Capítulo 1 - O início da quarentena

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11 de março - 52 casos confirmados e 907 suspeitos de Coronavírus no Brasil.

Um vírus vindo da China se propaga pela Ásia e pela Europa causando centenas de casos e milhares de mortes. O vírus não demorou muito a chegar por aqui, no Brasil. E em menos de três meses, o mundo inteiro começa a lutar por algo que ninguém vê. E que se espalha mais rápido que vídeo de gatinho na internet. Olha, é assustador!

Por enquanto, sem remédios, sem vacinas, sem tratamentos. A solução é ficar em casa, sem contato físico com outros humanos, lavar bem as mãos e não tocar o rosto. Os casos estão crescendo aqui no Brasil, então também entraremos em quarentena. Pois é, o país que mais gosta de festa, barzinhos, encontros sociais, que arranja qualquer desculpa para organizar um churrasco, vai ter que fechar tudo.

Meu trabalho também está fechando para atendimento presencial por enquanto. Eu sou hostess de um restaurante chinês. Sim, sou eu que marco as reservas dessas festinhas e encontros sociais, que te entrega o cartãozinho na entrada, que tem que ficar juntando mesa para a aglomeração de vocês. Meu chefe deu férias adiantadas. Caramba, o vírus conseguiu estragar a melhor notícia que eu tenho no ano. Já tinha até salvo na barra de favoritos a pousada fofinha do Booking que queria ir em Pipa. Droga!

Meu nome é Cleo, Cleonice na verdade, mas ninguém além da Receita Federal precisa saber. Até então, eu e minha família estamos bem. Mas eu moro sozinha, o que torna tudo ainda pior. Quem me faz companhia é o gato que fica ronronando e me julgando com o rabo levantado o dia todo.

E agora, o que eu vou fazer na pandemia? No Instagram, todo mundo resolveu malhar. Eu? Bem, eu estou conseguindo manter tranquilamente a mesma rotina de exercícios de antes. Zero exercícios por dia. Acordo a hora que eu quiser, mas levantar mesmo só depois das 10:30h. Zero todas as notificações do celular até esse horário, na verdade termino isso bem antes das 10h, mas já dizia Platão "o feed está aí para ser rolado". Passo o café as 11h. Almoçar? Só lá pelas 15 horas e podendo fazer todas as receitas que já salvei um dia no Instagram. À tarde vou finalmente conseguir colocar Greys Anatomy em dia. Minha colega do trabalho me liga para fofocar: quem pode ser demitido no trabalho, Fulano que fez festinha em casa, quem pegou Covid porque foi para festinha de Fulano.

Como se minha rotina não estivesse entediante o suficiente, resolvi fazer um curso online à noite, um curso de estampar camisetas. Eu gosto de ficar pesquisando sobre ideias de negócios como se eu fosse um dia começar a fazer algo. Mas eu sei que não vou.

Primeira aula tem 2 horas. Ai, que saco... Isso dá 5 episódios de Brooklyn Nine-Nine. Uma aula inteira dos materiais necessários para começar a estampar. Aumentei a velocidade para passar mais rápido. No fim da aula o professor informa que um grupo foi criado no Whatsapp para os alunos interagirem. O nome do grupo é Estampar em 3,2,1. Péssimo. Todo mundo dizendo Oi e dizendo o quanto está sendo empolgante fazer esse curso e blá, blá, blá. Vou falar alguma coisa. Já sei.

"Alguém anotou o nome da impressora que ele indicou?" Enviar.

Nossa, estou parecendo uma CDF que anota tudo com cinco tipos de canetas diferentes.

+84 982887124 ~Júnior enviou: "Quais delas, Cleo? Sublimática, jato de tinta ou Laser?"

E eu sei? Não prestei atenção que tinha mais de uma. Acho que o vídeo estava rápido demais. Só estou curiosa para saber o preço. Vou chutar qualquer uma.

"Laser." Enviar.

+84 982887124 ~Júnior enviou: "Ele indicou a CP1025 color da HP. Você é da onde? Eu tenho ela pra vender."

Ele tem esperanças de que eu seja do mesmo lugar que ele? Ri por dentro.

"Eu sou de Parnamirim, RN." Enviar.

[CONTO] Amor de QuarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora