Único;

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- Merda, acho que foi uma péssima ideia...

- Você acha?

Noen murmurou, um olhar debochado dominando a faceta gloriosa de quem sabia estar certo desde o início. Chase rolou os olhos.

O chão estava todo sujo de pegadas. Ele já sabia que o tapetinho da entrada não seria suficiente para limparem os pés sujos de barro. Ele nunca deveria ter seguido a mente geniosa do Hudson e sua ideia de irem ao pomar da casa de seus avós com a chuva que armava.

Claro, o pomar não era tão distante daquela fazenda, mas se tivessem cruzado o longo milharal de carro não teriam ficado tão sujos.

- Pelo menos, comemos maçãs...

- E sua mãe vai nos matar!

- Relaxa, temos dezenove...

- Desde quando nossa idade importa?

O moreno calou-se. Noen tinha - mais - um ponto.

- Bem, pelo menos... comemos algo saudável. Qual é, vai ficar mesmo julgando? Isso só vai piorar a situação!

O menor abriu a boca para falar, mas não conseguiu. Ouviram passos e um falatório no andar superior. Chase e ele trocaram olhares surpresos e um tanto desesperados.

- Merda! - Noen grunhiu. Era o momento que Tamora perceberia que ele não era um bom genro! - Chase!

Soltou, exasperado quando sentiu o braço ser puxado. Em questão de segundos, se viu imerso em um breu junto com o corpo de quem ele sabia ser de seu namorado. A porta do local onde ele havia os enfiado bateu com força, e ele ouviu a tranca.

- Shiii... - O local apertado parecia abafado e pequeno demais para os dois. - Se ficarmos aqui só receberemos o sermão amanhã, ou melhor, vovó vai aliviar a barra.

Noen rolou os olhos.

- E onde estamos?

- No armário de bugigangas, que está vazio. Nenhuma vassoura vai cair em nós, antes que você levante tal possibilidade.

- Ainda bem... - Ele suspirou. - Mas... vamos mesmo ficar nesse breu?

- Eu não trouxe meu celular. E você?

Ele negou, mesmo que o outro não pudesse ver.

Os passos aumentaram, ouviram a aproximação ao lado do armário.

- Mas... que merda aconteceu aqui? - Tamora pareceu chiar. - Só pode ter sido Chase!

- Calma, Tamora. - A voz suave da avó do moreno pareceu adoçar o comodo. - Ele e o namorado são crianças, devem ter ido explorar a região.

- Crianças?! Já são maiores de idade, tsc.

- Pelo lado bom, estão se divertindo de um modo saudável, e não "fazendo bebês". Me acho nova para ser bisa e Chase destrambelhado para ser pai.

Noen acabou rindo, baixo o suficiente para que ninguém ouvisse. Chase rolou os olhos, e ao tentar cruzar os braços, mal percebeu quando o cotovelo socou a parede com certa força, o que desencadeou na passadeira - que ele não percebeu ser acoplado na parede - despencando em suas costas.

O que fez seu corpo pender para frente, prensando Noen na parede. Grunhiram ao mesmo tempo: Chase pela dor latente que sentiu nas costas pelo peso ali apoiado, e Noen pelo corpo do maior tão pesado estar apertando-o naquele cubículo apertado.

- Chase... - Soltou, arrastado e irritado. - Que merda é essa?

- Eu não percebi a passadeira. - O tom machucado do maior o fez ter certeza que não fora alguma brincadeira do moreno.

- Porra, essa bosta 'tá fazendo pressão na minha coluna...

- Tenta empurrar com força!

- Não consigo... tento mover o braço, mas não alcanço. Só saindo para dar certo.

- Posso tentar me ajoelhar e...

Noen mordiscou o lábio ínfero com as mãos apoiadas na parede. Tentou abaixar o corpo, mas não teve sucesso. A única coisa que conseguiu - mesmo sem intenção - fora arrancar um gemido baixo da boca alheia quando sua bunda roçou tentadoramente na virilha do outro.

- Chase?

-A-Acho melhor você ficar parado...

- Cer... - Noen fechou a cara. - Chase... acho que tem algo subindo na minha perna...

- Deve ser uma aranha...

- Aranha?! Puta merda! - Noen chiou, e só a menção daquele artrópode o fez sentir a cabeça girar. Movimentou o corpo, mesmo com dificuldade. - Sai, sai, sai!

- Noen, inferno! - Segurou o quadril dele com força. - Sossega tua bunda!

- Como se tem uma aranha querendo subir em mim?!

- Não sei! Mas a cada movimento seu, minha cobra ganha vida!

- Noen franziu o cenho. Não entendeu direito o que ele dizia no começo, mas quando percebeu, sentiu todo o rosto enrubescer.

- Chase... eu... ah! - Fechou os olhos quando - novamente - sentiu algo em sua perna. - Eu vou chorar!

Ele suspirou, apoiando o rosto sobre sua clavicula. Noen tentou movimentar o corpo com delicadeza, o que pouco adiantou. A pressão ali continuava ainda mais insuportável e quente do que antes.

- Você vai ser a minha morte... - Ele choramingou, com um sorrisinho.

- Foi você quem nos enfiou aqui, Hudson! - Girou o rosto, chocando a pontinha do nariz ao dele. - Suas ideias nos colocando sempre em enrascadas.

Ele rolou os olhos e suspirou, porém, assustou-se quando a porta fora aberta repentinamente. Quase caíram para fora do armário, porém, Chase conseguiu segurar Noen. Os olhares de ambos desviaram logo em seguida para fora, onde encontraram Tamora com os braços cruzados.

- Preciso perguntar o que está acontecendo?

Noen e Chase trocaram uma risada nervosa enquanto saíram do armário.

- É... - Chase riu. - A gente... ficou preso ali.

- Foi sem querer.

- Aham. - Tamora ajeitou os óculos e fingiu um pigarreio. - Vão tomar um banho para poderem jantar, antes que eu me arrpenda por deixar vocês subirem sem antes um sermão pelo armário e pelo piso.

Chase a surpreendeu com um beijo estalado na bochecha.

- Você sabe que é a melhor, não é? - Sussurrou no ouvido dela. Tamora sorriu.

- Vai logo. - Murmurou, vendo-os subirem com risadas e brincadeiras. Manteve o sorriso de compaixão. Amava ver Chase feliz.

𝐀𝐑𝐌𝐀́𝐑𝐈𝐎 ✓ | ᴄʜᴏᴇɴWhere stories live. Discover now