E então, consertou.

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Felizmente, sobrevivi.

Duas semanas após o término do confronto contra a Liga, acordei em uma maca de hospital sem enxergar absolutamente nada do lado esquerdo. O médico responsável por mim, pouco depois, venho explicar que mesmo as cirurgias não foram o suficiente para consertar o estrago feito pelas chamas, na verdade, eu sequer poderia abrir a pálpebra queimada sem alguma plástica ou coisa do tipo. Esteticamente, não me importava muito.

Outro lugar que sofreu sérios danos foram as minhas asas. Elas incomodavam em meio as minhas omoplatas de uma maneira estranha, que me obrigava a mexer os ombros repetidas vezes, como se o incômodo fosse embora. Felizmente, nada de longo prazo. Eu apenas tomaria alguns remédios e ganharia umas beijocas da famosa Ricovery Girl e então seria livre de novo.

A primeira e, na verdade, única visita que recebi foi da comissão de heróis. Após incontáveis perguntas, me aposentaram do cargo de agente duplo e me deram uns bons dias de férias e eu quase sorri aliviado. Depois que eles se foram, ninguém mais veio. Eu também não esperei que alguém vinhesse, porque não tinha muitos amigos e, as pessoas mais próximas a mim, eram heróis e heroínas que estavam em estados iguais ou piores que o meu.

Embora preocupado e tentando conseguir informações sobre os que me preocupavam para as enfermeiras ocupadas, não consegui muitas respostas. Teria que esperar minha alta para conseguir saber das baixas que tivemos e da situação de cada um. A única coisa pela qual não poderia aguardar, era pela resposta da sua situação. Meu coração se apertou em angústia, até ouvir a enfermeira respondendo:

— O herói número um levou alta ontem.

Uma semana depois, sem nenhuma visita e muito tempo para pensar em tantas coisas, também recebi alta.

Sai do hospital direto para meu apartamento, precisando de um banho, uma comida descente e com muito tempero e frango frito, uma cama espaçosa e boa de verdade e travesseiros macios. Depois disso eu tentaria me convencer de que não existiam motivos para você me visitar, quando nós não éramos nada além de colegas de trabalho. Eu primeiro precisava me permitir um tempo de descanso digno para o meu corpo e minha mente.

Fechado por mais de três semanas, meu apartamento cheirava a mofo, o que me obrigava a ocupar meu próximo dia inteiro com uma faxina. Hoje eu tinha outras prioridades e outros planos que coloquei em prática logo após trancar a porta. Pelo celular pedi várias coisas para comer e, aproveitando o tempo de espera, separei minhas roupas e entrei embaixo da água quente do meu chuveiro. A porta dobradiça trouxe memórias suas por um segundo, mas não deixei que atrapalhasse meu banho.

Fiquei embaixo da água pelo que pareceu horas, ocupado em lavar os últimos resquícios da luta e tirar o cheiro de hospital impregnado em todo canto. Meus dedos estavam completamente enrugados quando desliguei o registro e sai do box despreocupadamente e então eu ouvi o som de passos que não eram meus e toda tensão que haviam ido pelo ralo, parecem voltar em um piscar de olhos.

— Keigo? — eu nunca suspirei tão aliviado quanto agora, mesmo com tensão sobre os ombros, porque não tinha a menor ideia do porquê da sua visita.

— Estou no banheiro!

Saíndo do cômodo, procurei você pelo quarto, pela cozinha e então te encontrei na sala, sentado em meu sofá que parecia pequeno com você em cima dele. Na verdade, eu e todo meu apartamento pareciamos pequenos demais perto de você.

— Oi - cumprimentou primeiro, analisando meu corpo de cima a baixo. - Como você está?

Eu não tinha certeza da resposta, porque você estava em minha casa de novo, com sua expressão preocupada de uma maneira que não tinha visto ainda e isso me quebrava por dentro e reduzia as chances de passar minhas férias tentando te esquecer.

As vezes que você quebrou...Where stories live. Discover now