Eu vi o tempo passar na carne. Caminhar entre os poros cansados, escupindo rastros das suas passagens nas maçãs. E, sem que eu lutasse contra, os fios de cabelo marcharam para um outono suicida. Lembro de ter esquecido de lembrar. De trocar os passos rápidos por respirações profundas e tornar mais próximo o irreparável encontro entre a pele e o osso. Assim como dizem que se ouve a chuva chegar, eu sinto que ela nunca partiu daqui. E me derrete aos poucos, lapidando nas curvas da minha boca a contagem regressiva. Do amor. Da esperança. Da vida. As horas que eu deixei de lado, hoje, lembram de mim. Fazem interrogatórios violentos buscando o porquês do abandono. E soam sarcásticas com os meus pedido de voltar em cada uma delas e fazer diferente. Mas, indiferente, eu sigo. Talvez os segundos estejam errados e nós devêssemos contá-los pelas batidas do coração. O mesmo que desmarcou o marca passo e cultivou o tempo no vazio da alma. Deve ser porque a gente esquece das horas de hora em hora e, como a certeza perfeita, um dia elas lembram de esquecer de nós.