VIII

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O sangue pulsa em meus ouvidos, tão quente quanto qualquer incêndio, tão intenso quanto às ondas do mar. Respiro fundo, fitando-a com curiosidade. A garota me analisa da mesma forma, as íris castanhas me fuzilando com indecisão, nossos pulsos lado a lado, as pulseiras pulsando de maneira incansável. Ela volta a cobrir a pele com a manga do moletom, os olhos fixos na fotografia.

—Posso saber o motivo de sua procura? –diz, o tom doce se esvaindo de sua voz. Seus olhos amendoados me fitam com mais intensidade, completamente curiosos e inflamáveis. Ela segura a foto entre seus dedos graciosos, os movimentos calmos e precisos. —Por que você tem uma foto do meu pulso?

A adrenalina se instala em meu peito, o ar escapando suavemente por cada respiração. Essa garota consegue ser ainda mais linda a cada segundo, os cabelos curtos contornando o desenho meigo de seu rosto, os olhos brilhando como pedras preciosas. Retiro minha mão do balcão, um pouco receoso e incerto sobre minhas próximas ações.

—Preciso saber onde conseguiu essa pulseira. Talvez um senhor gentil e idoso tenha dado ela à você. –digo, apoiando meu cotovelo sobre o balcão e inclinando-me levemente em sua direção.

A garota franze as sobrancelhas, claramente irritada, uma tempestade em forma de pessoa. Seus olhos me fuzilam como chamas do sol.

—Olha, eu não sei do que você está falando...

—Não adianta me enganar, garota. Você ganhou essa pulseira de um senhor, não foi? –rebato, interrompendo sua fala. Suas íris queimam de fúria, as bochechas ganhando um leve rubor. —Eu sinto muito lhe informar, mas esse mesmo homem quer a pulseira de volta. Ele pediu para eu encontrá-la.

Ouço o seu suspiro de fúria enquanto ela sai de trás do balcão, passando por uma pequena grade ao redor da madeira. Sua estatura é extremamente pequena se comparada à minha, seus cabelos ondulados balançam com a sua simples caminhada. Seus olhos continuam fixos em meu rosto enquanto ela se aproxima de mim, um próprio furacão entre suas pupilas. Permaneço imóvel, completamente intimidado por sua beleza incondicional. Ela para de andar, apenas dois passos nos afastam.

Sinto o sangue se concentrando em minhas bochechas. Ela ergue a manga do moletom, revelando a mesma pulseira, o brilho carmesim me hipnotizando. Seus olhos irradiam de uma nostalgia desconhecida, lembranças dolorosas, um passado cruel.

—Essa pulseira foi um presente da minha mãe, antes de ela falecer. –Sussurra, lágrimas cristalinas se concentrando em seus olhos. Suas íris me condenam, me expõem. —Não tenho ideia de quem é este homem com quem você andou conversando, mas ele mentiu.

Olho para o seu pulso, para a mesma pulseira. Será que me equivoquei? Será que esta realmente é a mesma garota? Estico meu pulso em sua direção, na intenção de comparar os dois acessórios. Analiso a mesma cor, o mesmo aspecto, os mesmos contornos. Será que o senhor misterioso mentiu?

A garota continua a me encarar, as sobrancelhas franzidas, o rosto irradiando de beleza e juventude. Mas, no fundo de suas pupilas, posso visualizar um passado de dores e lágrimas, um tempo que talvez ela deseje esquecer.

—E-e-eu devo ter me enganado. Talvez seja outra garota com a mesma pulseira. –Justifico, tentando esconder a vergonha que estou sentindo. Eu confiei completamente nas palavras daquele homem, não suspeitei de que ele estivesse apenas brincando comigo, me fazendo perder tempo. —Eu sinto muito.

Sua expressão se torna mais meiga ainda, as feições relaxadas, um sorriso sutil realçando suas bochechas, as lágrimas sendo afastadas. O rubor volta a preencher o meu rosto, esquentando minha face e enclausurando meus pensamentos.

Destino Carmesim -Spin Off De Passos OpostosWhere stories live. Discover now