Se tentarmos manter esses segredos seguros

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A campainha me tira de algum sonho que envolveu campo de futebol, baleias e o gato do filme Alicia no Pais das Maravilhas. Levanto absorto no efeito sonífero que acabei de sair. Encaro meu celular e demoro a focar nos números. 04:30 da manha! Num acesso de informações desconexas atravesso o curto corredor em direção a porta. Minha mente trabalhando com lentidão, mas ainda argumentando em quem seria a essa hora. O que apurei, no melhor que pude, era minha família e alguém morreu ou só restava uma pessoa. 

- Bom dia. - Mew estava do outro lado da porta, trajado com a roupa que ele foi para o seu evento. Seu corpo encostado contra o batente da porta, um ligeiro sorriso em sua face. 

- Bom dia, um pouco cedo demais, não acha? - Eu não via o cara há duas semanas, e meu corpo parecia estar mais que ciente disso, pois apenas olha-lo a minha frente provocou de meu coração certas reações. Me desvio do caminho para que ele possa entrar. - Hoje é segunda, como você aparece segunda feira na porta dos outros assim ? 

Meus olhos nunca deixando-o, ele parecia tão bem em seu traje. Um calça de cós alta branca, camisa de linho azul e um blazer slim largo azul do mesmo tom da camisa. Talvez as duas singelas correntes em seu pescoço, ou os botões abertos de sua camisa, ou o cabelo penteado de modo a deixar seu rosto amostra; seja o que for, ele estava mais lindo que nunca. 

- Você não esta de férias ? - Mew deixa seu celular e carteira em cima da bancada de minha cozinha antes de se virar para mim. - Posso dormir aqui ? 

Eu não sei se eu ainda estava com sono, mas Mew exalava uma áurea diferente hoje. Não é por causa da bebida, ele não estava bêbado, eu saberia. Mas seus olhos sobre mim soavam...ásperos. E eu não do modo negativo, era só, muito diferente do modo que ele me olhava usualmente. E eu não sabia o que fazer com isso, mas podia sentir algo no meu estomago se remexer. 

- Claro. - Ele me lança um sorriso gentil, que não alcançou seus olhos. 

Droga. Mew estava no banheiro se limpando e eu no quarto inquieto. Essa era a primeira vez que nos víamos desde os acontecimentos. E eu estou completamente perdido sobre como agir. Não aguardava a presença dele quase às cinco da manha a minha porta. Decido me deitar e me manter quieto. Era o Mew. A gente provavelmente, na melhor das hipóteses, iriamos dormir. E mais tarde, ele conversaria comigo, pondo as cartas na mesa. Era assim que ele sempre fazia. 

Então porque esse nervoso incessante? Mexo meus dedos na tentativa de explanar tal energia que me rodeia e não sabia como me livrar sem fazer grandes alardes. 

Assim que escuto a porta abrindo, minha primeira reação é fechar os olhos. Ok, eu sei que era infantil, mas ainda estava escuro lá fora, se eu estou dormindo, o papo fica para mais tarde. Atentamente, o escuto andar pelo quarto, até sentir a cama se movimentar. Meu coração tamborizava em alerta e eu queria correr dali. Não faço ideia de onde veio essa sensação, talvez  a forma como Mew estava agindo havia provocado tal vontade.  Sim, era isso. 

- Gulf, porque está fingindo que está dormindo ? - Abro meus olhos, a luz do abajur lateral do lado de Mew estava ligado, o teto brilhando em meios as sombras dos móveis. Olho para o lado e o encontro com um sorriso zombeteiro. - Quer que eu durma na sala? 

Quero! 

-Não. - Murmuro. Eu estava sendo ridículo. Não posso deixar meu nervosismo pessoal atrapalhar o que temos, sim, ele estava estranho de um jeito que eu não sabia explicar e estava me dando nos nervos. Mas do que eu estava com medo? O encarando de volta, seus olhos ainda se mantinham pesados, talvez, ele precisasse de mim, e como eu nunca tive a oportunidade de vê-lo assim antes, não estivesse sabendo lidar muito bem. - Eu vi os postes sobre o desfile, foi lindo. Seu discurso também. A Lory estava lá! Ela é perfeita. Como é ter uma cantora conhecida como sua fã? Mas sério, parabéns, eu queria ter ido. 

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