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S/n Lyonne Point of View

Já estava há uma hora no bar com alguns conhecidos do hospital. A gente costuma vir sempre aqui em final de plantão ou período, pois é bem perto do hospital.

Estou vivendo em uma montanha russa onde uma hora estou embaixo, segundos depois em cima e em um rápido piscar estou lá embaixo novamente.

O dia hoje foi péssimo. Aconteceu um acidente, uma explosão, em um dos prédios no centro e deixaram 22 feridos e 13 mortos.

Uma novidade que aconteceu na minha vida foi a descoberta de uma nova área a qual eu jamais imaginei que me daria tão bem. Como eu disse, me formei em medicina e estava atuando como clínico geral no hospital, mas recebi uma ótima proposta da chefe de cirurgia para me inscrever como interna e iniciar o curso pelo hospital de especialização na Traumologia. Confesso que de primeira achei loucura, até mesmo porque estudei muito para ser médica, poucas vezes pensei em me tornar cirurgiã, achava que não era a minha praia. Mas então depois de assistir uma cirurgia na galeria minha visão mudou totalmente e eu me imaginei ali, fazendo a mesma coisa. Vendo meu interesse, Cassie, a chefe de cirurgia ortopédica conversou comigo sobre o programa para internos. Então decidi iniciar.

Recentemente me transferiram para emergência, e tudo mudou quando me dei de frente com o caos que é. Encarei um plantão de 58 horas.

— Você me parece afundada nos pensamentos mais escuros da sua alma. - Uma voz doce diz calmamente no meu ouvido. Olho para o lado, vendo Serena. Me sinto perdida por dentro.

— Foi um dia difícil. Estou morta. - Sorri sem mostrar os dentes.

Serena deixa um beijo em minha bochecha e afaga minhas costas.

— Se quiser conversar, estarei aqui.

— Obrigada. - Ela volta para suas amigas, e eu fico encarando o copo de tequila.

— É minha amiga, vamos virar! - Exclama Jonas de forma animada, deixando um tapa exagerado nas minhas costas. — Você está precisando de uma boa transa. Olha essa cara, sem ânimo de viver! - Seu sorriso era de se rasgar o rosto.

Reviro os olhos. Minha última preocupação no momento é sexo. Sinto que nesse momento não é uma boa hora para estar aqui então me despeço de todos e saio do estabelecimento.

O meu corpo pede descanso, meus olhos ardem por estar há dias sem dormir. Chamo um táxi, devido ao horário e vou para casa.

Ao chegar, pago a corrida e simplesmente fico parada no gramado olhando para o chão. Decido sentar na calçada. Minha cabeça está a mil.

A morte te deixa com um sensação contínua de que uma hora ou outra, tudo se vai. Todo seu esforço, sua dedicação... Tudo aquilo que ama, sem querer se vai para sempre.

Fico um bom tempo me perdendo em meus próprios pensamentos, sofrendo e sentindo o luto por aquelas pessoas que tanto tentei salvar.

Involuntariamente olhei para frente, vendo alguém do outro lado se aproximar da calçada e sentar, com a linguagem corporal gritando cansaço, como eu.

Era ela.

Desde que lhe vi, meu interesse por ela só vem aumentado, porém com a mudança em minha área profissional não me deu tempo de pensar em fazer algo a respeito. E no momento, prefiro não fazer nada.

Ficamos apenas ali. Sentadas.

Eu nem sabia se ela reconhecia quem era a estranha do outro lado da rua, e eu muito menos chegaria para falar.

— Você me parece triste também. - Sou surpreendida por sua voz. Arrisco a dizer que nem meu rosto ela consegue enxergar pela escuridão da noite. — Eu estou triste. - Solta assim, apenas.

Welcome (Camila/You G!p)Where stories live. Discover now