O arqueólgo

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Quem disser que passou na frente do casarão abandonado da rua José Gonçalves e não sentiu sequer um calafrio, está mentindo! Não são poucos os relatos de gente que jura de pés juntos ter ouvido risadas vindas da casa e vultos que lembram muito a finada Dona Minerva pelas vidraças das janelas. As crianças levadas do bairro adoram pular o portão e fazer buracos no muro, que se estende por quase todo o quarteirão, para brincar no jardim que já foi o mais belo da cidade, com roseiras premiadas, mas que hoje parece um matagal selvagem.

As senhoras das vizinhança, já habituaram-se a atravessar a rua e trocar de calçada para evitar aquele enjoo no fundo de estômago que os desavisados sentem ao aproximarem-se demais da casa. Algumas ainda sentem inveja ao lembrar da riqueza e imponência daquele lugar décadas antes; outras, mais benevolentes, se perguntam o que aconteceu com Dona Minerva, a última proprietária da casa; que desde a morte do marido, cinquenta anos antes, desapareceu.

"Será que abandonou a mansão na calada da noite e ninguém a viu? Será que seu corpo jaz esquecido em algum cômodo da casa? É verdade que o marido está enterrado na propriedade? Por que ninguém consegue entrar no casarão?". Essas e outras especulações já foram feitas por todos que ouviram falar dessa história. Mas as perguntas fundamentais, aquelas que detêm a verdade nunca foram feitas. Se eu te contar a história de Minerva, a verdadeira história, será que você terá coragem de fazê-las?

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O ano era 1965, por dias Minerva organizou com os funcionários da mansão todos os detalhes para a arrumação do jantar de boas vindas do marido, Tomás. Conhecido pelos colegas acadêmicos como Dr. Morte, Tomás Hutter era um arqueólogo especialista em rituais mortuários de sociedades antigas, e estava há quatro meses coordenando uma escavação arqueológica em um antigo castelo na região da Valáquia, no leste europeu.

Minerva tinha planejado todos os detalhes para a ocasião com esmero: o jardim nunca tinha estado tão florido e iluminado, a casa estava enfeitada com arranjos de lírios, todos os convidados haviam confirmado presença no jantar e, o principal, a cozinha estava abarrotada de champanhe para comemorar o maior feito profissional do marido. Porém sabemos bem que a vida nem sempre corresponde aos nossos planos.

Uma chuva torrencial se precipitou na manhã daquele dia e causou efeitos desastrosos nos planos de Minerva. Tomás provavelmente já se encontrava em terra firme e buscava um táxi ou uma forma alternativa de voltar para o lar embaixo daquela tempestade. A mansão, como todas as demais casas do bairro luxuoso, mas antigo, ficaram sem energia elétrica. A ela, restava apenas esperar.

Apesar de chuvas serem comuns naquela época do ano e apesar do marido ter feito dezenas de viagens trabalho longas, algo parecia estranho; Minerva sentia-se nervosa e preocupada com o retorno do marido.

Dormir naquela noite se mostrou um desafio, a chuva batia com toda força nas vidraças, fazendo um barulho enorme e os trovões não deixavam ninguém pregar os olhos. No entanto, o mais difícil de suportar naquela madrugada foi o frio. Mesmo estando protegida por vários cobertores, nunca havia sentido um frio daqueles, lembrou das viagens que fazia com os pais na infância para a Europa, lembrou da neve e de como era sentir-se protegida por alguém em quem confiava. Tais pensamentos eram reconfortantes, mas insuficientes para fazê-la dormir.

Minerva foi tirada dos seus devaneios por um barulho muito forte de estilhaços, a janela do seu quarto se desfez em vários pedaços, a chuva e a ventania gélida rapidamente invadiram o ambiente. Ela levantou-se da cama atordoada para tentar fechar as cortinas e conter um pouco a entrada da tempestade, missão que parecia impossível até sentir sentir duas mãos grandes em cima das suas para auxiliá-la. Antes de entender a precença que surgiu, a mulher desmaiou.

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⏰ Last updated: Apr 07, 2020 ⏰

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O arqeuólogo #desafioescrita15Where stories live. Discover now