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Dizem que quando uma pessoa está em coma, ela pode ouvir você conversar com ela, pode sentir sua presença. No meu caso, eu podia ver a pessoa. Como? Nem eu mesmo sei. Minha alma, ou meu espirito, sei lá, está fora do meu corpo e vaga por esse hospital, desde o dia que entrei em coma.

Foi assim que "acordei". Me sentia sozinho, já que ninguém podia me ver. Não tinha com quem conversar. E não tinha vontade nenhuma de acordar de verdade, já que o que me trouxe aqui, nesse estado, me deixou órfão de pais. Ainda tinha meu irmão, que por Deus, não estava no acidente. Então seriamos só nós dois contra o mundo.

Na maioria das vezes foi assim, já que ele era o mais velho. Ele hoje, tem 21 e eu 16 anos, em alguns dias, faço 17. Acho que só estou ligado a esses aparelhos até hoje devido a ele, pois se não fosse ele, os médicos já teriam desligado tudo. Estou nesse estado há 3 meses. Três meses vagando sozinho nesse hospital.

Meu irmão vem me ver todo dia nos horários de visitas, de manhã e quando sai do trabalho. Ele foi forte quando recebeu a notícia de nossos pais, ambos faleceram na hora. Meu irmão quem correu atrás de tudo, velório, enterro e patrimônio, fez tudo isso sozinho. E eu aqui, inútil não podendo fazer nada. Nem de luto por meus pais eu pude ficar. Nem ajudar meu irmão com toda a papelada eu pude.

No hospital é o pior lugar para se estar "vagando". Vi tantas mortes. Vi também alguns espíritos, como eu, mas eram passageiros, pois a pessoa morria e seu espirito ia em direção a uma luz. Me sentia sozinho.

Até que um dia tudo muda...

Bom, vou contar minha história...

Meu nome é Nicholas, mas os mais próximos de chamam de Nico. Sempre fui um garoto tímido, sempre preferi passar por despercebido na escola, mas nunca consegui. Sou meio distraído, então quase sempre derrubava algo, trombava em alguém ou caia. Era natural. Nunca fui o garoto popular na escola e nunca quis ser. Que ironia da vida, hoje estou "invisível".

Nas aulas, era aquele menino que sentava na primeira carteira, fazia todas as lições e tirava notas altas. Nos intervalos, ia até a cantina, comprava algo e voltava para sala para ler meus livros e evitar cair em cima de alguém.

Eu era o típico nerd, mas sem o estilo nerd, ou seja, não usava óculos, não tinha o cabelo penteado. Sou ruivo, cabelo bagunçado, algumas sardas na cara e olhos castanhos claro, puxando para o mel.

Embora eu nunca, nunca mesmo, tenha beijado um cara, ou uma menina, sei que sou gay. Sempre soube que era um garoto diferente. Sempre tive atrações por homens, mesmo sem ter tido nenhuma relação com ambos o sexo. Sou extremamente tímido e não consigo me socializar facilmente.

Em casa, claro que meus pais não sabiam da minha sexualidade. Já meu irmão mantemos uma relação aberta, conversamos sobre tudo, confiamos um no outro para contar nossos segredos mais secretos, embora que mesmo com ele, eu sentia um pouco de vergonha. E por isso, fico me martirizando, meus pais morreram, não deixei eles me conhecerem de verdade, um segredo entre a gente, que agora, nunca poderão saber.

Sempre gostei de ficar na minha, ficar no meu canto com meus livros e meu fone de ouvido e esquecer do mundo. Alguns meninos na escola, aqueles populares, as vezes implicavam comigo, me derrubavam ou me ofendiam, mas nunca dei audiência para aquelas cenas deles. Me levantava e saia, claro que aumentava as zoações com o passar dos dias.

Meu grupo de amigos, é formado pelos "nerds" igual eu da minha sala. Então trabalhos em grupos, eram só nós 4, eu, Fred, Karina e Rebeca. Fred é moreno, tem a mesma idade que eu e usa aparelho, é sempre o alvo das zoações do colégio; Ka é negra, tem cabelos pretos encaracolados até a cintura e usa óculos, é bonita, mas como os garotos da minha escola só buscam líderes de torcidas gostosas, ela é fora de padrão para eles; e tem a Beck, loira de cabelo chanel, acho que a mais rica da sala, tinha tudo para ser a rainha das líderes de torcida, mas é empenhada e tem seu futuro inteiro planejado, sua faculdade, seu trabalho etc.

Claro, como todo adolescente no colégio, eu tinha a minha "paixãozinha de colegial". Ele se chama Tyler, ou Ty, como todos o chamavam. Ele é um dos populares e capitão do time da escola. Ele tem um corpo perfeito, todo malhado e um sorriso lindo. Nunca tinha reparado nele, pois para mim, ele era um ogro igual seus amigos, mas estava errado. Um dia, estava sendo alvo de zoação para um de seus amigos, até que ele me defendeu. Desde então eu sonhava com esse menino, meu pequeno príncipe.

Depois desse dia, vi que ele me encarava o tempo todo e sorria, mas o que eu fazia era dar um pequeno sorriso envergonhado e baixar a cabeça. Fiquei me perguntando o que poderia significar, mas achei melhor não levar a sério, vai ver ele estava apenas tentando ser simpático. E tive a certeza de que não era nada, pois há 3 meses estou nesse hospital, em coma e as visitas que recebo é de meu irmão, que vem todos os dias e meu grupo de amigos quando podem. O que não é frequente.

Eu amo a hora das visitas. Meu irmão fala comigo quase que o tempo de visita inteiro. Me conta como foi seu dia, sempre me fala o quanto sente minha falta. Eu só queria voltar, por ele, mas não consigo, nada que eu faça, não consigo acordar.

O horário de visita acabou há 30 minutos acho, mas parecem que já se passaram anos. Sozinho, apenas andando, sem ninguém para conversar é horrível, um minuto parece a eternidade.

- Por que você não acorda logo ou dorme de vez? – digo olhando para meu corpo deitado naquela cama

Percebo uma movimentação de médicos do lado de fora do quarto. Vou até a movimentação para ver sobre o que se trata. Aprendi uma coisa nesse tempo aqui, quando tem movimentação de médico acontecendo, é: 1. Alguém está morrendo, ou; 2. Alguém chegou morrendo.

Neste dia foi a opção 2.

Um amor do outro lado (Romance gay)Where stories live. Discover now