II

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Entrou sendo carregado numa maca, um rapaz de aparentemente 19 anos, com o rosto inchado e coberto de sangue. Ele estava acordado quando entrou, mas não proferia uma única palavra. Mesmo coberto de sangue, eu vi como ele era lindo.

- Assaltado por um grupo de rapazes que o espancaram, o sujeito levou pauladas e está com o abdômen perfurado por objeto cortante – disse um dos bombeiros aos médicos socorristas de plantão.

- Levem-no para a sala de cirurgia – solicitou o médico para a enfermeira que estava empurrando a maca.

Por mais que eu seja curioso, nunca entrei na sala de cirurgia no momento que a estão realizando. Acho que me falta coragem para ver e também falta de respeito, embora ninguém me veja.

Decido ir de volta para o meu quarto, ver se consigo fazer meu corpo acordar para poder abraçar meu irmão, ficar de luto por meus pais e ter uma vida novamente. Mas meu pensamento está naquele rapaz que acabará de chegar.

Talvez eu estivesse preocupado. Ele estava com uma aparência horrível, estava quase morrendo, talvez morresse. Resolvi ir para a sala de espera, pelo menos lá era o único lugar que eu podia me distrair, já que a TV ficava ligada. Começou a passar jornal local.

- Jovem é abordado por 5 caras e é assaltado e espancado nesta noite no centro da cidade, um senhor que estava próximo ao local chamou a polícia e os agressores fugiram quando escutaram as sirenes – dizia a jornalista – vítima se encontra internada no hospital e seu estado é de risco.

- Eu sei, eu vi seu estado quando chegou – disse em voz alta, mas não me preocupei, ninguém iria me escutar mesmo se gritasse.

Queria muito ler um livro para me ajudar com esse tempo sozinho, ou assistir uma das minhas séries, mas não havia como. Tinha que me sustentar com aquele noticiário. Vejo alguns médicos novamente, acredito que a cirurgia havia acabado.

Uma senhora, com os olhos vermelhos e a cara arrasada, entrou na recepção do hospital, acompanhada por um policial. Ainda chorando, ela parou o doutor e levanta uma foto. Na foto pude reconhecer o rapaz e ele de fato era lindo. Tinha os cabelos negros, baixo e despenteados, pele alva, olhos um pouco incomuns, um verde e outro cor de mel, e um largo sorriso no rosto.

- Doutor, diga que não é meu neto que está correndo risco de vida, por favor - a senhora tremia, enquanto entregava a foto para o doutor.

- Eu sinto muito, foi o seu neto que deu entrada aqui está noite – explicou o médico – tivemos que fazer uma cirurgia, paciente está indo para UTI no momento, teve algumas perfurações no abdômen e pulmão o que ocasionou hemorragia interna, então deverá ficar no balão de oxigênio. Ele está em coma no momento, devido a um traumatismo craniano – concluiu o médico.

- Meu Deus – exclamou a senhora e suas lágrimas voltaram a brotar em seu rosto.

- A senhora pode me acompanhar, preciso preencher alguns formulários de registro do senhor? – perguntou o médico

- Bernardo – respondeu a senhora com a voz embargada pelo choro

- Vóóóóó – escuto um voz e me viro em sua direção, quando o vejo.

Lá estava Bernardo, parado em perfeito estado, não parecia mais o rapaz ensanguentado. De repente ele começa a correr em direção a sua avó para abraça-la e aí aconteceu. A resposta de sua perfeita aparência. Ele a atravessou.

Ele estava fora do seu corpo, igual eu.

Um amor do outro lado (Romance gay)Where stories live. Discover now