O segredo de Emma Campbell

Capítulo 29. A revelação

Thomas admirou os sobrinhos entrando pelo caminho do jardim, Emma vinha logo atrás enquanto Stella distribuía as pétalas de flores à frente. A menina usava um vestido que era a cópia perfeita do que Emma usava, que estava completamente linda e com um sorriso largo no rosto, caminhando na direção dele.

Ele ainda mal podia acreditar que ela seria sua esposa em algumas horas. Tudo parecia muito louco, ele nunca pensou que um dia amaria outra dama depois que perdeu Isabela, então ele estava passando pela rua, socorreu uma dama que estava passando mal e ela lhe escreveu uma carta para agradecer pelo auxilio, dois anos e alguns meses depois ele estava parado na frente do Arcebispo, vendo-a caminhar na sua direção. Em um picar de olhos, existia apenas os dois ali, apenas o olhar dela no seu e aquele sorriso enorme nos lábios dela, Thomas faria de tudo até o seu último dia para vê-la feliz daquela forma.

Como foi pedido por Emma e Thomas, o Arcebispo deixou os votos para o final, até mesmo depois que os dois já haviam dito o sim. Aquele era o momento em que ela revelaria toda a verdade sobre Lady Emyline para os convidados presentes, em algumas horas toda a ilha já estaria sabendo sobre aquilo.

Ela respirou fundo e entrelaçou os dedos aos de Thomas, buscando por apoio enquanto olhava para os convidados, eram quase cinquenta pessoas, a maioria já tinha sido citada por Emma nas colunas e poderia ter raiva dela, quererem machucá-la, mas ela precisava falar.

- Tenho total certeza dos sentimentos de meu esposo e a total certeza de que ele conhece os meus sentimentos por ele. – Emma começou, um pouco hesitante. – Então vou poupar vocês das palavras clichês sobre amor eterno. – Ela respirou fundo novamente e sentiu Thomas apertar a sua mão, o olhar dele era confiante e encorajador. – Todos sabem que sou muito conhecida pelas minhas muitas correspondências, inclusive estou aqui hoje graças a elas, mas o que vocês não imaginam é que eu me correspondo com toda a ilha de Gruffin.

Algumas pessoas riram, pensando ser algum tipo de piada, outras franziram a testa.

- Há alguns anos atrás, um incidente desagradável aconteceu comigo e me levou a fazer algo que nem mesmo a minha família sabe. – Emma prosseguiu e viu a mãe e os irmãos franzirem suas testas. – A nossa sociedade nos trata como mercadorias, princesas são dadas a outros países para formar alianças, nossos pais pagam para outros homens se casarem conosco, homens acham que podem chegar em uma de nós nos bailes ou na rua e nos seduzir para atender às suas vontades perversas. Eu passei por uma situação assim.

Todos pareciam chocados com a revelação de Emma e olhavam chocados para Thomas, desconfiando dele.

- A grande revelação que tenho a fazer é que Lady Emyline sou eu. – Um silêncio caiu sobre todos os convidados, que pareciam surpresos e chocados.

Uma onda de murmúrios se dispersou entre todos e algumas pessoas até mesmo pareceram enraivecidas, então a passou para trás de si e apertou a mão dela, pedindo com o olhar que Emma explicasse.

- Para quem não se lembra, a primeira coluna de Lady Emyline foi uma denúncia a dezenas de homens que seduziram, abusaram e abandonaram várias damas da nossa ilha. Eu vi minhas amigas passarem por isso, eu passei por isso, embora não tenha sido nada sério. Então eu criei Lady Emyline e publiquei aquela coluna, a repercussão foi maior do que eu imaginava, os homens denunciados por mim foram punidos e todos aclamavam pela próxima coluna. Foi esse o motivo que me fez continuar, eu dei voz às mulheres, eu denunciei coisas erradas que sempre aconteceram e nossa sociedade nunca fez nada a respeito, vocês pediram por mais depois daquela coluna, então eu continuei. Eu não teria parado se a situação não houvesse se tornado agressiva entre a sociedade, então eu me calei e, junto comigo, todas as mulheres se calaram também, mas creio que agora, depois de vários anos, as damas aprenderam a se defender desse tipo de ameaça que os homens representam e creio que os homens também perceberam que as damas sabem como atacar. Lady Emyline está aposentada, mas cada uma das damas que precisarem de auxílio, pode me procurar, ficarei honrada em continuar ajudando.

Quando Emma terminou, todos pareciam muito confusos e chocados para reagir. Os murmúrios recomeçaram, Emma viu algumas damas furiosas e até mesmo um cavalheiro dando um passo à frente, um que ela denunciara por seduzir as criadas da casa. Por um momento, Emma teve medo do que poderia acontecer.

Thomas a abraçou e Emma deixou as lágrimas rolarem e sentiu que mais alguém a abraçava, então ela notou que era Kate.

- Sinto muito por não ter feito nada quando você precisou. – Kate disse no ouvido dela. – Sinto muito por ter julgado Lady Emyline sem saber o motivo por trás de tudo isso, sinto muito por tudo. Me sinto uma péssima mãe por você não ter confiado em mim para contar isso.

Emma se desvencilhou de Thomas e abraçou a mãe.

- A senhora foi uma ótima mãe. – Emma disse, apertando Kate. – Eu sei que a senhora teria me ajudado se soubesse, mas eu queria poder resolver isso sozinha.

Emma sentiu várias pessoas ao seu redor, quando ela se afastou, ela viu que eram seus irmãos, prontos para confortá-la e protege-la contra os mais irritados com a revelação, mas, quem ela queria ali, a sua metade, não estava. Tudo que ela queria no momento era um abraço de Caleb, mas ele estava em Roma.

- Mas hoje não é um dia para ressentimentos e tristezas, hoje é o dia para comemorarmos o meu casamento com o maior cavalheiro desse reino. – Ela disse com um sorriso e apertou a mão de Thomas de novo. – Então, vamos todos para a nossa festa!

Se é que ainda há clima para comemoração... Ela acrescentou mentalmente.

Emma achou que pelo menos alguém iria querer no mínimo xingá-la, talvez Lady Fox fosse tentar agredi-la por ter feito com que o marido a enxotasse de casa depois da denuncia de traição, mas até mesmo ela parecia chocada demais com a verdadeira história de Lady Emyline para fazer qualquer coisa. Então Emma não iria reclamar por não estar saindo do próprio casamento com um olho roxo, não é mesmo?

Algumas pessoas demonstraram apoio à Emma pelo que aconteceu com ela, mas ela disse que estava tudo bem – e realmente estava, já fazia alguns anos que aquilo tinha acontecido e não chegou a ser nada sério, mesmo que a tenha traumatizado –, o restante das pessoas apenas ignorou as palavras de Emma e seguiram como se nada tivesse acontecido. Ela não sabia com qual se sentia mais grata, era bom saber que os outros se sensibilizavam, mas ter que ficar explicando diversas vezes como tudo aconteceu já estava sendo bem desgastante para ela.

- Você me daria a honra de uma dança? – Thomas perguntou com um sorriso e Emma aceitou, já indo com ele para a pista de dança no meio do salão da Casa Campbell.

Emma pousou as mãos sobre o peito de Thomas, sentindo o coração dele bater em sincronia com o seu, e fixou o olhar no infinito esmeralda dos olhos dele.

- Parece até um sonho, não é? – ele disse baixinho, pousando a testa contra a dela.

- Eu pensei que iria, no mínimo, ser xingada, mas parece que todos ficaram muito chocados para reagirem. – Emma falou e Thomas sorriu.

- É, isso também parece um sonho, mas eu estava falando apenas de nós dois, juntos, casados.

Emma sorriu.

- Obrigada por ter respondido à minha primeira carta.

- Obrigado por tê-la enviado. – Thomas rebateu, ainda sorrindo. – Você imaginava que acabaríamos assim quando escreveu aquela carta?

- Claro. – Ela disse como se fosse óbvio. – Eu vi como você era lindo e então já comecei a planejar tudo. Esse casamento começou a ser planejado quando você enviou a segunda carta.

Thomas riu alto e depois beijou-a, os lábios dos dois apenas se tocando levemente.

- Eu amo você. – Ele disse. – Caso não tenha ficado claro ainda, eu amo muito você.

Emma o abraçou apertado e sorriu, dançando nos braços do seu marido.