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     Após voltar a perguntar o porquê de Fedão ter sido avisado sobre a ida de Saori ao hospital, um silêncio ensurdecedor foi verificado na iluminada suíte do Hospital Samaritano de Savana. Saori levantou da cama e sentou numa das duas poltronas que tinham no arejado quarto. Isao acompanhou todos os seus movimentos, bem como Federico, que parecia não estar se importando com a raiva que o amigo deixava emanar de seu corpo. Por fim a bela Saori Kazuaki disse:

     _ Isao... Eu posso lhe dar todas as respostas que você queira ter, meu filho. Só que para poder te contar tudo desde o começo, a gente deve voltar um pouquinho só no passado.

     _ O que a senhora quer dizer com isso, mãe?

     _ Vocês podem sentar, por favor?

     Federico deixou a poltrona ao lado da mãe do amigo a sua disposição e sentou na cama. Ela lhe olhou com o mais terno olhar e sorriu levemente, como se agradecesse a ele a gentileza feita. Ele retribuiu o sorriso e Isao o encarou surpreso.

     _ Acho que as lembranças começam quando no seu primeiro dia de aulas a gente conversou como sempre fazemos e você foi categórico em afirmar que eu precisava arranjar um namorado. Isso por si só já pode ser o final de tudo isso, e do porquê estarmos aqui hoje... Só que a coisa não é tão rápida assim. Pelo menos nas nossas vidas, meu amor.

     _ Então a senhora quer me dizer que o Fedão é seu namorado e...

     _ Não, Isao. Eu quero dizer que segui o seu conselho e fui a luta. Você, com sua dica, me assustou... Olhei pra trás, meu passado, e logo voei para o meu futuro e me vi sozinha e provavelmente cercada por netos... Sozinha, Isao. Eu sempre fui uma mulher sozinha, filho. Seu avô e sua avó sempre se preocuparam mais com sua tia que comigo. Quando eu conheci seu pai... Eu pensei que finalmente alguém iria me querer e proteger contra tudo e todos. Aí mais uma decepção aconteceu... Só que dessa vez eu não estaria mais sozinha. Eu teria você e seria capaz de qualquer coisa pra te proteger, amar e te mostrar o que fazer e como agir diante da vida. Meu mundo é você, Isao... Só que logo percebi que poderia caber mais gente nele. E você sabe que muitas pessoas chegaram e hoje elas fazem parte de nossas vidas e são nossa família. Pela primeira vez eu me senti plena. Eu tinha vencido muitos obstáculos, eu era alguém porque tive ajuda, e você é a engrenagem principal que fez e faz tudo isso estar sempre em movimento.

     Isao limpou as lágrimas que desceram pelo seu belo rosto, e fedão tava fungando há muito tempo. Saori voltou a respirar fundo e disse:

     _ Foi na saída do supermercado, no mesmo final de semana em que você foi ao jogo final do basebol, que encontrei com o Federico... Você sabe a minha compulsão por comprar comida. Você também deve lembrar de quanta fome eu senti em longos momentos da minha jornada, pelo menos até ser acolhida pela Lili e mudar minha vida de vez após a Chantal me ver limpando o chão da sede da Empresa e me chamar pra trabalhar com ela... 

     _ Você foi faxineira na Chantal's, amor?... Saori? D. Saori? Isao sorriu com as tentativas de consertar algo que não dava mais.

     _ Sim, Federico. E devo lhe dizer que aprendi muito com aquela experiência. Voltando, rapazes...Eu lembro que saí empurrando o carrinho pelo estacionamento e assim que abri a mala do meu carro, dois garotos me empurraram, e eu fui de encontroo vão aberto do carro e logo senti uma dor no joelho. Eu logo me refiz, como uma boa lutadora que sou, e peguei um dos garotos. Só que o outro estava atrás de mim  e tinha um canivete praticamente colado na minha garganta... Juro que pensei que minha vida terminaria rapidamente naquele estacionamento. Só que o Federico apareceu e deu uma voadora na lateral do corpo do garoto que estava com o canivete. Acho que até ele foi pego de surpresa. Eu coloquei o outro garoto pra dormir, e o provável assassino saiu correndo.  Chamamos a Polícia, e após prestar queixa o Federico fez questão de me acompanhar, e a partir desse momento a gente passou a se ver mais, quer dizer... Ele passou a andar mais pelo andar da Administração, fazendo todo e qualquer tipo de serviço...

     _ Eu só queria ficar perto de você. E Isao deu um sorriso de canto de boca ao ouvir o amigo ser tão " fofo com sua mãe ". Ele logo ficou sério e Saori sorriu...

     _ E eu também queria muito ficar perto de você. E por conta disso... Nós começamos a sair. As vezes uma lanche, as vezes um cineminha, e quando ele começou a estudar a noite, a gente passou a se ligar com mais frequência que antes.

     _ Então você voltou a estudar, Fedão? Perguntou Isao.

     _ Sim. E devo isso a sua mãe. Ela me incentivou e incentiva sempre... Eu quero que ela tenha orgulho de mim, e não me veja como um aproveitador.

     _ Então os dois estão juntos de verdade? Isao perguntou ao mesmo tempo em que alternava as olhadas entre os dois.

     _ Estamos, filho. Eu sei que sou mais velha, eu sei que haverão muitos dedos apontados pra mim... Pra nós, na verdade. Mais eu sempre soube driblar situações bem mais vexatórias que estar apaixonada e ser amada por um garoto incrível que quer estar junto e que... Será o pai dos seus irmãos.

     _ Irmãos? Falaram ao mesmo tempo Fedão e Isao. 

     _ Segundo o Dr. Bergman... Sim. Eu estou grávida de gêmeos.

     _ Como assim, mãe?

     _ Há cerca de três dias atrás, meu amor, eu tinha feito uns exames aqui mesmo no Samaritano, porque desde o início do mês que estava me sentindo meio fraca, sonolenta, com enjoos. Aí, tive a confirmação de que estava grávida e comecei a viver a angústia de omo contar pra todos o que logo ficaria tão evidente. Só que hoje eu simplesmente apaguei e você me viu desmaiada no quarto. Federico, diz pro filhote a mensagem que havia mandado pra você...

     _ Sua mãe me passou uma mensagem logo cedo, dizendo que eu devia ir ao Clube da Orla, e lá a gente teria uma conversa bem séria. Só que antes dela sair, eu havia pedido pra que ela me dissesse a hora exata pra aparecer, e ao invés disso, ela digitou que tava passando mal, e eu não tive mais nenhum contato. Liguei duas vezes e fiquei louco. Saí correndo de casa e quando cheguei lá no Condomínio de vocês, o Porteiro disse que sua mãe havia sido levada na Ambulância do Samaritano e corri pra cá...

     Fedão terminou de falar, levantou da cama e caminhou até sua Saori. Sua mão tocou a barriga da mulher que sempre amou, desde que a viu pela primeira vez no seu primeiro dia de emprego na Chantal's. Saori segurou sua mão, e seus olhares se encontraram. Havia alegria, havia surpresa, havia amor...

     _ Pai? E logo de dois Bebês, minha Bebê linda?

     _ Saori apenas afirmou com um rápido balançar de cabeça. Fedão marejou os olhos e ela sorriu e fez um carinho em seu rosto.

     _ Acho que tô sobrando, né? Isao levantou e ia saindo quando sua mãe disse:

     _ Nunca que você será excluído de nada que eu, seus irmãos e o Federico tivermos que viver de agora em diante. Vem cá, filhote.

     Isao sorriu timidamente e voltou a marejar os olhos. Ele andou até onde o casal estava, se agachou e Saori colocou sua mão em cima da sua barriga..

     _ Vamos precisar de você, Filhote da Mamys. Nós quatro sempre precisaremos de você.

     _ Eu também, família. Tamo junto, Fedão?

     _ Claro, parceiro. Falou o loiro marrento com um largo sorriso nos lábios.

     _ Só tem uma coisa... Nada de pedir pra chamar de papai. Fica esperto, cara.

     _ Poxa, filhote do Papys...

     A gargalhada dentro do quarto foi ouvida por todo o terceiro andar do Hospital Samaritano.

     Chantal, Marina e Rassul estavam na sala de espera quando mais ou menos meia hora depois Saori foi liberada e um plano foi colocado em ação. Todos teriam que se encontrar na casa dos Chantal's e uma vez na bela mansão, o dia seria de festa.

Ponto de Fusão  - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora