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OS SONS DAS MESAS DE BILHAR se mesclavam com a vozearia dos homens e mulheres que cercavam cada mesa no bar

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OS SONS DAS MESAS DE BILHAR se mesclavam com a vozearia dos homens e mulheres que cercavam cada mesa no bar.

Yoongi ria junto de Jin-young e Youngjae, amigos dele — aos quais fui introduzido ao chegar —, enquanto secavam a sétima garrafa de cerveja levada até nossa mesa desde que me juntei a eles.

O conforto que Yoongi supostamente me daria havia escoado cerveja abaixo nos primeiros quinze minutos de conversa que tivemos. Foi quando a ruiva cheia de curvas, sentada em seu colo, se juntou a nós. Jin-young e Youngjae estavam tão aéreos quanto meu amigo, soprando baforadas de fumaça do que quer que fosse que tragavam em seus narguilés.

Minha mente rodopiava naquele ambiente, os pensamentos se embaralhavam e as pálpebras pesavam; um alerta de que havia ingerido álcool demais — mais do que o suficiente para esquecer os problemas.

Porém, eu não consegui esquecer os meus problemas mesmo com a alta ingestão de álcool. Era o oposto. Minha mente estava disposta a me torturar, lembrando-me de que não devia estar ali, naquele lugar. Meus ombros recaíam com a culpa de ter sido fraco, de não suportar o clima pesado exalado no velório de Yeon-jun, ao lado de Yiren. Minha mente me condenava por não suportar os olhares de esguelha dado por sua família enquanto a apoiava emocionalmente.

Talvez eu pudesse me sentir menos culpado se Yiren estivesse comigo. Se tivéssemos escapado juntos. Mas eu havia permitido que ela fosse para casa com o pai­, dando mais um motivo para meus sogros desgostarem de mim.

Eu desgostava de mim.

Que espécie de noivo abandona sua amada quando ela mais precisa?

As coisas podiam estar difíceis para a família de Yiren, eles podiam estar chateados comigo por não ter feito nada para impedir Yeon-jun e Kai de saírem na nevasca quando me seguiram, mas, em algum momento, eles conseguiriam conviver com a perda e me perdoar. Eu teria que aprender a conviver com isso. Com esse peso. Por mais difícil que fosse, por mais que eu enxergasse o rosto sem vida de Yeon-jun se arrastando até mim a cada vez que fecho os olhos. Yiren não tem culpa do inferno que existe dentro de mim, dos meus pensamentos tortuosos, graças aquele infeliz pesadelo.

Eu não posso deixar que a culpa me puxe para longe de Yiren como uma bola de demolição, amarrada em meu pescoço. Não posso perder a mulher que amo.

Chequei a hora no visor do celular, pouco antes de ele apitar e desligar, o coração apertado e angustiado. Eram 2h53. Yiren já deveria estar dormindo, sobretudo se estivesse triste. Mas, queria vê-la para me desculpar por não ter suportado a acusação implícita no olhar de meus sogros, por isso ergui-me da cadeira e me despedi de Yoongi antes de seguir para a saída dos fundos, onde, segundo meu amigo, daria de cara com o ponto de táxi.


O cheiro rançoso e almiscarado de suor, misturado a cerveja e cigarro foi substituído pelo de urina e lixo assim que saí do bar. Os ruídos foram silenciando-se conforme seguia no beco estreito e escuro entremeio as construções altas, seguindo na direção indicada por Yoongi.

Não havia estrelas ou lua no céu. Os satélites naturais estavam indispostos demais para cumprirem seu papel naquela noite, fazendo-me tropeçar em caixas de papelão e sacos com sabe-se-lá-o-que espalhados na viela.

Meus pulmões pesavam e tentei ao máximo puxar o ar pela boca, para evitar o mau-cheiro que revirava meu estômago e chapinhavam em meus sapatos enquanto andava.

Aquele beco escuro e estreito me fez lembrar do corredor onde costumo ficar preso em meus sonhos. Tirando os sacos e caixas que chutava, a sensação de estar sendo vigiado e enclausurado por aquelas paredes, me afligia tanto quanto nos pesadelos. Pressionei as têmporas e expulsei o ar dos pulmões, devagar.

A escuridão se tornava cada vez mais opressora, a luz da avenida se tornava mais distante a cada passo que eu dava. O céu sem estrelas baixava sobre mim, envolvendo-me num abraço obscuro. Minha respiração entrecortada se condensou devido ao frio, as batidas arrítmicas do meu coração, e o medo, me torciam de dentro para fora.

Encolhi os ombros quando um arrepio percorreu meu corpo. Isso deveria ser o suficiente para despertar meu cérebro embriagado, porém, permaneci grogue e cada vez mais sonolento. Disse a mim mesmo que a sonolência só vinha a quem estava acordado. Lúcido. Ou quase. E me reassegurei de que o beco não era o corredor assombroso de meus pesadelos, não havia sussurros ao meu redor.

Porém, meu cérebro estava com dificuldade em assimilar aqueles fatos simplórios.

Fechei os olhos e pressionei as têmporas, uma dor latente comichava meu crânio, prestes a se tornar opressora. Sem enxergar o que havia diante de mim, chutei algo. Abri as pálpebras e esperei minhas vistas se acostumarem a escuridão outra vez, antes de me abaixar para ver o que havia chutado. Mesmo tendo uma ideia do que poderia ser aquele objeto adornado com uma moldura prateada e mediana, e devido ao "creck" ecoado quando o chutei, manuseei o objeto entre os dedos com cuidado, virando sua face para cima.

Um riso irônico escapou de minhas narinas quando vi a rachadura que dividia meu reflexo em duas partes. Era realmente um ótimo sinal quebrar um espelho. Nem me sentia azarado o suficiente antes de fazer isso.

Por que está preocupado, Seokjin? Talvez já estivesse quebrado!

Girei o rosto abrupto, ouvindo uma voz sussurrada em meu ouvido.

Aquela voz...

Era a mesma, profunda e sombria, que me chamava em meus sonhos.

— Seokjin.

Um fragmento da lua surgiu detrás das nuvens e iluminou o espelho que eu segurava, quando meu nome foi sussurrado pela terceira vez. Meu coração perdeu o compasso, a mão que não segurava o espelho cobriu minha boca e meus olhos se arregalaram.

Meu reflexo me encarava com um sorriso arqueando os lábios volumosos e vermelhos; os olhos semicerrados. Eu não só não estava sorrindo, como meus dedos não apareciam no espelho, por mais que estivesse tocando meu rosto, e as iris nos olhos que me observavam eram da cor da lua que me iluminava.

Fora do espelho, meus globos oculares estavam ao ponto de saltar dos orifícios, entretanto o Seokjin que me encarava tinha um sorriso debochado estampado na face.

A moldura tremeu em minhas mãos. Tentei jogá-la para longe, mas por alguma razão não pude soltá-la. Meus dedos estavam engessados. Paralisados. Meus olhos haviam sido fisgados por aquela figura.

A minha figura.

Enquanto nos encarávamos, alguns fios brancos surgiram em meio aos pretos que compunham minha cabeça, espalhando-se por toda a cabeleira escura como o sincelo cobria as superfícies durante o inverno.

— Esse não sou eu! — balbuciei.

Embriagado ou não, acordado ou não, tudo que queria era me livrar daquela imagem deturpada de mim mesmo, por isso me ergui do chão e impulsionei o braço, pronto para jogar aquele objeto amaldiçoado no chão.

Porém, um grito me fez parar. O grito estrangulado em minha garganta, quando meu punho foi agarrado por uma mão.

A minha mão.

Voltei os olhos para o espelho, onde o reflexo que me encarava havia parado de sorrir. Os fios escuros deram lugar aos longos e brancos adornando um rosto desconhecido cuja pele soltou-se dos ossos ao dizer:

— Não sou você, mas faço parte de você... você é meu, Seokjin.



Espero que não estejam morrendo de tédio. Beijos e até a próxima  atualização. 💛

ᴀɴᴋᴏᴜ ᵏˢʲOnde histórias criam vida. Descubra agora