Capítulo 43

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— Eles não deviam ter falado aquelas coisas! — Min Jun acariciava minhas costas — Não é justo.
— Eu meio que tô acostumada com isso... Não esquenta.
— Não... — Murmurou – Não deveria. Eu odeio tanto a forma como te tratam, como se você não fosse humana, como se não tivesse sentimentos. Eu não posso deixar isso continuar Lisa, não posso, ainda mais sendo seu futuro marido...
— O que? – Indaguei piscando uma dezena de vezes.
— Eu quero ser seu marido. — Olhou dentro de meus olhos e segurou minha mão – Se quiser casar comigo, é claro.
— Está me pedindo em casamento?
— Mais ou menos... – Levantei as sobrancelhas – Digo, não é um pedido oficial, não é assim que eu quero te pedir em casamento... Eu quero fazer tudo certo.
— E por que acha que eu aceitaria?
— Eu não tenho certeza se aceitaria, você não é tão previsível e não acharia estranho se rejeitasse depois de tudo que aconteceu...
Sorri e acariciei seu rosto, seus cabelos bagunçados.
— Faria isso agora mesmo se pudesse – Respondi e o beijei.
— Mas antes preciso contar tudo pro meu pai.
— Espere, o que? Ele não sabe?
— Não, ainda não sabe que terminei meu noivado com Hae Jim.
Fechei a cara.
— Eu não acredito!
— Só me escuta – O fitei séria – Eu não posso dizer ainda, porque preciso que ele te aceite e eu tenho um plano, só preciso que confie em mim, eu quero que meu pai a considere como filha, como família, não quero que seja rejeitada e excluída pela minha família, por isso ainda não o disse nada, preciso agir com inteligência e dar um passo de cada vez. As coisas no meu país são diferentes Lisa, quero que seja bem vinda em nossa família e se torne uma Hyun. Por favor, confie em mim dessa vez. Por favor.
— Tudo bem, eu confio em você, mas se me fizer de boba, eu juro, juro que acabo com tua raça! – Rosnei.
— Entendido senhora! – Beijou minha bochecha.
— Só a título de curiosidade, eu vou me chamar Elisabeth Scott Hyun?
— Se quiser, sim.
— Interessante... – Sorri sem jeito – Preciso fazer xixi, e de um banho, eu tô grudando de suor – Fiz uma careta e saltei da cama.
— Com fome? Posso fazer algo pra gente comer.
— Macarrão instantâneo? – Fiz outra careta.
— Eu tenho kimchi... – Cantarolou.
— E o que tá fazendo ainda nessa cama?
***
Descalça caminhei até a cozinha, seguindo o cheiro de comida que começava a inundar a casa.
— Ficou sexy! – Elogiou Min Jun me analisando dos pés a cabeça.
— Eu não tinha nada pra vestir...
— Minha camiseta ficou ótima em você, deveria usar mais! Pode ficar com ela se quiser.
Olhei para mim com a camiseta um pouco mais larga que de costume, com uma citação em coreano que eu não fazia a menor ideia do real significado.
— Então agora é minha – Sorri e me sentei à bancada – Pensei que seria macarrão instantâneo...
— Eu tinha um pouco de comida coreana que pedi ontem, na geladeira, estou esquentando tudo no micro-ondas.
— É cheiroso e eu tô faminta – Meu estômago roncou ansiando por alguma comida.
Min Jun colocou as vasilhas com cada guarnição sobre a bancada e outras duas vasilhas com arroz, uma para cada.
— Fique à vontade.
— Eu nem sei como comer essas coisas – Disse confusa, observando as comidas dispostas a minha frente.
— Faça como eu.
Ele pegou os hashis e uma colher arredondada. Com os hashis pegava as guarnições e as colocava no arroz, e então comia tudo com a colher.
Min Jun não havia me dado hashis, mas um garfo. Ele sabia que eu não me dava bem com eles e isso era fofo da parte dele.
Embora hora ou outra eu devesse aprender a usá-los.
— Eu não agradeci pelo que fez por mim, você me ajudou. Não sei o que teria acontecido se você não estivesse lá por mim, obrigada Min Jun, foi muito carinhoso de sua parte – Comi um bocado de arroz – E sexy, como no filme “O Guarda Costas” – Ri e dei uma piscadela.
— E o que eu não faria por você? – Segurou minha mão sobre o mármore do balcão – E se eu fosse na sacada gritar o quanto te amo? O que acha disso?
— Não, não, não, por favor não – Ri quase desesperada.
— Ufa, pensei que levaria a sério – Gargalhou aliviado.
— Sabe o que mais foi sexy? – Ele arqueou as sobrancelhas e me observou curioso – Quando sussurrou em meu ouvido sobre derrubar os quadros – Eu quase perdi o fôlego – Mordi os lábios.
— Eu estava falando sério – Fitou-me e acariciou minha nuca.
— Você era tímido Min Jun, você gaguejou quando me surpreendeu no banheiro e surtou quando te beijei de brincadeira, e olha que foi só um selinho!
— Eu me sinto confortável com você agora, não tem por que eu ser tímido, mas você prefere o meu jeito de antes? – Indagou preocupado.
— Não, não mesmo, antes até era fofo, mas eu realmente quero derrubar os quadros da parede com você!
— Quando quiser!
Murmurou com a voz rouca e pensei que aquele seria um bom momento pra isso. Mas eu estava ocupadq demais comendo e tínhamos o resto do dia para aproveitar.
— Você me levou para o mau caminho, Lisa – Brincou.
— E eu gosto muito disso – Ri e ele beijou minha bochecha.
— O que pretende fazer hoje?
— Só ficar de bobeira com você, eu senti muito sua falta, então não me importo de ficar à toa ao seu lado.
— Tudo bem, eu gosto disso – Sorriu e continuamos a comer.
***
Min Jun acariciava meus cabelos enquanto eu repousava minha cabeça em seu peito e meu corpo se encaixava entre suas pernas. A pouca luz que entrava na pelas pequenas frestas nas cortinas, seu calor contra meu corpo, sua mão repousada em minha barriga sob minha camiseta, era confortavelmente aconchegante.  Apenas nós dois apreciando a companhia um do outro.
— Eu te amo – Murmurou Min Jun e ergui os olhos para vê-lo.
O rádio ligado numa estação aleatória de músicas antigas tocava algumas baladas dos anos 50. Uma delas em especial chamou a atenção de Min Jun.
— Eu amo essa música! – Ele soava animado.— “Stand by me”, você conhece?
— Eu ouvi num filme, um casal dançava num baile – Mordeu o lábio pensativo — Me concede essa dança?
— Pensei que nunca fosse perguntar – Respondi e me levantei do sofá.
Min Jun envolveu minha cintura e passei os braços em sua nuca, repousando minha cabeça em seu peito.
E ali dançamos abraçados. Sentindo seu cheiro, seu calor. A calmaria de estarmos sozinhos ali, apenas sendo nós mesmos, sem máscaras ou fingimentos. Era real e era perfeito.
— Gosto disso – Disse ele com a voz calma – Gosto disso... – Beijou minha cabeça e o abracei como se pudesse perdê-lo a qualquer momento.
— Dessa vez vai ser pra sempre né? – Perguntei e  ele se afastou o suficiente para me olhar nos olhos.
— Eu prometo que será – Sorriu e me girou sobre os calcanhares embalados por “Stand by Me”.
Até ouvirmos o barulho da campainha e eu impulsivamente correr para atender a porta.
Brie estava pendurada no telefone e arqueou as sobrancelhas quando me viu diante dela.
— Eu encontrei ela, nos falamos mais tarde Genna! – Desligou a chamada e me observou dos pés a cabeça — Cadê as suas roupas?
Não me esperou responder para entrar no apartamento.
- Depois do banho eu achei mais confortável usar...
— Banho? Por que tomou banho?
Ela analisou o espaço, havia algumas decorações espalhadas pelo chão. Meus sapatos ainda jogados pela sala, e um Min Jun sem camisa nos fitando com surpresa.
— Vocês não... Não fizeram o que eu penso que fizeram né?
Ele me olhou com certa apreensão.
— Você tá com uma roupa dele, a casa tá bagunçada, aquilo ali é um sutiã? – Apontou para um canto da sala – Vocês transaram, não é?
— Ele não vai mais se casar com a outra lá que não lembro o nome!
— E por isso deu  pra ele? – Brie me olhava perplexa.
— Olha como fala! – Alertou Min Jun – Eu terminei um noivado arranjado porque eu amo a Lisa e quero me casar com ela. O que aconteceu depois disso foi... Foi apenas uma consequência de nossos sentimentos reprimidos.
— Fuleragem! – Afirmou Brie com cara de tédio — Mas quem sou eu pra julgar. Eu teria feito pior! Só não quero ficar imaginando, ugh! Ah e Min Jun, pode me dar um minutinho à sós com a Lisa?
— Claro, claro – Se afastou e foi para o seu quarto.
— Por que é tão dura com ele?
— Ele bem que merece, não foi ele que teve que lidar com uma Lisa toda deprimida comendo toso o macarrão instantâneo da loja de conveniência do bairro, enquanto assistia “A Lagoa Azul” em loop chorando. Posso tratar ele ainda pior se eu achar que ele merece!
— Não seja cruel, Min Jun é bom e... – Me aproximei de seu ouvido – Tá fazendo um ótimo trabalho com a língua.
Brie levantou o cenho surpresa.
— Sério?
— Não faz ideia de como é sério!
— Por isso quer casar com ele, não é? – Me cutucou brincando.
— É um dos motivos – Ri- Mas não o principal, eu o amo e não sei se conseguiria me apaixonar por outra pessoa tão intensamente como estou apaixonada agora. Eu amo a sua inocência, sua doçura, suas chatices, o jeito que ele cuida de mim, a forma como sempre tenta pensar no melhor pra todos, nem que pra isso seja necessário sacrificar sua própria felicidade.
— Parece uma adolescente abestalhada toda apaixonada, mas fico feliz por você, de  verdade – Sorriu e me abraçou – Ah e isso.
Pegou meu celular em sua bolsa.
— Min Jun me pediu pra te trazer, você saiu tão rápido, a Genna ficou louca, e felizmente seu namorado me ligou dizendo onde vocês estavam.
— Eu perdi a cabeça – Peguei o telefone em suas mãos – Eu só queria sair dali.
— Eles foram bem babacas- Coçou a cabeça – Podemos pedir uma declaração de desculpas se quiser.
— Vou pensar nisso. Agora eu só quero paz e ficar longe das câmeras por um bom tempo. Esse ambiente é muito tóxico.
— Tudo bem, se está bem assim – Suspirou – Eu to indo pra casa, você vem?
— Hum... Eu acho que vou passar a noite aqui, amanhã vou pra sua casa.
— Claro, só cuidem pra não quebrar a cama!
— Cala a boca!
— Tá bom, tá bom, eu tô indo.
Min Jun apareceu na sala agora com uma camiseta, e me abraçou por trás.
— Já vai? Não quer comer nada? Uma bebida?
— Ah melhor não, fica pra uma próxima, os pombinhos precisam de privacidade. Eu vou indo, até mais Lisa, até mais senhor linguinha – Saiu e fechou a porta.
— Senhor linguinha? O que ela quis dizer com isso?
— Hum... É... Sabe, é que eu meio que comentei com ela sobre, sobre nós... – O olhei sugestiva.
— Sobre aquilo?
— Eu não sei se estamos falando sobre a mesma coisa.
— Sexo oral, Lisa!
— Estamos falando sobre a mesma coisa.
— Falou com a Brie sobre isso?
— Só comentei por cima, coisa de melhores amigas – Desviei o olhar e ele me envolveu com os braços.
— Foi um bom comentário pelo menos? – Tentou não soar curioso.
— Na verdade, foi sim — Sorri maldosa.
Min Jun sorriu orgulhoso.
— Ei, não fica se achando – Acariciei seu pescoço – Você tem muito que aprender ainda.
— Pra aprender preciso de prática – Beijou meu nariz.
— Vamos praticar, teremos muito tempo pra isso.
Então ouvi um barulho estranho.
Outro ruído.
— Lisa?
Uma orquestra de ruídos vindos mais especificamente de minha barriga acompanhados por uma cólica que aumentava a cada instante.
— Banheiro!
Corri como o mais rápido velocista poderia imaginar correr e me enfiei no banheiro.
Com certeza foi aquela comida coreana apimentada. Eu sabia, eu sabia.
— Lisa? – Min Jun bateu na porta soando preocupado.
— Eu tô realmente.... Ugh.... Mui-muitooo ocupada.... Agoraaa.... Por deus – gemi.
Ah sim, uma bela e agradável sinfonia de ruídos intestinais. Beethoven ficaria vermelho de inveja.
— Você tá bem? – Perguntou seguido por uma risada abafada.
— Não é... Ugh... Engraçado! – Mais e mais barulhos.
— Me desculpe, eu não devia rir disso – Riu- Precisa de alguma coisa? Papel higiênico?
— Só sai da portaaa! – Me contorci.
Era como aquela cena de “Alien”, mas a criatura não saia de meu peito. Se é que me entendem.
Após intermináveis cólicas intestinais,  preces silenciosas clamando pela misericórdia divina, meio frasco de desodorante de ambiente, e hm bom banho, saí do banheiro traumatizada.
Min Jun estava deitado no sofá com a mão na boca segurando o riso. Seus olhos quase desapareceram com o sorriso exagerado.
— Lisa...
— Não fala nada. É vergonhoso demais!
— Ah vem cá – Bateu no espaço livre do sofá.
Me aproximei envergonhada e me sentei ao seu lado tentando manter distância.
— Por que tá com vergonha? – Pareceu genuinamente sincero em sua preocupação.
— Porque eu acabei de ficar com diarreia na sua casa! – Respondi desanimada.
— Essas coisas acontecem.
— Mas na casa dos outros não é a melhor opção, principalmente na casa do seu namorado com quem acabou de reatar.
— Se nos casarmos um dia precisamos ter esse nível de intimidade, não acha? Acredito que casais passam por situações bem mais tensas que uma dor de barriga, e o mais importante, sempre estarão ali um pelo outro. Deixe eu te contar, teve uma vez que eu atrasei uma filmagem porque eu fiquei preso no banheiro... Meu intestino não queria cooperar naquele dia e eu devo ter comido algo que não me fez bem. E acredite, eu deixei o Will Smith esperando pra gravarmos uma participação dele.
— O Will Smith? – Indaguei boquiaberta.
— Isso aí – Deu um sorriso constrangido.
— E como ele reagiu?
— Ele não gostou nada, achou que era algum estrelismo meu, mas eu só estava com muita dor de barriga – Rimos – Eu tava tão desesperado, a produção estava desesperada, eu devo ter ficado uma hora naquele banheiro. Quando eu pensava em sair eu tinha que voltar. Até pensaram que eu tinha ficado trancado.
— Ai meu Deus – Gargalhei ficando quase sem ar.
— Acha mesmo que não te entendo? – Riu – Eu tive que me explicar pro Will Smith. Foi uma das coisas mais embaraçosas que eu fiz na vida!
— E então o Will Smith sabe que você tava com dor de barriga?
— É ele sabe – Assentiu embaraçado – E ele acabou rindo muito, ele disse que acontece com todo mundo. Então fica tranquila, eu sou a última pessoa que te julgaria por uma besteira dessas. Somos todos humanos afinal.
— Como você consegue ser tão fofo?
— Ah, eu vi uns tutoriais no YouTube.
— Sério?
— Não – Gargalhou – Você deve ser a única pessoa que me acha fofo.
— As outras pessoas não te conhecem como eu conheço.
O beijei, beijei seu pescoço, seu nariz, seu maxilar, a palma de sua mão. Então repousei minha cabeça em seu ombro.

Recém Casados [Reta Final] Where stories live. Discover now