Capítulo 1 - Quem sou eu?

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Hoje eu venho por meio desse livro contar algo que a anos está em minha cabeça e que é impossível retirar. Poderia ser meu cérebro? Pouco provável, pois sem ele eu não escreveria. Poderia ser meu nariz? Nunca! Como poderia eu viver sem sentir o cheiro de empadão assado novamente? Poderiam ser meus ouvidos? Nem pensar! O que seria de mim não poder escutar meu violino? Poderiam ser meus olhos? Sim mas, mesmo se parasse de enxergar, as lembranças continuariam para sempre em minha memória. Poderia ser minha boca? Creio que sim, afinal ninguém ouviu meu grito de socorro...

Bom, meu nome é Eliza. Eu sou pequena, inteligente e esperta. Meu cabelo é ruivo e cacheado, semelhante o da princesa Merida. Meu olho é da cor de uma folha seca e minhas bochechas e boca bem rosadas. Tenho apenas 10 anos de idade porém as vezes pareço ter alma de idosa.

Essa sou eu! Ou pelo menos eu costumava ser assim. Por favor não se assuste com meus olhos arregalados, eles ficam assim sempre que eu fico muito animada. E também não reparem nas minhas mãos e na inexistência dos meus pés, é que eu não sou boa desenhista.

 E também não reparem nas minhas mãos e na inexistência dos meus pés, é que eu não sou boa desenhista

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Hoje é somente mais um dia normal. Acordei, tomei um banho quente, vesti meu uniforme de sempre, tomei café da manhã e fui para a escola, cujo nome é Santa Maria Goretti. Cheguei da escola por volta de 12:30h e fui para a casa da minha tia, pois meu pai trabalha fora o dia inteiro. Hoje ela fez o meu prato favorito para o almoço, strogonoff! Isso é muito especial porque normalmente ela não se importa muito com essas coisas.

Meu pai é extremamente atencioso comigo e se preocupa em me dar tudo aquilo que preciso. Ele é alto, branco, loiro, cheio de sardas e com uma barriguinha de cerveja. Seu olhos são pretos feito petróleo e seu nome é Jaime. Ele é sempre muito brincalhão e amoroso comigo, certamente o melhor pai que poderia ter em todo o espaço-tempo. Porém, não leva jeito nenhum com mulheres desde que eu nasci e minha mãe foi embora.

"Minha vida era bem tranquila, as vezes pensava que vivia num conto de fadas em que tudo é bom e todas as pessoas são incríveis. Mas, eu estava prestes a descobrir que nem tudo isso é verdade."

Moro numa cidadezinha que eu chamo de Cidade de Onde Todos Vem, que é sempre bem tranquila, desde que você não entre na floresta. A minha casa é bem simples mas muito aconchegante e nela há o quarto do meu pai, o meu, uma cozinha, um banheiro e uma sala. A casa é de madeira do chão ao teto e eu particularmente acho lindo, ignorando os barulhos bizarros que faz quando pisamos ou quando algum gato passa no telhado. 

Meu quarto é com uma madeira mais avermelhada e nele há uma cama, uma penteadeira com um espelho vermelho, um guarda roupa amarelo e uma cortina branca de bolinhas vermelhas na janela. O meu quarto é meu lugar favorito, pois é onde eu posso viver todos os meus sentimentos sem ter medo de alguém me julgar, afinal falar sozinha em voz alta acaba sendo um pouco bizarro. A minha janela fica de frente com um ipê amarelo que cresceu em nosso quintal, e que na primavera deixa as minhas manhãs mais douradas e gloriosas. Sou apaixonada por flores e a minha preferida é sem dúvidas o girassol, tenho vários plantados no quintal.

Na minha cidade há uma forte lenda relacionada a floresta, pois acredita-se que nossos ancestrais eram celtas e invocaram Cernuno, o deus dos animais e da fertilidade, para proporcionar alimentos de caça e de plantio. No entanto, as pessoas que iam caçar na floresta acabavam não voltando e os corpos eram encontrados pendurados nas árvores dias depois. Os moradores acreditam fielmente nisso e desde então caçar naquela floresta é proibido, principalmente para as mulheres, pois apenas os corpos masculinos eram achados e os femininos sumiam sem deixar rastros.

O meu pai sempre me ajuda nas lições quando chegamos em casa. Ele faz a janta, a gente come e ele me ajuda com os deveres, que normalmente são poucos. Depois a gente fica com a TV ligada vendo filme, conversando sobre nosso dia e dando várias gargalhadas, pois humor é uma das melhores qualidades dele. Não importa o quão chato ou triste tenha sido o meu dia, ele sempre consegue arrancar os sorrisos mais sinceros de mim. Costumamos falar sobre tudo, inclusive sobre o dia que ele avistou algo estranho naquela floresta e nunca mais ousou chegar perto, e até hoje não me deixa chegar perto. Sinceramente, já passou da hora de verem que esse tal monstro não existe.

Nos finais de semana, meu pai sempre arruma algo para fazermos juntos. No outono, o que mais fazemos é rastelar as folhas do quintal e ir aos parques para ver os mares de folhas que as árvores deixam no chão. No inverno, costumamos sair para fazer guerrinhas de bola de neve e construir bonecos de neve juntamente com as crianças da vizinhança. Na primavera, costumamos ir muito ao cinema e nos parques temáticos que vem em temporada para a nossa esquecida cidade. E finalmente a minha estação preferida, o verão! Meu pai costuma me levar ao clube de piscinas da cidade junto com meu amigo Vincente, afinal ele é minha companhia para os dias ensolarados. Vincent é meu amigo há mais tempo do que consigo me lembrar, nascemos na mesma época e crescemos juntos desde então. Ele é como se fosse um irmão gêmeo que fui agraciada em ter comigo.

A minha mãe nos deixou quando eu ainda era um bebê e foi para a cidade cujo nome é Terra Onde Ninguém Vai Te Achar, pois realmente nunca achamos ela

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A minha mãe nos deixou quando eu ainda era um bebê e foi para a cidade cujo nome é Terra Onde Ninguém Vai Te Achar, pois realmente nunca achamos ela. Meu pai não dá muitos detalhes sobre como ela era, apenas diz que ela precisou ir embora, mas quando eu o indago, ele diz que não sabe os reais motivos ou não tem coragem de me dizer. Mas eu sei que ela, na verdade, ela não queria cuidar de mim. Única coisa que sei é que os cabelos dela eram ruivos como os meus.

"Eu costumava achar que essa seria a única coisa ruim que aconteceria em minha vida."

Bom, mais um dia se passou e amanhã não será fácil...

De quem é a culpa?Where stories live. Discover now