Capítulo Três - Edição Oficial

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Com passos largos e apressados voltamos ao dormitório no subsolo, onde tivemos alguns minutos para desfazermos nossas malas. Em seguida cada um recebeu um kit com binóculo, câmera fotográfica e uma caderneta antes de irmos para os jardins por uma porta escondida atrás de um quadro da família real daquele mesmo corredor.

No fundo do palácio, um denso bosque marcava o fim do jardim, circundando-o até sua metade nas laterais antes de se fundir com os altos e largos muros. Foi nos orientado que poderíamos circular ali fora livremente para aquele exercício com o propósito de reconhecimento do terreno que envolvia o palácio, fazer anotações e fotografar o que achássemos importante afim de incorporar nossa análise e depois separados em duplas.

Assim que fui designado com Alex, afastamo-nos consideravelmente em direção ao jardim lateral onde havia alguns bancos que mal eram usados em dias comuns. Marquei a data na primeira página da caderneta e liguei a câmera, feliz por ter outra enquanto não pudesse reaver a minha na casa de minha mãe.

— Com quanta raiva de mim você acha que eles devem estar nesse momento? — perguntei ao olhar através da câmera.

— De zero a dez? — Alex indagou sem me dar muita atenção ao se virar para o bosque. — Talvez em torno de um milhão, mas isso é apenas uma suposição — acrescentou, dando de ombros ao virar de costas para mim. — Acho melhor que você conte a eles que também conhece a Princesa da Dinamarca o quanto antes — concluiu fazendo piada.

— Eles sabiam sobre meu pai e meus motivos para estar aqui. Será que fui ingênuo demais em acreditar que eles somariam dois mais dois?

— Às vezes, nós meros mortais, não ligamos todos os pontos ou não nos atemos a todos os fatos até que seja de nosso interesse — disse se sentando em um dos bancos para anotar algo em seu caderno —, mas não ligue para isso, cara. É perda de tempo ficar pensando no que eles acham ou deixam de achar sobre o assunto.

Olhei para ele, tão despreocupado, sem entender como conseguia ao voltar a focar na lente da câmera que estava longe de ser algo de última geração.

As cores e formatos pareciam mais nítidos, cada vislumbre das copas das árvores, de cada flor ou passarinho conforme observava o mundo atrás da lente da câmera, ao passo que a mirava na extensão do jardim, em busca de pontos que antes não tinha dado tanta atenção por não ser de minha preocupação. Anotei algumas coisas e passei a olhar do outro lado, subindo lentamente o olhar pelas paredes do palácio.

Meu olhar se perdeu em uma das janelas abertas, tendo que baixar a câmera rapidamente ao ver a princesa surgir em meu campo de visão, porém mantive meu queixo erguido e franzi os olhos tendo um pequeno vislumbre seu. Sem me conter voltei a olhar através da câmera, notando o quão diferente ela parecia do que tínhamos visto instantes atrás. Talvez mais viva, enquanto mantinha um olhar fixo em algum ponto do jardim. Embora conseguisse quase que com perfeição ver seu rosto triste, o olhar vago, a cicatriz marcando seu rosto na lateral, quase coberta por seus cabelos, e seu longo suspiro, não me refreei em apertar o pequeno botão no topo da câmera, ouvindo o clássico clique ao registrar aquele momento.

Mesmo que não olhasse diretamente para Alex ao meu lado, podia jurar que ele tinha revirado os olhos e cruzado os braços, me reprovando. Afastei a câmera do rosto apenas para ver aquela imagem gravada na tela antes de apagá-la.

Aquela era sem sombra de dúvidas uma bela foto, que qualquer revista de fofoca não pensaria duas vezes em pagar um alto custo para obtê-la. Eles estavam desesperados atrás do que quer que fosse, desde que fosse ligado a ela. Talvez enlouquecidos fosse a palavra apropriada nesse caso, já que fazia quase um ano que ninguém a via em público, mesmo quando seus pais e irmãos compareciam a eventos que estariam abarrotados de repórteres.

A Guarda Real | AmostraWhere stories live. Discover now