SOLEIL | LANCE STROLL

I.

— Vai, só dessa vez me deixa cuidar de você. Chega de dançar com idosas, beijar todas as mulheres possíveis ou arrumar garotas estranhas. Confia no papai! - Esteban disse rindo antes de virar o último gole de cerveja.
— Papai? Você quer me contar algo, frère?
— Bate na madeira, maluco! Ainda não é hora de você ser tio. — Ele disse gargalhando. Seu olhar pairou na loira dançando com a minha irmã no lado de fora. Ele sorria como se ela fosse um presente de natal. — Quero que você tenha isso, Lance.
— Vou pensar, prometo. —Disse antes de abrir mais uma garrafa de cerveja.

• • •

Me olhei no espelho e vi aquele cara de terno. Era um dia importante. Casamentos nunca foram o meu forte e eu odiava ter que fazer aquilo sozinho, sem uma garota pra dançar e recebendo o olhar de pena dos familiares dos noivos. Eu teria sorte se não acabasse em uma mesa com idosos solteiros ou adolescentes. Essa foi a razão pra que eu enfim ouvisse Esteban e deixasse ele me arrumar um encontro às cegas. Era o casamento de um dos meus melhores amigos, por que não? Até Max, que sempre foi meu companheiro de festas estava acompanhado dessa vez, não custava nada tentar. Esteban e Elena me conheciam bem, provavelmente me arrumariam uma garota que entendesse sobre carros, que pudesse conversar comigo durante algumas horas e dançasse uma ou duas músicas. Eu a deixaria em casa, e dependendo de como seria a noite eu a beijaria pra fechar com chave de ouro. Não podia ser tão diferente disso. Meu telefone tocou e o nome do meu melhor amigo apareceu no visor me tirando dos meus pensamentos.

— Ei, encalhado! — A risada de Elena ecoava no fundo. — Não se atrase, você vai encontrar a Arizona no casamento!
— Olha só, Arizona. Tenho direito a saber o nome dela agora? E não entendi... Eu não vou buscá-la? — Disse surpreso.
— Ah... Não. Achamos melhor não. - Ele disse rapidamente. - Até mais, Lance!

Ele já havia desligado. Peguei minhas chaves, respirei fundo e sai. Enquanto dirigia pensava no nome da garota que iria passar algumas horas comigo. Arizona. Não sabia o que esperar, mas Elena era modelo... Certamente eu estaria bem acompanhado. Estacionei o carro e fui em direção ao local. Daniel estava nervoso, cumprimentava as pessoas sem tirar o sorriso no rosto. Mas seus olhos demonstravam o peso daquele dia para ele. Ele havia encontrado a mulher da sua vida, não era pra menos. Acho que eu estaria ainda mais nervoso. Ao me ver entrar o sorriso do meu amigo aumentou de tamanho — se é que era possível.

— Amigo! — Ele me abraçou forte. Eu estava feliz por ele.
— Chegou o grande dia, hein?
— E você não faz ideia do quão aliviado eu estou de você estar acompanhado essa noite, Lance!
— Você acha que eu ia tentar beijar sua noiva ou algo do tipo? Entendo sua insegurança, eu sou realmente bonito! — Ele me deu um soco leve no ombro e rimos juntos.
— Minha preocupação era com as primas da Bel aqui. O que a família da minha mulher ia pensar? — Ele disse rindo. — Espero que você encontre a sua parceira de vida também, Lance. É incrível ter alguém torcendo por você genuinamente e esperando por você na garagem com um sorriso no rosto independente do resultado.
— Ei, você vai me fazer chorar! — Disse debochando do romantismo do meu amigo. — Tenho uma garota pra encontrar, e você também. Aliás, boa sorte no seu encontro!
— Boa sorte no seu encontro, parceiro! — Ele disse reconhecendo a frase dos nossos velhos tempos.

Vi Esteban parado ao lado de Max e uma garota que eu ainda não conhecia pessoalmente, apenas pela quantidade absurda de fotos que o loiro fazia questão de mostrar a todo momento. Ela era bonita. Passei por todos os convidados, cumprimentando os conhecidos e esbarrando em algumas pessoas. Todos pareciam empolgadas, o amor do meu amigo transbordou e conquistou boas pessoas.

— Atrasado? — Sussurrei no ouvido do Esteban.
— Ei, Lance! — Ele se virou me abraçando. — Essa é a Mel, namorada do Max!
— Olha só, ela existe! — Olhei para Max que estava ainda mais vermelho. — Muito prazer, Mel. Seja bem vinda a esse universo maluco!
— Muito prazer, Lance! — Ela disse rindo, parecia sem graça assim como o namorado.
— Elena está com a Arizona? — Perguntei tentando não parecer ansioso.
— Está! Senta, elas já devem estar vindo.
— Esteban, falta uma cadeira aqui! — Disse me sentando na ponta da fileira.
— Que indelicadeza a minha, acabei levando a cadeira junto para o banheiro!

A voz vinha de trás. Elena estava junto e empurrava a cadeira da garota. Meus olhos estavam perdidos. A garota era realmente linda, tinha os olhos cinzas que me hipnotizaram de primeira. Os cabelos escuros caiam perfeitamente e o rosto era delicado. A boca parecia desenhada para o seu rosto.

— Lance, essa é minha melhor amiga Arizona. Soleil, esse é o melhor amigo do Esteban, Lance. — Elena nos apresentou.
— Très heureux, soleil! — Disse segurando a mão da garota que parecia segurar o riso.
— Apenas a Elena me chama de Soleil, bonitinho. — Elena soltou um riso baixinho se sentando ao lado do namorado. — Vai ser bom ter alguém pra ir ao bar pra mim.
— E então, Arizona... Me fala de você. — Disse a olhando.
— Bom, eu tinha 14 anos quando sofri o acidente e...
— Arizona, sobre você. Quem você é além da cadeira de rodas.
— Uau, você quer conhecer a parte sem as rodas?
— Por favor! — Disse me ajeitando na cadeira, mostrando interesse.
— Sou canadense, Elena sempre foi minha melhor amiga e a única que restou pra empurrar a cadeira. Tenho muitos irmãos e minha mãe é estadunidense. Então temos nomes de estados dos Estados Unidos. Sim, eu tenho uma irmã chamada Alabama.
— Não brinca!
— É sério! — Ela disse em meio às gargalhadas. — Mas o melhor é meu irmão mais velho...
— Ah, não...
— Utah!
— Não, Arizona. Não! — Disse gargalhando.
— Eu juro, e ele é pai.
— Qual o nome da criança, Arizona? — Minha voz tinha um tom de desespero, realmente curioso.
— Salt Lake! — Ela botou a mão na boca pra rir discretamente.
— Não, por favor! — Nossa risada era um uníssono.

Arizona era divertida, leve. Não restava dúvidas de que seria uma boa noite.