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Quando Matheus Oliveira perdeu sua esposa em um trágico acidente, três anos atrás, toda a sua vida pareceu perder o sentido e seus dias agora se resumiam a trabalho e mais trabalho; sem família, sem amigos, sem ninguém que pudess...
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(Dois dias antes)
O cheiro de tempero que exala dessa cozinha me fascina, e a vontade de pôr a mão na massa e criar meus pratos favoritos me corrói. Mas tenho que lembrar que só estou aqui para ajudar na limpeza. Eles não me querem como cozinheira, já disseram isso várias e várias vezes. E tenho a sensação de que repetem isso apenas para me ferir. Eu só precisava de uma única chance para mostrar a todos o quanto sou boa cozinhando.
— Foco em lavar essas panelas, Isabella — digo baixinho a mim mesma.
Apesar de ter um bom currículo, não está sendo fácil conseguir um emprego formal. Eu estudei tanto, mas parece que de nada serviu. Os contratantes levam em consideração apenas a experiência comprovada pela carteira de trabalho, e infelizmente isso eu não tenho. É sempre a mesma coisa. Eles parecem não acreditar quando digo que estou nesse ramo desde os meus catorze anos, então tenho que aceitar o que aparece. E, no momento, é lavar pratos em um restaurante para conseguir pagar as contas que parecem se multiplicar cada vez que respiro.
Prendo a respiração o máximo possível, e quando não aguento mais, libero o ar. Será que esses segundos fizeram algumas contas desaparecerem? Rio do meu pensamento. Já estou ficando louca.
— Mais rápido, Isabella — Camilo grita. E como normalmente acontece em situações como essa, eu travo. É como se um gatilho fosse ativado. Meu corpo parece entrar em pane e meu coração bate tão rápido que tenho medo de acabar passando mal. — Não está ouvindo? — ele continua gritando, e isso só piora as coisas.
Já pedi várias vezes para não aumentar o tom comigo, mas ele nunca me ouviu. Parecia duvidar que eu o escutaria se falasse da mesma forma que fala com os outros. Eu odeio gritos.
— Estou, senhor. — Forço meu corpo a reagir e, com os movimentos quase letárgicos, volto a esfregar as panelas. — Me desculpe.
Ele assente e retorna para o fogão. Esse homem me odeia e eu realmente não sei o motivo. Nunca fiz nada contra ele. Tudo o que fiz até hoje foi na intenção de ajudar. Com tudo já limpo, enxugo minhas mãos. Faltam apenas alguns minutos para o restaurante abrir. Flexiono meus dedos. Minhas mãos já estão doendo e ainda nem chegamos no horário de almoço. Às vezes me pergunto se realmente vale a pena tanto trabalho e humilhação para ganhar setenta reais no final do dia. Se ao menos fosse registrado, a resposta até poderia ser sim, mas infelizmente não é.
De relance, vejo que Camilo não se lembrou de adicionar açúcar ao molho de tomate. Se não fizer isso, não irá cortar a acidez. Ele vai até o outro lado do balcão verificar o preparo da sobremesa, e enquanto isso, eu sutilmente pego uma pequena colher de açúcar e o adiciono no molho.
— De novo, Isabella!? — E mais uma vez travo. Camilo segura meu braço e me vira para ele. Seu rosto, que sempre foi rosado, agora está vermelho e suas veias parecem saltar. — Essa foi a última vez que se intrometeu em minha comida. Eu tentei ser bonzinho com você, perdoei as duas vezes que fez algo assim, mas agora já basta.
