Sobre um balanço e um fim de tarde

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Park Jisung

– Eu sugiro que você pare de girar assim tão rápido, ou pode acabar caindo.

E ele não parou. Mas é de se esperar, ele nunca me escuta.

Nunca.

– Qualquer dia vai acabar se estatelando no chão e eu é que não vou te socorrer. – Solto o ar pelo nariz, conformado. É impossível fazer esse cara me levar a sério.

Mas não é como se eu fizesse questão.

– Você não seria capaz de me deixar machucado, sem fazer nada. – Dá uma risada ligeiramente debochada. Seu olhar desafia o meu. Nossos olhos sempre acabam se encontrando.

No fim, ele nem está errado, jamais conseguiria permitir que algo ruim acontecesse com esse maldito. Acho que é sua feição, ou talvez a forma como ele sorri e é feliz, que faz com que eu me preocupe com seu bem-estar.

Mas pode ser os anos consecutivos que passamos um ao lado do outro também, quem sabe?

– Ya, Jisung! – Chama meu nome com a voz alta. – Park Jisung! – Grita outra vez, porque o ignorei. – Anda, sobe aqui também e tira esse bico do rosto, não combina com você.

Chenle é muito, muito irritante quando quer. Mas desencosto do tronco da árvore e me sento de frente para uma das correntes que seguram o balanço velho, pendurado no galho. Minhas costas encostam nas dele e Chenle me empurra mais contra a corrente.

– Você tá crescendo muito, quase não dá mais para dividirmos o balanço! – Reclama e se ajeita sobre o pedaço de madeira que nos mantém suspensos.

Estamos dividindo um balanço pouco mais novo que nós. Acho que essa coisa tem uns onze ou doze anos. Eu e Chenle temos dezessete.

Ele achou que caberíamos na mesma balança por quanto tempo exatamente?

Meio espremido, ajudo a girar algumas vezes, até se formar uma quantidade não muito pequena, de nós sobre nossas cabeças.

Eu sei que estava dando bronca nele há um minuto, mas devo admitir que ainda é animador rodopiar no balanço, numa velocidade que nos dá um gostinho de como é estar dentro de um carro de corrida. A adrenalina é legal. O medo de cair é mais instigante do que assustador.

Mas é que a gente sabe que, se cairmos, ainda tem o chão para amortecer a queda.

E eu tenho ele para me ajudar. Assim como ele tem a mim.

Levantamos nossos pés do chão ao mesmo tempo e giramos feito dois loucos. Como que isso ainda é tão legal, eu não sei. Mas espero que nunca deixe de ser divertido.

Girar no balanço da Montanha-Casco-de-Tartaruga ainda me faz sorrir.

O nome estranho da montanha também me arranca alguns sorrisos, sempre que lembro de como a apelidamos desse nome estupidamente grande e idiota.

Éramos dois pirralhos e só queríamos saber de correr e brincar de pega-pega, sem as limitações das ruas. Por isso, minha avó um dia nos levou para brincarmos nas montanhas e, como já esperado, acabamos gostando muito do espaço, então resolvemos pedir para ela nos levar outra vez.

Blue ways || ChensungDonde viven las historias. Descúbrelo ahora