Fuga

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 Você olhou para o céu de Paris e, por deus, estava linda.

Tudo bem, você estava sempre linda. Não sei se era o seu sorriso que tingia o rosto com toda a alegria do mundo, os cachinhos loiros tombando sobre os ombros ou os olhos que me hipnotizavam. Fosse o que fosse, sua beleza era estonteante, meu amor.

Lembrei do sufoco que foi chegarmos ali, estarmos ali naquele telhado, juntas, vendo o brilho da cidade enquanto você fumava seu primeiro cigarro e tirava fotos com a polaroid velha. Devia ter te levado para algum lugar onde pudesse olhar as estrelas a noite toda, como gostava de fazer. Mas fui boba, te arrastei para a cidade da luz onde o céu era quase invisível. Como se precisasse de qualquer luz. Você era a luz.

Eu te encarei por tanto tempo, demorou a perceber, e então riu sem graça. Ficava linda dando risada à toa, ainda que estivesse triste. Bem, ficava linda de qualquer jeito. Até naquela mesma manhã, quando acordou vestindo o blusão do seu ex que insistia em não jogar fora só para me irritar (ou, como dizia, porque era confortável). A xícara de café na mão, as olheiras pelas noites mal dormidas, o emaranhado nos fios claros. Ainda assim, me tirava o fôlego olhar para você. E me senti culpada.

O telefone tocou e eu vi o nome da sua mãe no visor. Sabíamos o que ela queria, e sabíamos que precisávamos nos livrar daquele celular. Não podíamos deixar nossa felicidade ir por água abaixo de novo.

Você estendeu o braço, me olhou confiante.

"Somos melhores do que isso."

Sim, nós éramos. E você jogou o iPhone de última geração sem pensar duas vezes. Ouvi só o barulho dos estilhaços seguido da sua risada. Ri também, feito louca. Era engraçado demais estar em um telhado em Paris fugindo do mundo e das obrigações e de tudo o que havíamos deixado para trás. Mas eu estava com medo.

Pensei se Hina conseguiria se virar com a academia de dança. E, por um instante, me senti mal por Josh, por deixá-lo sozinho com o coração partido logo depois de Noah ir embora sem explicação nenhuma. Ele precisava de mim, mas eu precisava de você.

Todas as manhãs você me falava de Sofya, da saudade que sentia de Lamar e do quanto deveríamos ter pensado duas vezes antes de abandonar Any com aquelas despesas gigantescas.

Mas não poderíamos ter ficado. Eram dívidas demais, dúvidas demais, problemas demais, mentiras demais e amor de menos. E estávamos cansadas. Por céus, Sina, estávamos exaustas.

Não aguentava brigar tanto. Pensar em ir embora sozinha doía no peito. Te ver chorar a noite, de raiva, de tristeza, partia meu coração. E a culpa era minha.

Eu não aguentava mais.

Achei que te perderia.

Achei que não conseguiríamos.

Achei que nunca fosse me perdoar.

Mas você, como sempre, era melhor do que eu. Minha pessoa favorita, até quando te abandonei para dedar outra garota. Me perdoe, amor, a culpa foi minha.

Quando te contei, secou minhas lágrimas com a toalhinha rosa estampada com suas iniciais, e pediu desculpas.

Eu quis morrer, Sina. Eu não merecia aquilo e nem merecia você.

E estava tão cansada.

Entrar no avião foi a decisão mais louca de toda a minha vida. E talvez da sua também. Você fingiu estar bem durante a viagem inteira, mas sei que chorou naquele banheiro minúsculo pelo menos duas vezes, pensando em desistir.

Estávamos em queda, amor.

E estávamos caindo juntas.

Paris era um lugar maravilhoso, por isso pensamos que consertaria as coisas. A cidade do amor. Precisávamos de amor.

Agarramos a primeira oportunidade de nos apaixonarmos de novo e mergulhamos de cabeça.

E transamos feito nunca depois de uma garrafa de vinho francês. Com a janela aberta. Acho que os vizinhos viram tudo, eram pervertidos, lembro disso, mas não importava, certo? Só nós duas importávamos.

Nós estávamos melhores.

Paris nos deixava melhor.

Nos curava.

Nos fazia amar.

Os passeios pelo Louvre, uma semana e não vimos nem metade. As três subidas à Torre Eiffel, os jantares nos bistrôs à beira do Sena. Sina, foi amor mesmo, não foi? Aquilo tudo, nós duas, os batimentos cardíacos, os suspiros quentes, tão quentes...

Diga que foi amor. Não tenho mais a que me agarrar.

Voltamos para casa pela primeira vez depois de dois anos. E ouvimos bastante.

Foi muito para você.

Se culpou, me culpou, gritou até não poder mais. Dormiu chorando. E no dia seguinte, partiu.

Como Noah, foi embora sem deixar rastros. 

Diferente de Josh, eu sabia exatamente porque.

No fim, Paris foi só um quebra-mola, um atraso da curva que estava por vir. Passamos rápido demais. Capotamos.

Ouvi dizer que está na Alemanha. Como é o inverno aí? Frio?

Até os verões são frios sem você.

Tudo tem estado tão frio desde que partiu...

Paris continua linda. Tenho certeza que você também.

Mas sabe o que é? Aqui em cima do telhado venta muito. Acho que qualquer dia a brisa vai me derrubar e vou acabar estilhaçada como seu telefone naquela noite. Talvez ainda hoje, quem sabe...

É que estou cansada.

E estou caindo.

Só quero chegar logo ao chão.

Só quero que as luzes se apaguem, amor.

Porque sem você, Paris já não brilha mais. 



Notas da autora:

Olá! Gostaram da minha primeira fic siyoon?

Uma one shot bem curtinha, mas que eu amei escrever <3 Meio triste, desculpa :/

Me inspirei mais ou menos na música "Paris" do The Chainsmokers kkkk

Já tava querendo criar algo com esse shipp faz um tempinho, acham que fui bem? Quem sabe eu não trago mais coisinhas siyoon por aqui? Me sigam para saber :)

Espero que tenham curtido, mandem pros amiguinhos que gostam de siyoon, não esqueçam de votar e obrigada por lerem!

Beijão <3

Paris • (One Shot Siyoon)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora