TERCEIRA PARTE

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                                DOMINGO
                          "Binóculomão"

Na mesma tarde do mesmo dia, horas antes de Sam despertar. Dois jovens rechonchudos e fofos de pele clara como do dia e olhos negros como a noite, caminharam lado a lado em uma sincronia incrível a procura de sobreviventes.

- Acho que deveríamos sair da floresta e voltarmos até a praia para ver se tem alguém lá dessa vez - disse Belchior

-  Bom, você tem razão. 

 Seguiram juntos com a mesma sincronia avante até a praia.
  O mais baixinho dos cabelos castanhos é o Raul, é muito observado e curioso. O maior se chama Belchior, ele também tem o cabelo castanho, porém maior e com uma franja um pouco mais cumprida. É meio desligado aos detalhes, mas sempre é ele quem toma a iniciativa, bom as vezes. Os dois tem o mesmo corte de cabelo, "Beatle" que os davam ainda mais uma aparência andrógino. Está era a moda dos jovens. Já a  diferença na altura é quase imperceptível..
  No decorrer do caminho Belchior nota algo a esquerda. - Olhe.. olhe ali em cima a sua esquerda mano, parece alguém.. uma garota.. - disse ele sem tirar os olhos da direção onde estava a "garota" Raul focou também e afirmou; Não parece, maninho, é uma garota ! Hahaha- disse ele entre risos de felicidade, e isso contagiou o Belchior também e os dois começaram a rir e saltitar abraçados, até que o Raul pisa em falso e cai ao chão levando seu irmão junto a ele. - Isso doeu, Raul. Você está bem mano? - Doeu mesmo, desculpe por isso. Estou legal e você maninho? - está tudo numa boa mano. Vamos, levante. - Estendeu os braço e levantou seu irmão. Os dois bateram as mãos no peito e nas pernas afim de tirarem a terra do corpo, tudo isso se iniciou e terminou em total sincronia.

  Enfim os dois irmãos voltam a atenção a garota. Prosseguiram em direção a ela que estava acima de uma árvore, que está acima de um monte elevado a uma altura considerável. Não seria tão simples subi-lo, não para os gêmeos gordinhos.

- Sabe o que eu notei mano? - O que maninho?- Ela não se mexe a um tempinho, será que está dormindo? - perguntou Raul enquanto puxava um galho fino e cumprido para sí afim de manusea-lo no restante do caminho

- Eu acho que sim. Depois que falarmos com ela vamos tirar um bom cochilo maninho. Eu estou cansado e com fome...
- Sim.- disse Raul agredindo o chão com sua vareta.

   Olhando em volta, a procura de alguma coisa útil ou até mesmo para encontrar mais alguém. Belchior, nota outra vez algo. E dessa vez é realmente algo e não alguém, o que ele achou, é algo tão delicioso que já o deixou com água na boca.

- Carambola, mano. Aquilo são frutas? - Frutas tipo carambola ? - Não bobo, olhe bem! Eu não consigo identificar que frutas são mas me parecem frutas, pelo menos daqui.

   Raul largou a vareta e com as mãos fez um binóculo e estreitou os olhos para que de alguma forma desse um "zoom" em sua visão, assim como as câmeras fotográficas.
- É mano, são mangas! -  Raul falou com tanta clareza e confiança que até fez seu irmão desconfiar daquele binóculo feito com as mãos ser realmente eficaz.

- Não brinca, como você tem tanta certeza?
- O binóculo é infalível mano, vem cá. experimenta. -  Raul levou o Binóculomão até os olhos de seu irmão e este analisou também - De maneira nenhuma, dá para identificar o que são com essa porcaria de mãos maninho - Não são porcarias mano, é o Binóculomão. Você precisa focar igual uma câmera fotográfica. - Como as que o papai tem? - Exatamente maninho.
- Mostra como você fez mano - pediu Belchior coçando a cabeça.  Raul então demostra, mas a sua careta chega ser ilária para Belchior e esse segura a risada, quanto mais ele segurava mais sua boca estufava como se alguém estivesse a enchendo de ar.

- Viu só, é fácil. Você só precisa fazer dessa maneira - Hahaha meu Deus haha eu realmente preciso fazer isso mano ? Hahaha - Isso não tem graça, eu só queria te ajudar
- Haha tudo bem mano eu irei fazer como queiras.
  Belchior então faz seu Binóculomão e Raul estreitas os olhos e se faz um momento de silêncio, só se ouvia o som da praia e de alguns pássaros.
- Uauu, funciona mesmo. Eu consigo ver, e são mesmo mangas mano! 
 Os dois então voltam a saltitar rindo até que o shorts do Belchior caem e dessa vez quem gargalha é o Raul. Mas isso não o chateou, sorrindo ele se apronta e os dois voltam a caminhar em direção a garota. Raul com sua vareta nas mãos e Belchior segurando o shorts para que não caia novamente.

- Precisamos chegar até ela rápido e descermos para a mangueira, estou com muita fome e imagino que ela também esteja mano.
- Concordo maninho.
No decorrer da subida já não se via mais a garota e Raul como de costume foi quem notou isso.
- Eu não a vejo mais maninho - Talvez ela tenha descido da árvore apenas. - Bom, vamos acelerar um pouco. Temos que se manter juntos com todos que encontrarmos. Isso é a melhor coisa a se fazer e não podemos deixar ela pensar que está sozinha nessa ilha.
- Tem razão mano, vamos buscá-la. E levar ela para comer também. Talvez se gritarmos ela consiga nos ouvir. - Vamos fazer isso então.

  Eles subiram o monte gritando por ela, a toda força, já no topo mal podiam falar direito. Realmente eles se empenharam muito nessa atividade... Mas em vão. A garota não estava mais lá, se é que realmente havia alguém ali momentos antes. Enfim, que estes irmãos se animam fácil e que também transbordam de inocência e felicidade a gente já notou, mas o que não sabíamos é que os dois se entristecem facilmente também.

- Ela se mandou, mano. Garota maluca, será que ela não poderia ter nos esperado. Ela não nos ouviu gritar?.- disse o Belchior com a voz falha.
- É possível maninho...  Vamos, temos que descer. Amanhã podemos voltar a procurar ela e tenho certeza que a encontraremos.
- Falou e disse mano

O sol já estava se pondo, o vento soprava frio. A selva se tornará assustadora agora. E os gêmeos só queriam chegar até a mangueira o mais rápido possível. Minutos depois, chegaram até a árvore. Os dois comeram tanta manga que suas barriguinhas rechonchudas só inflaram mais e os dois não conseguiam se mover de tão satisfeitos. Com os rostos indolentes, os lábios e as mãos meladas de manga, e entre os dentes de leite, muitos fiapos. Deitaram no chão e repousaram a cabeça nas grossas raízes da árvore e relaxaram ali mesmo com as mãozinhas fofas sobre a barriga. E sem dizer uma só palavra decidiram que ali seria o local da soneca. Nem conseguiam se mover para procurar um lugar adequado para dormir. Os dois se abraçaram e em instantes apagaram.. assim foi o primeiro dia dos irmãos na Ilha.

Na ilhaWhere stories live. Discover now