaram por tanto tempo: qual era o sexo do bebê que eles estavam esperando. Ocasionalmente isso viria junto com o nascimento do bebê, meu nascimento no caso, pois eles quiseram descobrir isso só depois que eu nascesse. Meu pai queria uma menina, minha mãe dizia que só queria que o bebê viesse com saúde, mas lá no fundo, ela também queria uma menina. Bem, para o azar deles, ou sorte, não sei, nasceu um menino, um lindo e adorável bebê que eles decidiram chamar de Juliano. Como eles queriam uma menina e colocar o nome dela de Juliana, já que tiveram um menino, não iam desperdiçar um nome tão bonito e bem calculado.

Mas, por que eu estou contando esse início da minha história para vocês? Por que tudo culminou para o centro dessa história que estou contando. Bem, meu início foi bem comum, várias pessoas tiveram o mesmo início que eu, e minha infância foi bem simples, por assim dizer, mas, quando minha irmã nasceu em 2000, bem, já dá para imaginar como as coisas mudaram aqui em casa. O lindinho da família já não era mais notado. Para chamar atenção, eu arrumava confusão na escola e era sempre chamado para a diretoria, meus pais eram chamados na escola e os diretores diziam para meus pais para me darem mais atenção, afinal de contas, eu era um bom garoto, só queria chamar a atenção deles. Bem, claro que eles não davam ouvidos a isso, e quando eu chegava em casa, meus pais já chegavam dizendo:

Você é um ingrato, um egoísta! Não vê o trabalho que temos com a sua irmã? Não pode se comportar na escola? Você não é mais uma criancinha.


Bem, depois de um tempo, eu desisti de chamar a atenção deles. Eu resolvi conquistar a vida do meu jeito. Queria ganhar o mundo com aquilo que eu realmente era bom: Escrever. Eu mandei para a minha professora de redação um dos meus contos sobre a vida e ela adorou. Mandamos para um concurso literário e meu conto foi para a final. Era para irmos para outro estado, fiquei com medo de meus pais reclamarem ou não permitirem que e fosse para a final, mas não sei porquê me preocupei, eles nem se importaram, parecia que eles queriam mesmo me ver longe para poder viver a tão sonhada família deles, família essa no qual eu não me fazia presente.

E chegamos ao ponto chave que realmente inicia a nossa história. Um dia antes de ir viajar, eu tive um sonho, onde eu recebia um recado da diretora dizendo que algo realmente diferente poderia acontecer caso eu fosse viajar. Eu tinha uma escolha a fazer: Ir para a final do concurso literário, ou ficar com meus pais? Coloque na balança, você vive em uma casa onde as pessoas não se importam com você, você tem uma oportunidade de ser notado por algo que você realmente é bom, o que você escolheria? pois é, foi exatamente o que eu escolhi. No dia seguinte, mesmo com esse sentimento de mal estar, eu fui para a escola. A professora que me acompanharia na viagem, iria me buscar lá para me levar para o aeroporto. Meu pai me levou até a escola, ao se despedir, ele nem olhou para mim, só disse:

Tchau filho, tenha uma boa viagem.

Pegou o telefone e ligou para a minha mãe para saber como minha irmã estava. Naquele dia, eu estava cansado, me sentia como se não pertencesse ao lugar onde eu vivia. De qualquer forma, fomos para o aeroporto, entramos no avião e foi uma sensação incrível. Eu nunca tinha entrado em um avião antes. A viagem estava indo muito bem quando o capitão do voo disse:

Atenção passageiros, fiquem em seus lugares, vamos passar por uma zona de turbulência.

Eu fiquei um pouco nervoso, mas resolvi me acalmar. Minha professora disse que isso era normal, que acontecia as vezes em voos naquele período do ano. No entanto, quando passávamos por uma nuvem, um raio atingiu o avião e o mesmo teve um pane nos sistemas de voo. As máscaras caíram de cima dos nossos assentos para nos poupar no caso de descompressão, nós estávamos nervosos, parecia que a vida iria acabar ali, e eu tinha a sensação de que ninguém sentiria minha falta. No entanto, após um voo cheio de nervosismo, o avião conseguiu fazer um pouso emergencial e nós descemos dois estados antes do que estávamos programados para ir. Enquanto a professora ligava para a escola e para o comitê do concurso para avisar de nosso possível atraso, Eu comecei a pensar sobre como meus pais se sentiram ao saber sobre tudo o que aconteceu. Será que ficariam preocupados, será que iriam querer que eu voltasse? Bem, como eu imaginava, minha professora me disse que os meus pais não tiveram nenhuma reação de preocupação e só disseram para me levarem para casa inteiro se possível.

Quando finalmente chegamos ao lugar onde seria a final do concurso, eu me vi em situações incríveis. Eu nunca imaginei que iria me sentir tão bem como me senti naquele dia. Meu conto infelizmente não venceu o concurso, mas eu nem estava mais preocupado com isso. Eu só queria me divertir e viver aquele momento mais e mais. Infelizmente nem tudo que é bom dura para sempre. Chegou a hora de voltar e resolvemos voltar de ônibus pelo menos até a metade do caminho. Minha professora estava com medo de voltar de avião depois do que aconteceu no nosso último vôo. Infelizmente, nossa volta não se mostrou muito melhor. Passamos por lugares que tinham muitos buracos e em beiras de serras. Quando estávamos passando por uma, sentimos o ônibus tombar. Havia chovido muito naquele período e aquele lugar estava com risco de deslizamento. Bem, nem preciso dizer o que aconteceu né? Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Não tivemos tanta sorte dessa vez.

O ônibus tombou e caiu cerca de 500 metros até o chão. Muitas pessoas ficaram feridas, dentre elas a minha professora, eu já não tive a sorte de ter um "ferimento leve" depois de vários ossos quebrados, eu entrei em coma e fui levado para o hospital mais próximo. Eu acordei depois de 3 meses com a minha professora ao meu lado no quarto do hospital. Quando melhorei, resolvi perguntar a ela sobre meus pais, ela me disse que, quando a escola disse o que havia acontecido, meus pais desligaram o telefone na cara da diretora e sumiram do mapa. A escola não sabia o que fazer comigo, então cuidaram de mim enquanto eu estava no coma e resolveram me entregar para a adoção logo depois. Meus pais seriam procurados por abandono de menor e eu seria encaminhado para outra família. Uma simples escolha, ir ou ficar. Acredito que muitos de vocês devem estar pensando: Nossa Juliano, seria melhor ter ficado. Mas será que teria sido mesmo?

Depois que voltamos para o nosso estado, eu descobri que o sonho da minha professora era ter um filho. Ela conseguiu me adotar e cuida de mim até hoje, mesmo eu já tendo meus 26 anos. Eu terminei meu ensino médio e consegui uma bolsa na faculdade, ter uma mãe professora tem seus benefícios né. Eu concluí a faculdade e comecei a escrever meu livro. Hoje, sou formado, faço muito sucesso na área da literatura. Consegui viver a minha vida de forma que nunca imaginei. Basicamente, já dizia o ditado: "Há males que vem para o bem." Mas, a frase que disse para vocês no início teve um novo significado depois do acidente. Todo o dia uma nova oportunidade. Quando eu digo isso, parece que todas as escolhas que fizer vai dar certo, e que se não der vai ser um aprendizado, mas eu entendi depois desse dia do acidente, com esse coma de 3 meses que na verdade, nem sempre a escolha vai ser certa ou errada, as vezes a sua escolha vai ser só um caminho. Talvez se eu tivesse escolhido ficar em casa, eu nunca teria passado pelo acidente, mas viveria miseravelmente com pessoas que não me amavam. Foi necessário passar por tudo isso para poder ter a oportunidade de ser feliz. Então, basicamente é isso, nem sempre suas escolhas vão ser as melhores, as vezes o resultado deles vai doer, mas elas sempre vão te levar para algum lugar. O que penso hoje em dia não é mais: Para cada dia, uma nova oportunidade. Hoje em dia o pensamento é: Para cada dia, um novo caminho.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Feb 04, 2020 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Para cada dia...Where stories live. Discover now