Capítulo único

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- "Bem-vindo à Netflix! No momento todas as nossas linhas telefônicas estão ocupadas. Por favor, ligue mais tarde ou aguarde na linha até que um dos nossos atendentes possa auxiliá-lo" [Música de espera].

- Ah, mas eu vou aguardar, sim!

- [I wanna know what love is...]

- Eu preciso tirar essa história a limpo, que absurdo!

- [I wanna you to show me!]

Desde o momento que recebeu a fatídica notícia, via twitter, naquela Sexta-feira da Paixão, Alice soube que precisava fazer algo, só não sabia exatamente o que, ainda!

Primeiro pensou em organizar um boicote à empresa ou um grande abaixo-assinado de revolta ou até uma mesmo um protesto com direito à faixas e queima de sutiãs na frente de um dos studios. Mas depois de tomar seu café-da-manhã, panquecas cobertas com mel e uma xícara bem grande de café com leite e canela - afinal o dia estava sendo difícil o suficiente para ela ainda ter que controlar calorias -, conseguiu acalmar-se.

- Bom dia, meu nome é Noah. Em que posso ajudar?

- Noah? Noah Centineo? O Noah Centineo que faz o Peter Kavinsky, Noah?

- Não, senhora. O Noah Lacerda, mesmo. Atendente Netflix. Em que posso ajudá-la?

- Err... Bem. Desculpe, seu nome me pegou de surpresa.

- Tudo bem. Eu já ouvi todo tipo de piadinhas trabalhando aqui com esse nome.

- Eu não tenho tempo nem disposição pra perder com piadas, moço. Eu liguei pra registrar uma reclamação.

- [Suspiro longo].

- Você bufou pra mim?

- Claro que não, senhora. Qual é a queixa?

- Olha, eu sei que você vai falar que o setor não tem nada a ver com isso, mas eu preciso falar com alguém! Preciso de um parecer oficial da Netflix.

- Não estou entendendo, senhora...

- É sobre a Seleção, meu livro preferido. A Netflix vai fazer um filme baseado no livro. Eu acompanhei algumas discussões de outros fãs da série nas redes sociais e muita gente quer que o Noah seja o Maxon, mas eu acho que não tem nada a ver. A imagem dele já está totalmente associada ao Peter Kavinsky, e pra ser bem sincera, eu não gostei tanto do último filme.

- [mudo].

- Alô?

- Senhora, realmente esta escolha está fora da minha alçada.

- Tudo bem, eu já imaginava que você responderia isso. Será que pode me passar para a diretoria da empresa ou alguém que tem acesso a essa gente, eu quero pedir para não escalarem o Centineo.

- Isso é algum tipo de brincadeira? Você é do financeiro?

- Eu já disse que não é piada! Depois que A Seleção virar modinha, um monte de gente vai dizer que o filme é melhor que o livro e que o Maxon das telas é muito mais engraçado, quando na verdade é Maxon original encanta por ser extremamente romântico e nada piadista, diferente do Kavinsky. Como você se sentira se destruíssem seu livro preferido com uma adaptação horrível?

- Eles meio que fizeram isso com Witcher.

- Olha aí! Você me entende, né?

- Entendo, mas não posso fazer nada. Se eu tivesse como entrar em contato com alguém da direção, eu teria ligado à muito tempo; não existiria live action de Death Note, pra começo de conversa.

Que absurdo! Malditas plataformas ditadoras streaming. Eu nem tenho tantas restrições assim, só quero que tudo seja igualzinho ao descrito no livro. Uma leitora tem seus direitos, e eu aposto que a Kiera Cass concordaria comigo!

- Senhora?

- Huh? Ai, eu me distraí, desculpe.

- Eu estava falando que posso registrar sua ligação como sugestão.

- Está bem. Você acha que vai adiantar alguma coisa?

- Honestamente, eu não sei. Mas "para acertar as coisas, um de nós tem que dar um salto de fé".

- Você leu A Seleção!

- Eu tive que ler por causa da minha irmã, uma longa história. Enfim, vamos começar. Qual o nome da senhora?

- Hahaha! Eu não percebi que ainda não dei meu nome. Alice.

- Ok, senhora Alice...

- Só Alice, por favor.

- Alice, para apontar na sugestão: o que você tem contra os Noahs?

- Ei! Eu não tenho nada contra você nem contra ele. Só acho que esse personagem merece uma representação diferente...

- Quem?

- Não sei, mas a Netflix tem tantos atores. O Maxon precisa ter o cabelo castanho claro, olhos azuis, ser alto, forte, mas ter um rosto gentil.

- Eu poderia ser o Maxon.

- Sério?

- Não.

- Que susto! Bobo.

- Não resisti. Alice, além do Maxon, que parece ter uma importância absurda, o que mais não pode mudar na adaptação de A Seleção?

- Olha, eu vou ignorar esse tonzinho sarcástico, viu? Respondendo a sua pergunta, o amor, a esperança, a ideia toda que a obra passa, sabe? Os personagens do livro mudaram de opinião várias vezes, mas foram justos sempre. Eu gosto de pensar que quando você merece, o destino acaba trabalhando em seu favor e amor encontra um jeito de acontecer.

- Quanta responsabilidade para o destino...

- Você não acredita em destino?

- Não sei. Acredito que eu posso fazer as coisas acontecerem, mas se existe uma ajuda vinda de outro lugar, eu aceito. Endereço?

- Não entendi.

- Eu preciso do seu endereço.

- Ah... Natal, bairro da Ribeira, 12.

- Nossa, é perto daqui!

- Vocês estão em Natal?

- Sim, a empresa tem operações de atendimentos em várias cidades.

- [Suspiro].

- Está tudo bem, Alice?

- Sim, só fiquei pensando nessa coincidência toda, é engraçado. Quais as chances de a pessoa que me atendeu ser de Natal e ainda conhecer meu livro preferido?

- Haha

- Obrigada, fez eu me sentir menos louca.

- Sabe do que eu acho que você precisa? Combina com livros.

- O que?

- Eu café.

- É uma boa sugestão.

- É um convite. Aceita? Eu já tenho o endereço.

- Aceito.

- Aguarde na linha, por favor.Where stories live. Discover now