25/12/2019

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A grande árvore adornada em azul — como Jéssica desejou — estava com diversos presentes, dos mais variados tamanhos. Quando Rui Junior desceu as escadas em direção a sala e a viu, seu coração acelerou. Gritou pela mãe, mas quem desceu foi seu pai. 

— Ah, desculpe gritar, papai — o garotinho, de apenas oito anos, declarou. — Eu achei que já teria saído para trabalhar.

— Hoje não vou trabalhar, ficarei em casa.

O doce menino de olhos azuis — que puxou da mãe — não quis demonstrar, mas ficou muito feliz. Mais feliz do que com todos aqueles presentes debaixo da árvore. Se manteve em silêncio, pois sabia que seu pai vivia com a cabeça no trabalho e que, nos raros momentos em casa, normalmente, o pai estava com dor de cabeça.

Jéssica desceu correndo as escadas e encontrou seu filho quieto ao pé da árvore.

— Meu anjinho, o que está fazendo aqui? — ela perguntou, abaixando-se para ficar na altura do filho.

— Papai vai ficar em casa, mamãe — ele dizia em tom baixo, contrariando o brilho de seu olhar. — Então, decidi te esperar para vermos os presentes juntos. Não quero incomodar o papai, ele vive trabalhando. Quero deixar ele descansar.

— Já que o papai vai ficar em casa, que tal irmos tomar café com ele? Acho que ele esqueceu que demos férias de fim de ano para Olga e, quando ele decide cozinhar, ele faz muita bagunça.

O menino levantou, dando a mão para a mãe. Caminharam até a cozinha, onde Rui encontrava-se sentado na grande mesa, sozinho. Parecia perdido.

— O que foi, meu bem? — a mulher de cabelos ruivos perguntou ao marido, fazendo carinho em seu ombro.

— Cadê a Olga? — ele perguntou e fez o filho soltar um riso abafado. A mãe estava certa, seu pai tinha esquecido.

— Olga está de férias, Rui. Vou preparar nosso café.

O silêncio se fez presente, o único som que era escutado era de Jéssica andando na extensa cozinha, preparando o café que há muito tempo queria. Há meses não sabia como era ter o marido para uma refeição juntos.

Após o café saboroso e silencioso, pois não sabiam como puxar qualquer assunto, foram para a sala. Rui Junior sentou aos pés da árvore novamente, a mãe sabia que o garoto queria ver todos aqueles presentes.

— O que acha de separarmos primeiro, anjinho? Vermos quais são seus, quem enviou, ver se o Papai Noel deixou o que você queria... — O menino assentiu como resposta.

Quando terminaram, viram que, dos vinte e três presentes dispostos pela árvore, dezesseis eram da criança.

— Mamãe, eu não sabia que era tão amado.

— Mas você é, meu amor — ela respondeu.

Abriram presente por presente, dos tios, da escola, da babá, de Olga — a governanta da família. Cada pessoa com quem conviviam tinha lembrado de presentear o garoto. Pegaram o último presente. Era uma caixa não muito grande embrulhada de dourado. Na etiqueta, estava escrito:

De Papai (e um rabisco gigante)
Para: Rui Junior
Parabéns por ter se comportado, Feliz Natal.

Quando abriu o presente, era o videogame portátil que tanto queria, inclusive, foi o que pediu para o Papai Noel na cartinha. O menino não se aguentou, não sabia que o pai prestava tanta atenção nele assim, e correu para o colo de quem havia dado o que ele mais queria. Rui nem lembrava quando tinha comprado, mas, como sua cabeça estava sempre cheia, ficou satisfeito de ter dado algo decente.

O menino perguntou à mãe se poderia jogar, Jéssica deixou, vendo a alegria do filho, e sentou-se ao lado do marido.

— O Papai Noel deu o que o menino queria? — Rui perguntou.

— Não vi presente do Papai Noel — ela respondeu, levantando-se para conferir todas as etiquetas. Depois de olhar uma por uma, realmente, não achou a do Papai Noel. O engraçado é que, todos os anos, o Bom Velhinho deixava o presente assinado.

— Rui, acho que esse ano ele esqueceu de deixar.

— Como ele esqueceu de presentear o meu filho? — Rui gritou, despertando a atenção do menino que estava grudado na tela há poucos segundos.

— Quem me esqueceu?

— O Papai Noel — Rui respondeu, estressado. Não se importou de nem ter almoçado ainda e serviu-se de um copo de uísque.

— Não tem problema, papai, você me deu exatamente o que eu queria.

— Não tem problema, papai, você me deu exatamente o que eu queria

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Eu sei o que você fez no natal passado.Where stories live. Discover now