Contei tudo o que ouvi e senti para meu pai, quando percebi que estava errando ao não falarmos sobre o assunto. As pessoas da vila estavam a cada dia mais amedrontadas e era inquietante a maneira de que todos evitavam a questão, como se por muito ignorar, ela desapareceria. Alguns homens com um pouco mais de coragem se reuniram, decididos a resolver o problema, então nesta reunião falamos tudo o que sabíamos e cada um teve a oportunidade de dar uma opinião. Durou um dia inteiro até que todos pudessem se expressar, lembramos de Eva e o quanto ela parecia culpada quando chegou a nossa vila, mas agora que estava morta, não havia como culpa-la.
Algo que foi notório entre todos estes homens, é que ninguém jamais viu coisa alguma, não vimos uma criatura, alguém ou nem mesmo de longe uma silhueta e foi discutido como todas as mulheres não pareciam se incomodar com a situação. Fora a falta de peixes, não havia nada na vila ou nas águas que pudesse preocupar as mulheres, o que trouxe mais uma vez a teoria de que estávamos sofrendo uma espécie de surto coletivo, um delírio momentâneo causado pelo excesso de trabalho e exposição ao sol, logo um tempo de descanso e lazer traria a sanidade a toda vila novamente.
Eu simplesmente não podia ignorar a presença que eu sentia a todo instante, uma sensação de estar sendo ameaçado e havia outros com o mesmo sentimento, então restaram cinco de nós, contando comigo e meu pai, que não estavam convencidos que podíamos simplesmente ir dormir um pouco. Começamos a preparar uma estratégia que obrigasse, seja o que for, a se mostrar. Notamos nas histórias que toda vez que um homem desafiasse a autoridade desta coisa, ficavam nítidos os sinais de que ela estava lá, o seu cheiro peculiar, seu canto e as alucinações que causava, então iriamos nos armar e partir novamente para o mar.
Foi passado uma semana até que nos reunimos novamente, agora nossa pequena missão estava conhecida por toda vila e outros sete homens se uniram conosco para nos ajudar. O objetivo era usar dois barcos grandes, para que em caso de batalha, não afundássemos facilmente.
Algumas mulheres já cansadas de ouvir-nos falando sobre isso, decidiram ir conosco, para provar que estávamos malucos e que tudo estava normal e os peixes simplesmente acabaram. Pensamos em proibi-las de irem, mas a vontade de provar que havia algo oprimindo a vila foi mais forte do que nossa razão. Agora éramos doze homens e quatro mulheres, todos despreparados para qualquer atividade a não ser pescar. Levamos conosco alguns arpões, redes e um de nós carregava um arco e algumas flechas que herdara de seu pai.
Os barcos estavam então preparados, foram feitos sacrifícios aos deuses e quando tomamos coragem para partir, apareceu o Sr. Clark, líder de nossa vila que desapareceu depois da morte de Eva. Eu via em seu rosto o quanto ele sofreu todos esses dias, ao seu lado estava o Sr. Lane, dono da maioria dos barcos de pesca. Ambos estavam distantes a muitos dias e agora que souberam dos nossos planos estavam dispostos a nos ajudar.
- Tenho alguns barris de óleo - disse Sr. Clark - Vamos leva-los conosco para queimar essa criatura.
Ele falava com ódio, não nos atrevemos a mencionar Eva.
- Perdi muito dinheiro com a falta de peixes - diz Sr. Lane - Eu sei que alguma coisa está se escondendo nessas águas e temos que pôr fim a isso, mas temos que esperar mais alguns dias, contratei homens de algumas vila próximas para nos ajudar.
Esperamos mais quatro dias até que os homens dos Sr. Lane chegassem à vila, então nos equipamos, fizemos algumas estratégias, discutimos planos e então estávamos prontos e encorajados uns pelos outros partimos no fim da tarde mais uma vez para as águas, cheios de confiança e ânimo, vinte e cinto homens e quatro mulheres, divididos em cinco barcos que se mantinham sempre a uma distância curta.
As pessoas da vila se reuniram na praia para nos ver partir. Vi alguns rostos tristes e talvez decepcionados por não virem conosco, mas agora era tarde. Pouco a pouco ganhávamos distância da praia e nossas atenções se voltaram para o que estava à frente. Como combinamos, dando uma certa distância da praia, lançamos no mar uma grande rede que era unida por todos os barcos com a ideia de capturar ou atrapalhar a criatura na água. Lançamos também correntes nas laterais dos barcos, com vários grandes ganchos para que possamos prender o que passasse por lá. Agora estávamos rodeados por trevas, salvos pelas lamparinas e tochas dos barcos.
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Lá nas águas - Eu vi!
FantasyJoe Davis, um velho caçador se senta para nos contar algumas experiências que um velho aventureiro pode ter vivido nas terras de Heimurr. Quando mais jovem, antes de se tornar caçador, Joe vivia em uma vila pescadora e aos 12 anos, a vila passa a v...