Eu costumava te amar

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I wish I was wrong

I wish that you were right here lyin' in my arms

Deep down inside I got to face the truth

You're not comin' home

This love is over

- Ray LaMontagne

  Miranda

  Seis anos, foi exatamente isso que durou. Não que eu pensasse que duraria para sempre, pois essa é uma proeza limitada a contos de fada e ficções românticas em geral, logo, aquilo que um dia chamamos de relacionamento, casamento, jamais poderia durar esse tanto. Porém, devo admitir que pensava que fosse durar um pouco mais, torcia para que durasse mais. 

  De fato, eu, de modo muito particular, estava completamente enfeitiçada pela ideia de finalmente ter uma família estruturada, uma companhia que adorasse minhas filhas e as tomasse como suas, acolhesse minhas derrotas internas, minhas lágrimas não derramadas, me agarrasse tão forte que minhas inseguranças morreriam estranguladas e depois fizesse amor comigo até que esgotássemos toda a energia que nos restasse. Em retorno, eu seria boa, traria segurança, me esforçaria para que o trabalho não tomasse 110% do meu tempo, me dedicaria a estar em casa na hora do jantar, daria meu comprometimento, minha lealdade e meu amor. 

  Meu amor... Durante boa parte da minha existência, as únicas pessoas que souberam do que isso se tratava foram minhas filhas e quando ela apareceu, foi a primeira vez que estive disposta a entregá-lo à uma terceira pessoa, àquela que chegou em minha vida como uma tempestade e bagunçou tudo o que eu achava estar no devido lugar. Àquela que preencheu a casa de energia, alegria, que contagiou até mesmo minhas exigentes filhas, que a tinham como peça fundamental na nossa dinâmica familiar. Àquela que me fez acreditar em Shakespeare e em quando ele disse que o amor é um marco eterno, dominante, que não teme o tempo e nem se transforma, mas se afirma para a eternidade. 

  Eternidade... Outra expressão que não indica o fim. Realmente essas palavras deveriam ser as últimas a caracterizarem o que tivemos, afinal, é justamente sobre o fim que estamos falando aqui. Entretanto, surge um questionamento: ter chegado ao fim significa que não houve amor? Que não fomos suficiente uma para a outra? Na verdade, ao que tudo indica, eu não fui suficiente, foi o que meus ex-maridos disseram. Não fui suficiente para eles, quando tive a oportunidade. Não fui suficiente para as gêmeas, que decidiram deixar nossa casa para viverem com o pai em outro estado e por último, mas não menos importante, não fui suficiente para Andrea, que, ao sentir-se abandonada, se deixou beijar por outros lábios e se deixou tocar por outras mãos. 

  Um gosto amargo acompanhou o momentâneo aperto em meu peito apenas com a lembrança do que ocorrera. 

  - Eu traí você... Sinto muito. - Foi o que ela disse assim que chegara em casa às três da manhã, após uma longa noite em um bar, sabe Deus onde. Eu já sabia que tudo estava acabado muitos meses antes, foi quando o esforço de fazer as refeições juntas deixou de existir, quando as horas de trabalho aumentaram, quando deixamos de conversar, de falar sobre tudo o que aprisionávamos em nossos corações, foram nestes momentos que percebi que aquilo não duraria muito mais. No entanto, preciso confessar que jamais imaginei que o fim se daria dessa forma, marcado pela infidelidade, pela quebra da confiança. 

  - Amanhã entrarei em contato com meu advogado, sugiro que faça o mesmo. Isso é tudo. - Eu queria ter gritado com ela, xingado, quebrado alguns objetos, mas a única coisa que consegui fazer foi enterrar minha raiva, levantar uma enorme muralha ao redor da grande ferida que ela havia causado e silenciar-me. E ela também não insistiu, sabia que a partir daquele ponto não haveria mais volta, que a nossa história havia definitivamente terminado na cama, ou qualquer outro lugar, que ela e o desconhecido usaram para dilacerar meu coração.

Deixe-me partirWhere stories live. Discover now