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     " Fiz isso mesmo? "...

     " Não, isao, seu idiota... Claro que você fez, garoto "...

     " Só que... E agora? O que vai acontecer quando voltar a vê-lo novamente? "

     Dei graças a Deus quando fechei a pesada porta da entrada e me encostei na madeira maciça  e dei uma boa olhada naquele imenso lugar silencioso. Mamãe tinha a mania de deixar uma pequena lâmpada acesa e ela era a única luz guia que tive até chegar no primeiro degrau da escada.

      _ Uma pena a senhora estar dormindo, mãe. Nós ganhamos...

     Sorri com a loucura que pensei fazer assim que passei pela porta do seu quarto. Era uma loucura legal, se é que é legal acordar com um louco gritando dentro de casa e pulando em cima de você que está debaixo das cobertas num sono bom e profundo. Segui pelo corredor e logo abri a porta do meu quarto.

     _ O que você fez, Isao? Foi a pergunta que voltei a me fazer, com outras palavras, enquanto me despia. Não tive vontade nenhuma de me despir... Não sei se vão lembrar, mas... Foi com essa roupa que o abracei, pulei, e lhe dei um beijo na bochecha assim que ele parou o carro e disse que teríamos que nos despedir...

     _ Bem que as noites poderiam ter mil anos que nem nos contos de fadas. Droga de realidade, que não nos deixa em paz... Sonhar em paz.

     Coloquei toda a roupa, mesmo a contra gosto, dentro do cesto vazio para roupas sujas que a fiel Lili esvaziava todo santo dia e regulei a ducha para o mais quente que pudesse. E Rassul, o Sr. Vilella Parker entrou junto comigo no box.

     O cara tinha o riso mais sedutor, malicioso, tesudo que eu jamais vira num outro garoto... garoto não, Isao... Homem. Num outro homem, idiota...

     E o olhar do cara? Sorte do Malik,... E inveja do Malik... Tinha o cara lá todo o tempo, toda hora e que bom que o Malik era filho dele... Caso contrário, que chance eu teria com um cara daqueles? Nenhuma, né Japa sonhador?!!!

     Ele deve ter notado que eu não tirava os olhos deles lá no estádio, e sempre que um amigo dele aparecia e vinha cumprimentar, eu tinha vontade de dizer que ele estava acompanhado... Povo entrão da porra. 

     _ Droga... Tô fodido, vida. Sabia disso? Tô fodido e apaixonado pelo pai do meu mais novo amigo, que até bem pouco tempo atrás me mandou fazer uma coisa que bem que poderia ser uma verdade se eu tivesse uma mísera e pequena chance com o seu pai...Rsrsrsrsrsrsrsrs...

     Terminei o banho e vesti apenas o moletom preto que adorava usar pra dormir. Dei uma olhada no celular e haviam apenas algumas mensagens da turma da escola, alguns poucos amigos das redes sociais que queriam saber onde eu estava e o que estava fazendo pra sumir por tanto tempo... E logo o larguei na mesa de cabeceira. Assim que me virei e mentalizei mais uma vez o seu rosto... Dessa vez ele estava bem sério... E com o olhar super penetrante, como se quisesse me intimidar... O celular chamou. Olhei no visor e um segundo toque se deu. Não reconheci quem poderia ser o dono do tal numero, sentei com os olhos pregados na tela e tentando lembrar de quem poderia ser o numero em questão... E o terceiro toque me fez dizer...

     _ Oi.

     * Acordei você?

     _ Ô, cara... Tu ligou o numero errado e eu já tava dormindo...

     * kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... Sério, Isao? Sou eu, parceiro. Rassul.

     Quando ele disse o nome, apesara de ter reconhecido a gargalhada, eu fiquei mudo. tava cheio de vergonha. Que fora...

     * Isao?!!! Esqueceu que fomos ao jogo de basebol e fomos campeões? E ele voltou a rir abertamente enquanto esperava minha próxima fala.

     _ Claro que não, Sr. Parker. É que... Desculpa se fui grosseiro com o senhor assim que atendei, e...

     * E mais nada. Esqueceu que a gente já tinha combinado que esse lance de Sr. Parker, Seu Rassul... Nada disso ia dar certo entre nós? Agora voltando ao início da conversa, desculpa se acordei você.

     _ Eu menti. Acabei de vestir a calça do pijama e estava vendo se havia alguma mensagem no celular. Quando virei pra dormir, você ligou. Aconteceu alguma coisa? É... Quer dizer... Como você tem meu numero? Eu não lembro se a gente trocou numero de telefones?!!!

     * E não trocamos mesmo. O que acho imperdoável. mais o destino parece que nos quer em contato. Você esqueceu sua carteira de cédulas no piso do carro. Não me pergunte como ela foi parar lá. Eu só fui ver quando meu celular chamou, e quando abri o porta luvas, eu a vi no chão. E pra terminar o relato, a gente tá se falando de novo.

     _ E isso é algo bom? " PORRA ISAO... QUE PORRA DE PERGUNTA É ESSA, JAPA? "

     * Oi? O que você perguntou, parceiro?

     _ Eu só disse que foi bom você ter achado minha carteira. Ia ficar louco atrás. Valeu, Rassul.

     * E como faço pra te entregar? Se você quiser, eu peço pro Malik levar pra você na escola...

     _ NÃO... É... Desculpa... Não precisa. A gente não pode se ver logo mais? 

     * E não vai ter problema? É... A Saori pode pensar que...

     _ Relaxa, parceiro. Todo domingo rola lá no Clube da Orla um almoço bem família. Vovó Chantal, Tia marina, minha mãe e as ditas crias sempre se grudam aos domingos. Você bem que poderia ir pra lá... Com o Malik, claro, e a gente poderia passar o dia juntos... Todos os amigos juntos. Agora me diz se é ou não uma boa ideia?

     * Só tem um problema, Isao.

     _ Tô ouvindo...

    * Eu ainda não fui aceito como Sócio. Já mandei proposta e tudo. Só que tem que passar por um Conselho do Clube e...

     _ Considere-se Sócio, Rassul. A linda e eficiente Saori Kazuaki, que por uma incrível coincidência é a minha mãe, é uma das Diretoras do lugar. Como Sócia, ela pode indicar quantas pessoas quiser. Você já pode se considerar um Sócio do lugar. Agora sua vez...

     * Rsrsrsrs... Tô ouvindo...

     _ Você pode se juntar a nós logo mais? Juro que se ele pudesse me ver, ia me ver com os dedos cruzados e um sorriso bem grande na boca.

     * Tudo bem. me manda uma mensagem assim que estiverem de saída e chego junto em dois tempos. O meu apartamento é na Avenida atrás do Clube.

     A gente ainda se falou por mais uns cinco minutos e pensar nele até dormir foi a cereja do bolo daquele incrível sábado/começo de domingo.

*

     Assim que cheguei em casa fui direto no quarto do filhão...

     _ Onde já se viu, o mais novo na rua até essa hora, e seu velho pai em casa. Mundo louco...

     Segui direto pro meu quarto e comecei a tirar a roupa. Tava feliz, ainda excitado com tudo que havia acontecido no estádio, e com um sorriso largo no rosto por pensar nele... Isao Kazuaki.     Que garoto lindo. Meio atrapalhado, meio cômico. Claro que ele era também super esperto, e quando disse... E isso é algo bom? Quando ele respondeu a minha pergunta com outra... E logo depois tentou encobrir a própria fala, tive certeza que eu não estava vendo elefante voando sozinho. 

     Durante o banho... Sorri... E ele me fez companhia o tempo todo, e quando lembrei do seu beijo na minha bochecha... Nossa... Eu senti minha pele vibrar com o seu toque. Logo afastei o louco pensamento da mente, e finalizei o banho quente que tava também muito bom. Desliguei a ducha e me enrolei na toalha após me enxugar. Logo eu segui pro closet... E vesti minha cueca. Olhei pra mesinha de cabeceira e lá estava o seu celular. Fui até lá e o acionei. Logo seu rosto apareceu quase diante de mim...E essa foi com certeza a última visão que tive antes de finalmente dormir.

Ponto de Fusão  - Romance GayWhere stories live. Discover now