DECISION

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"Ele tinha tomado a decisão, iria entrar no avião. E eu sabia que a partir dali, não existiria mais nós dois."

{♥}

O cheiro refrescante misturado com o toque doce do perfume de Daniel invadiu o ambiente antes mesmo de sua presença física. E isso fazia meu corpo formigar. A estada de Ricciardo me causava as incríveis "borboletas no estômago", mas esta era uma situação diferente. E eu queria adiá-la ao máximo, porém, nosso prazo havia chegado ao fim.

Antes mesmo de Ric se fazer presente, as lágrimas surgiam em meus olhos e rolavam pelo meu rosto descontroladamente. Eu chorava sozinha perdida nas lembranças me negando a acreditar.

O toque das mãos fortes de Ricciardo em minhas bochechas, poucos segundos depois, trouxeram como em um flashback todos os momentos em que os mesmos membros percorreram meu corpo sentindo cada centímetro da minha pele. Porém, as mesmas mãos que antes me protegiam, estavam prestes a se soltar das minhas.

Instintivamente, as segurei e deixei com que todo o peso do meu rosto caísse sobre elas. Eu sabia que Daniel estava ali, parado à minha frente há um tempo, mas eu não queria abrir meus olhos e encontrar os dele, não queria encarar aquele tom singular de castanho claro pela última vez.

Eles carregavam toda a dor inerente de Ricciardo. E observá-los, também faria com que eu enxergasse o reflexo da minha angústia. Fitar o olhar de Daniel significaria ir de encontro à verdade, mas naquele momento, eu não fazia questão de esconder: não estava pronta para deixá-lo ir.

Ric, da forma doce na qual sempre se referia, implorava para que nossos olhos se encontrassem, como se dependesse exclusivamente disso para reunir forças. E isso deixava tudo ainda mais doloroso.

— Por favor, Bel. Olha para mim. Eu preciso de você. Eu ainda preciso. — Ricciardo praticamente sussurrou.

A voz estridente e sempre audível de Daniel, naquela altura, saia como um suspiro embargado. O australiano não escondia os sentimentos que o acometiam, era cristalino, mas sempre tentava os camuflar com seu inconfundível sorriso. Ver Ricciardo sorrindo era como ver o pôr do sol. Era lindo, inundava a alma e aquecia o corpo.

Eu não precisava abrir os olhos para saber que ele não estava sorrindo, para compreender que ele estava sofrendo. E isso me destruía. Nada me doía mais do que vê-lo sofrer.

Ainda sem encará-lo, desci do sofá em que estava e me aninhei em seu pescoço levemente coberto pelo pano macio do moletom. Eu precisava sentir seu cheiro e experienciar aquela sensação mais uma vez. Ter a certeza de que ele ainda era meu, que ele ainda estava ali.

Por mim.

O choro intensificava-se paralelamente à realidade que cada vez mais ficava evidente. As lágrimas derradeiras tornaram-se um soluço profundo e desesperado. A nossa dor era uníssona.

— Eu te amo. Eu te amo independentemente de tudo. Obrigado, Bel. Obrigado por ser meu porto-seguro, por acreditar em mim quando ninguém mais acreditou. Obrigado por ser minha desde o primeiro momento, desde quando eu nem sabia que era possível amar alguém. — Em meio aos soluços que preenchiam o ambiente, Daniel começou a falar.

— Por favor. Não... — As palavras de Ricciardo me atingiam como facas afiadas adentrando todo o meu corpo.

— Me escuta. Eu só te peço isso. — Daniel seguiu.

Eu queria fugir. Queria acreditar que nada daquilo estava realmente acontecendo. Meu coração batia descompassadamente como se em meu peito não houvesse mais espaço suficiente. Coração no qual sempre pertencera a Ricciardo, desde o primeiro dia, há dez anos, quando nossas famílias se cruzaram pela vizinhança de Perth.

DECISION | Daniel RicciardoOnde histórias criam vida. Descubra agora