Cap 07 - Decisões são difíceis

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Se eu fosse parar para refletir, eu perguntaria para o Senhor Destino o por que de tantas coisas estranhas acontecem comigo, não foi somente andar para frente e não olhar para trás, não foi somente a questão de desistir ou continuar, não foi somente passar anos desacreditando no amor e perder entre meus dedos aquele que tanto ansiava para ficar na minha vida.

É complicado.

Passei uma noite na cadeia por desacato a autoridade, ao qual nem lembrava mais quem era essa tal pessoa. Porém a vergonha estava prestes a me dominar quando vi o semblante de Bill me encarando, e assim que meus pés tocaram a liberdade de Hollywood, um tapa forte atingiu minha cabeça.

— FUCK YOU COOKIE! — gritou ele com as mãos mais pesadas que já tinha sentido em toda minha vida.

— Isso dói, sabia?

— Minha reputação também, agora entra nessa caminhonete!— A porta se fechou com força fazendo toda a lataria balançar.

Aquele era o tiroteio que tanto temia em enfrentar, com os olhos cerrados e bufando Bill me observou entrar na caminhonete, acendeu um cigarro e me encarou novamente, coloquei o cinto sem retrucar e mantive minha cabeça baixa.

Passou alguns segundos e parecia que estávamos contendo as palavras antes de explodir, então pensei em uma coisa para acabar logo com aquele clima:

— Onde está minha guitarra?

— Se quer começar uma conversa sincera diga "Me desculpe Bill. Agradeço por ter pago cinco mil doláres para me tirar de lá e blá, blá, blá". — E ele continuou tragando seu cigarro olhando fixamente para a estrada.

— Eu não vou me desculpar, não tenho motivos para fazer isso, mas posso agradecer pelo pagamento. Agora me diz onde está a guitarra? — soltei meu cinto e logo olhei para trás tentando achar Halsey ao meio da carroceria.

Havia momentos que ficava surpreso com a agilidade de Bill, acredito que ele tinha toda aquela destreza por trabalhar com pessoas inconsequentes em seu bar. Ele me puxou pelo cós da calça e estacionou o carro. Olhei apreensivo.

— Isso é o melhor que pode fazer? — E ali eu já estava morto — Sei que não sou teu pai, pode ser que nem se importe comigo, mas te deixei no meu bar porque acreditei que era uma boa pessoa, precisava de alguém que cantasse naquele lugar e que me ajudasse com algumas coisas, então seja grato. Nunca imaginei que fosse parar em uma delegacia.

— Nem eu. Mas se a reputação te importa tanto, quando chegar eu lhe pago todas as diárias e vou embora. Agora me diz onde está a guitarra?

— Nunca te pedi dinheiro Josh — Ele falou alto. — Apenas pedi para que me ajudasse, agora pense comigo, onde você estava ontem a noite? Cadê o Sr. Engomadinho? Ele disse que iria te levar a um festival, e depois voltaria, como foram parar em uma cadeia? Aliás, a família dele conseguiu achá-lo? O irmão dele foi ao bar e fizeram uma bagunça por causa dele, e não vou esquecer:  você vai limpar a bagunça toda!

— Calma Bill, são muitas perguntas e fatos, eu estou confuso.

— Imagina eu? Que tive que explicar como aquele garoto foi parar lá, com duas viaturas de polícia fora do bar, todos os vizinhos acharam que eu tinha matado alguém.

— Desculpe, eu não sabia que...

Senti as mãos ásperas dele agarrar minha gola que quase rasgou com tanta força.

— Desculpe? Você é uma criança? Pare de ser infantil e de ficar me enrolando e me diz logo o que aconteceu lá? Estou querendo te ajudar— Desviei meu olhar.

Todos os anos pensei que era auto-suficiente e nunca precisaria de ajuda até aquele momento, onde as coisas desandaram de uma forma tão desastrosa que não conseguia nem pensar em uma morte tranquila, apenas em resolver tudo.

— Fomos ao festival, depois fomos a uma pousada e passamos a noite lá. Mas Jimin desmaiou e os policiais entraram lá e levaram ele as pressas. — Ele soltou minha gola.

— Burrice! Como pode ser tão burro Johnny? — exclamou sem ao menos se preocupar ou me dizer mais coisas. — Vamos para o aeroporto, vai ter que voltar para o Japão.

— Eu não vou embora!

— Fique quieto, quem decide agora sou eu, sua responsabilidade terminou quando foi parar na delegacia como um inconsequente, além de querer se matar. Muita burrice para quem queria alcançar a fama, não é?

— Como você sabia?

— Acha que aquela corda se desfez sozinha? É Joe você é muito burro mesmo. Eu sou dono daquele lugar e sei tudo o que acontece, estou cuidando de você a mais de cem dias, acha que não sei como é ter depressão?

— Não sou depressivo.

— Enfim está me enrolando de novo, e irá voltar para sua cidade. Se tem algo para acertar antes de seguir sua vida e não querer se matar essa é a hora. — Bill estava certo em todos os aspectos, decisões eram realmente assustadoras, o máximo que faria naquele momento era respirar fundo e decidir. — Jimin estava com cancer de pulmão sabia disso? Ele fugiu do tratamento porque estava em estágio avançado e não queria morrer em uma cama do hospital, acredita? Aquele sim não é um medroso como você Johnny.

— Quem falou isso para você? — e a mesma respiração agitada, as mãos suadas e coração palpitante voltou novamente: O que era aquilo?

— O irmão dele. — Bill ligou novamente o carro — Pois é Joe... às vezes devemos nos importar um pouco mais com as pessoas, agora eu e você teremos que morrer com essa culpa. Mas decida agora, vai ou não para o Japão?

— Coréia do Sul, Bill.

— Que seja!

Eu podia falar que não?

Embora minha razão dissesse que deveria pegar minhas coisas e fugir dali, algo em meu peito me deixava angustiado, frustrado e a melancolia de três dias atrás voltou a tona, mas dessa vez não queria me matar, dessa vez iria encarar meus medos como Bill disse, eu iria atrás de Park Jimin e dizer: Eu quero você do meu lado. 

Last Moment With YouWhere stories live. Discover now