aquele com o apartamento

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SEM ELEVADOR E COM UM ALUGUEL CARISSIMO, o apartamento que meus pais haviam alugado era o que poderíamos chamar de desastre natural. Com meu colega de apartamento sendo meu meio-irmão, as coisas não melhoravam muito. No momento que entrei com minhas caixas, sabia que havia sido uma escolha terrível morar com ele.

Ben havia entrado no apartamento algumas semanas antes para se adaptar e fazer as pequenas reformas. Onde ele havia colocado as reformas? Essa era uma boa pergunta. Não havia nada realmente bom naquele lugar. Tínhamos um sofá velho, uma poltrona que em nada combinava e uma porção de caixas de pizza jogadas pelo apartamento.

— Isso é...

— Uma maravilha, não!? — Mamãe parecia empolgada.

Fazia anos que ela não pisava naquele lugar e todas as histórias que tinha... Não me surpreendia que estivesse tão empolgada. Eu também queria estar, para ser honesta. Quando eu havia recebi a chave fiquei tão excitada! Só conseguia imaginar tudo o que faria ali. Agora, só conseguia pensar em quão acabado estava o lugar e...

— Ah, não! — Exclamei ao sentir que pisava em algo mole. — Esse sapato era novo!

— Tudo bem, Emma. Ainda dá para limpar sem ficar manchado... Venha, sente aqui e tire o sapato.

— Não dá para comprar uma tinta nova, muito obrigado. — Ben reclamou enquanto trazia uma das minhas caixas. — E encontrar um lugar para todas essas coisas... Você achou que estava se mudando para outra mansão?

Obviamente eu sabia que ali não era tão grande quanto o apartamento de minha mãe, mas haviam coisas das quais eu não poderia me desfazer. Por esse motivo revirei meus olhos, algo que fazia constantemente na presença de Ben.

— O que tem nessa caixa? — Perguntou, colocando-a junto com as outras cinco que já havíamos subido.

— Roupinhas do Doggo.

— Roupas de cachorro?

— Esperava que eu deixasse meu melhor amigo andar nu pela cidade?

— Ele é apenas um cachorro. É assim que a maioria anda por aí.

Respirei fundo, não iria surtar. Pelo menos, não naquele momento.

Após entregar meus sapatos para minha mãe – que garantiu que iria conseguir deixar eles limpos e sem nenhuma mancha -, peguei uma das caixas que já estavam na sala. Como uma pessoa ansiosa, eu precisava desempacotar tudo rápido. Não via a hora de deixar meu quarto com minha cara e dar uns toques pessoais naquele apartamento.

— Qual é meu quarto? — Perguntei antes que Ben descesse para pegar outra caixa.

— Porta da esquerda!

Encarei a porta com a adrenalina correndo em minhas veias. Estava louca para soltar alguns gritos alegres pela casa e me jogar no sofá... Eu estava prestes a morar sozinha! Isso parecia loucura.

— Quando eu morava aqui, este era meu quarto. — Mamãe explicou. — Seu irmão foi bem esperto em pegar o quarto da Mônica... Ele é um pouco maior.

— O que!? — Exclamei, indignada.

Eu tive que entrar em ambos quartos apenas para me certificar de que minha mãe estava falando a verdade. Não era possível que eu ganhava um apartamento e meu irmão ficava com a maior parte. Na verdade, aquilo era totalmente injusto e um dia eu iria fazer com que ele saísse do maior... Mas não naquele dia.

Segurei meu orgulho para não sair gritando com Ben pelo resto da tarde e segui para aquele que seria meu quarto pelos próximos seis meses no mínimo. Provavelmente eu trocaria o colchão em pouco tempo, pois não parecia muito confortável. Havia espaço suficiente para colocar minha luminária rosa na cabeceira e alguns produtos de hidratação noturnos. A caminha de Doggo poderia ficar no canto esquerdo oposto a cama e... Não havia espaço suficiente para todas as minhas roupas. O caos estava começando.

— O que eu vou fazer? — Choraminguei.

— Tem um pequeno quarto nos fundos, acho que dá para colocar as coisas que você usa menos lá... — Mamãe sugeriu.

Como ela conseguia ser tão positiva quanto aquele apartamento? Eu nem mesmo conseguia imaginar como ela conseguiu viver no outro lado do corredor comigo. Ainda tinha muito que aprender sobre a vida, ela mesmo já havia me dito isso uma porção de vezes, mas eu pensava que a pior coisa que me poderia acontecer era não ter passado na faculdade que eu tanto queria.

Ainda houveram outros surtos de "garota mimada", como disse Ben, naquele dia. Primeiro havia sido o tamanho do quarto, depois como encaixar metade das minhas coisas no que chamamos de quartinho da bagunça e por fim chorei por ter que escolher entre minhas dez caixas de sapatos e a bolsa da Louis Vuitton que minha tia Amy – aquela doida que me chamava por dezena de nomes que começavam com 'E', exceto Emma – havia me dado de presente no ano anterior. É claro que escolhi meus sapatos, mas eu conseguiria arrumar um lugar para encaixar a bolsa assim que conseguisse colocar ordem naquela casa.

Por fim, papai subiu com a última caixa onde estavam meus objetos de decoração favoritos e um anel de luz que eu costumava usar para tirar fotos quando estava entediada. Havia sido um dia longo, sentia falta de Doggo – o sortudo estava em hotel para cães – e queria muito deitar na cama e me afogar em algum clichê romântico do Netflix.

— Você vai ficar bem? — Papai perguntou, se alongando como se houvesse feito um grande exercício.

— É claro que eu vou. — Respondi com entusiasmo. — Estou começando uma nova fase na minha vida. Sua menininha está crescendo e...

— Minha menininha está crescendo... — A voz de papai mudou repentinamente, como se estivesse preste a chorar. Típico de Ross Geller.

— Promete que vai me ligar se tiver algum problema? — Mamãe questionou, demonstrando aquela preocupação que sempre teve comigo.

— É claro!

— Principalmente se esse problema for garotos?

— Mãe...

— Querida, você está se tornando uma mulher. É normal que daqui uns dias vai querer trazer alguém para casa e...

— Ben não vai deixar isso acontecer. — Novamente, a bipolaridade de meu pai atacava. De homem sentimental a pai ciumento em poucos segundos.

Ben balançou a cabeça e fez uma pose de quem era completamente responsável quanto a segurança da virgindade da irmã. Eu duvidava muito que ele fosse me impedir de qualquer coisa.

— Não esqueça de buscar o Doggo amanhã. — Mamãe me lembrou.

— Nós te amamos. — Papai disse.

E lá estava eu, abraçando meus pais como se não fosse vê-los por muito tempo. 

𝐄𝐌𝐌𝐀'𝐒 𝐅𝐀𝐁𝐔𝐋𝐎𝐔𝐒 𝐀𝐃𝐕𝐄𝐍𝐓𝐔𝐑𝐄 ━━ friendsWhere stories live. Discover now