A dinâmica daquela peça era meio estranha, participavam alunos de todas as séries embaralhados e na falta de alguém que se encaixasse no papel do mocinho, o professor se responsabilizou por atuar junto com eles. Nem se destacava muito, já que ele tinha uma cara tão juvenil quanto dos seus alunos, se não fosse pela diferença das vestes, qualquer um o confundiria com mais um estudante daquela instituição. Talvez por isso, tenha sido tão fácil pra ela esquecer das suas diferenças e da muralha do impossibílio que os separavam, e talvez por isso ela não conseguisse entender as constantes rejeições que sofria. Não sabia ao certo como esse sentimento havia surgido, mas sabia onde e quando: aquela maldita peça, era tudo de mentirinha e ela devia saber disso, mas quando ele lhe disse aquela frase melodramática típica de qualquer romance de época, quando ele a puxou pela cintura e mergulhou fundo em seus olhos... Ela sentiu uma estranha falta de ar e tontura, foi impossível controlar as batidas do seu coração (terrivelmente acelerado) foi impossível pra ela não fechar seus olhos e aproximar seu rosto quando sentiu aquela respiração quente e pesada se chocar contra sua pele. Seus lábios eram tão macios quanto pareciam, seu gosto era melhor do que pensou... Calda de morango e granulados coloridos. Feito um perfeito sorvete no qual ela esperava que nunca acabasse, mas que mal durou um minuto sequer. Foi empurrada pra longe e depois disso foi como se aquele filme que rodava na sua cabeça tivesse apresentado algum defeito, ele gritava, mas ela não ouvia nada, seus olhos estavam arregalados, parecia irado, não entendia... o que ela fez de errado? Por acaso ele não viu a perfeita química de seus personagens apaixonados? Aquilo bem que podia ser real...