Querido inimigo

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Raquel

— Você só pode estar louco, Sérgio!

— Já é a segunda vez que ouço isso em menos de 24 horas, estou começando a acreditar que seja verdade... — Sérgio disse irônico mais para si mesmo de que para mim.

— Louco! — Eu dizia enquanto andava de um lado ao outro do quarto com as mãos na cabeça tentando processar tudo o que ele havia me contado e tudo que aquilo significava.

— Raquel, para, e me escuta! — Ele disse sério me vendo ainda caminhar de um canto ao outro do quarto ofegante e tentando calcular a dimensão de tudo o que ele havia me dito. — Raquel! — Ele me freiou me segurando pelo braço para que eu parasse.

— Me escuta, por favor! — Ele disse segurando meu rosto entre as mãos e se assustando com o tanto que eu tremia nervosa. — Sim, eu fiz isso para que eu pudesse ser livre para você e para o nosso amor. Mas eu entenderei perfeitamente se você tiver medo ou não quiser fazer parte disso. Você tem todo o direito e eu sinto muito por te fazer passar por isso. Eu apenas não tive mais escolhas, Raquel, entenda. Além disso, a máfia estava me matando aos poucos. Eu fiz minha escolha, e não há volta atrás!

E não há volta atrás!

E não há volta atrás!

E não há volta atrás!

Aquelas palavras pareciam me esfaquearem escoando em minha cabeça enquanto Sérgio olhava no mais fundo dos meus olhos. Ele levava consigo um olhar de esperança e total entrega. E eu, o olhava em desespero, pavor e angústia. Minhas lágrimas caíam por suas mãos que ainda seguravam meu rosto em um intento de me acalmarem. Mas nem mesmo seus toques poderiam amenizar o colapso em que eu me encontrava.

— Me escuta, amor. Eu vou começar a investigação aos poucos e de forma silenciosa, e ainda assim posso colocar seguranças com você a todo momento. — Ele falava como se explicasse a uma criança tentando me acalmar, eu franzi a testa e sacudi a cabeça várias vezes com o absurdo que ele falava. — Tudo bem, tudo bem! Você pode ficar fora por um tempo, eu não sei, encontraremos uma solução, não tema, Raquel. Eu não deixarei nada de ruim te acontecer, não mais!

Dito isso, me abraçou. Parecia que me ter entre os braços alimentava suas energias. E eu não conseguia apreciar o momento de igual forma pois eu estava simplesmente surtando com o que ele me dizia.

— Eu tomei essa decisão, e não me arrependo. Eu te amo, Raquel. E tudo o que eu mais queria era uma vida com você. Mas também entendo que você precisa de um tempo para pensar. Me perdoa por te envolver nisso, te colocar nessa situação. Mas infelizmente você terá de fazer uma escolha.

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Sérgio se foi e me deixou em completo surto. Ele queria uma resposta e eu não tinha como dá-lo. De fato não tinha. A primeira coisa que fiz assim que ele ultrapassou a porta foi mergulhar meu rosto no travesseiro e abafar um grito alto de puro pavor e raiva. Eram tantas questões a serem pensadas, eu não via uma forma de fugir daquela situação ou até mesmo consertá-la. Aquilo havia ido longe demais.

Minha alma e consciência queimavam implorando para que eu contasse toda a verdade àquele homem e quem sabe assim desse a minha sanidade um minuto sequer de paz e alívio. No entanto, minha razão me recordava que eu não poderia presumir o que Sérgio faria assim que soubesse a verdade. Com toda certeza ele me entregaria a irmandade e eu seria torturada afim de lhes contar todo o plano da fidelidade. E então, com conhecimento de tudo, a irmandade entraria em combate direto contra a fidelidade e haveria um enorme banho de sangue e posterior destruição da fidelidade, juntamente com todos aqueles que um dia eu convivi. Eu não poderia deixar que tanto sangue fosse derramado dessa forma por minha culpa, devia haver outra forma.

My fatal paradiseWhere stories live. Discover now