1. quando se conhece alguém, você nunca realmente a esquece

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-Agora vá. Siga direto até o outro lado da estação sem olhar para trás.

-Haku, nós vamos nos ver outra vez? - pergunto, sentindo a mão quentinha dele na minha. A aperto com força por alguns momentos.

-É claro - e vejo os olhos dele sorrirem. Sinto uma certa inquietação no coração. Quero correr de volta para meus pais, mas quero que ele vá comigo. Não quero soltar a mão dele.

-Vá - ele sussurra, e como o vento que me levou àquele lugar, sou empurrada através do rio de grama. Agora que dei dois passos e frente, não posso olhar para trás.

Ele solta minha mão e eu corro.


7 anos depois


Eu devia tê-lo abraçado naquele momento, para poder me agarrar nessa lembrança mais tarde, em situações como essa. Coloco as pernas para cima do sofá, mesmo sabendo que ela odeia que eu faça isso, e me auto abraço. Ele disse que nos encontraríamos de novo. Quanto tempo mais eu teria que esperar?

-Às vezes, experimentando situações traumáticas, nossa mente tende a criar uma situação fantasiosa melhor que a real, e a substituímos pela ruim. - Olho através da janela da sala da minha psicóloga e suspiro. Eu devia ter escutado a minha intuição e apenas permanecido calada.

-O que você quer dizer? - Questiono. Um filme rápido passa na minha cabeça: meus pais transformados em porcos, Haku brigando comigo em seguida me ajudando, o susto da primeira vez que vi Kamaji, escravo das caldeiras meio homem meio aranha, a tentativa quase bem sucedida de Yubaba de roubar meu nome, o Deus rio se libertando da lama, o Sem-Rosto vomitando tudo que havia comido e... Haku transformado em dragão, me olhando com uma expressão que não consigo definir até hoje, com sangue pingando da boca.

-Esse menino disse realmente isso? E por que você não tem nenhum tipo de contato com ele? - Continua ela, vendo que eu estava pouco disposta a falar. Eu dou uma risada sem humor.

-Você quer que eu diga o que? Por que as coisas que eu realmente digo, você consegue ignorar numa velocidade admirável. Você é muito cara e não está me ajudando com meus pesadelos. Era mais fácil me mandar fazer orações antes de dormir. - Digo, num acesso de raiva. A mulher permanece impassível, olhando para mim com expressão de superioridade. Claro, eu sou apenas mais uma das suas 'adolescentes problemáticas'. A garota das oito horas, Chihiro. - Quanto tempo de sessão falta? Posso apenas ficar calada e olhar essa vista linda que você tem?

Percebo que meus olhos estão cheios de lágrimas. Não quero ter que justificar minhas saudades para ninguém, mas parece que isso é tudo que tenho feito. A psicóloga acena positivamente com a cabeça. Eu me levanto do sofá de couro e me acomodo perto da janela, observando Saporo (cidade japonesa) ao redor de mim.

Em silêncio, com os olhos da doutora atrás de mim, sinto as lágrimas escorrem. Apesar de tudo que aconteceu naquele verão, a cena que ficava se repetindo na minha cabeça sem parar ela a vista do campo verde a minha frente e a sensação da mão de Haku deixando a minha. Toco minha própria mão, agora, maior e com dedos longos, e imagino como seria segurar a mão dele.


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-E o que ela disse? - Perguntou minha melhor amiga, Aika, comendo seu bolinho de arroz como um ratinho, segurando-o com as duas mãos e comendo pedaços bem pequenos de cada vez. Os olhos dela eram grandes como os de anime e eu invejava isso nela.

-"Às vezes, experimentando situações traumáticas, nossa mente tende a criar uma situação fantasiosa melhor que a real, e a substituímos pela ruim". - Faço as aspas com as mãos e reviro os olhos, me ocupando de comer meu próprio bentô (marmita). - Pelo menos você acredita em mim.

Coming back to you, ChihiroWhere stories live. Discover now