Acordo. Dormi à tarde e já é noite, procuro alguém pela casa, mas estou sozinho. Minha mãe passaria a noite com minha vó.
Vou ao banheiro, lavo o rosto, ligo o computador e procuro algo para comer na geladeira.
Assim que fecho a porta ouço latidos e rosnados como o do meu cão, "nada de mais" -pensei-, encho uma caneca com leite. Os rosnados continuam, desta vez mais altos, como se estivessem mais próximos...
Pego meu celular para ver as horas, faltavam dois minutos para a meia-noite. Ponho o celular no bolso, o telefone da sala toca. Deixo a caneca na cozinha e vou atender, olho o identificador de chamadas mas o visor parece estar quebrado, os números não fazem sentido. Atendo.
- Alô? - alguns segundos se passam.
- Alô? - digo novamente.
- Oi, meu filho, estava preocupada com você! Tudo certo por aí? - era minha mãe.
- Ah, oi, mãe, tá tudo certo sim, só o cachorro que parece agitado.
- Que cachorro? - ela pergunta.
- O daqui de casa. - falo enquanto procuro pelo cão e fecho as janelas, mas só vejo uma silhueta obscura e quase humana no quintal.
- Mas filho... Rex ficou no veterinário. Filho? Filho? Pedro? - minha mãe fala em vão, havia deixado o telefone cair.
Corro pro meu quarto no fim do corredor, mas a meia que eu uso me faz tropeçar e cair sobre o chão liso. Olho pra trás e vejo a mesma figura obscura. Estou em choque.
Consigo sentir meu rosto empalidecer enquanto tento compreender o que vejo à tempo de reagir, mas o tempo se arrasta contra meu esforço e parece ficar mais lento ao passo que viro e me recupero para correr.
Tarde demais.
A figura me alcança.
...
Acordo. Dormi à tarde e já é noite, procuro alguém pela casa, mas estou sozinho.
Vou ao banheiro lavar o rosto e tentar esquecer aquele pesadelo.
Pego a garrafa de leite na geladeira.
Assim que fecho a porta só ouço uma coisa:
Latidos.
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Latidos
Short StoryConto curtinho sobre um daqueles dias em que você cochila de tarde e acorda meio "perdido" das horas, sabe?