A Verdade dos Ventos

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Um dia, dois ventos se encontraram. Um deles era quente, manso que só. Vivia perto do chão e cantava entre as árvores. O outro, frio e teimoso, adorava soprar forte lá no alto, no meio das nuvens.

O Vento Quente perguntou a Frio por que ele não parava quieto. A resposta foi simples, que vida precisa ser sentida. O vento quente não entendeu, disse que para sentir a vida é preciso parar para olhar o que existe em volta, ver as árvores, ouvir os animais e até escutar as fofocas da floresta.

- Fofocas da floresta? – Perguntou o Vento Frio – Eu não tenho tempo para isso. Aqui em cima não tem árvores, no máximo alguns pássaros. Eu tenho muito trabalho a fazer, levando nuvens de um lado para o outro, sabia? Fora isso, a vista daqui de cima é fantástica e nada se compara a essa liberdade.

- Nada disso! – disse o Vento Quente na forma mais calma que você pode imaginar - Você não consegue enxergar nada lá de cima, não sabe o que se passa. Vem comigo! Eu posso te mostrar. Olhar tudo com calma é muuuuito melhor.

- Melhor para quem?

O Vento Quente ficou chateado com a pergunta, segurou o Vento Frio e arrastou até lá embaixo.

- "Está vendo? Olha que maravilhoso é aqui embaixo, com toda tranquilidade você vai entender tudo.

BUUUUM, um estouro veio do céu. A nuvem que o Vento Frio carregava estava cada vez mais agitada por não sair do lugar. Ficava cada vez maior e começava a lançar trovões.

O Vento Quente não gostou nada, mas não havia o que pudesse fazer. O Vento Frio, por sua vez, pedia para que o Vento Quente o deixasse ir. "Mas tem tanta coisa que você ainda não viu", dizia o Vento Quente.

- Olhe ao seu redor. Por onde eu passo os animais ficam tremendo. Eles não gostam tanto assim de mim, na verdade, esse não é meu lugar, eu preciso voltar. Você não viu aquele humano? – continuou – Ele até se trancou em casa.

O Vento Quente não aprendeu. Apesar de tudo o que estava acontecendo, ele não entendia. Era verdade que, para ele, andar por entre as árvores fazia bem, que as plantas e animais gostavam dele. Com o Vento Frio, porém, era diferente! Até as árvores estavam perdendo folhas. Saía fumaça da respiração da senhora esquilo de tão frio que estava. O Vento Frio precisava ir urgentemente.

Com tudo isso, o Vento Quente se desgastou. Ficou pequeno diante de tudo o que havia ao redor. O Vento Frio, por sua vez, aumentava em tamanho e em impaciência. Ele teve que ir, já era tarde.

O Vento Quente aprendeu da pior forma. Nossas verdades existem, assim como as dos outros. Minha verdade não diminui a sua, talvez, elas só não vivam no meio ambiente. Nós ficamos pequenos quando impomos nossas verdades, gerando desequilíbrio. Por fim, o Vento Frio conseguiu voltar a tempo para continuar a levar sua nuvem. O perigo dos trovões foi embora, assim como a amizade que o Vento Quente poderia ter tido com o Vento Frio. 

A Verdade dos Ventos [Conto Infantil]Where stories live. Discover now