07 - Rafa

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Eu era considerada pelos pais "A péssima influência"

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Eu era considerada pelos pais "A péssima influência"

Eles têm toda a razão.

Sinceramente, não sou o tipo de garota que tem diário e é fofinha. Nunca cheguei em casa depois da escola e escrevi em um caderno com uma tranca tão merda que se pode abrir com a ponta de uma lapiseira.

"Querido diário, hoje conheci um garoto e senti borboletas no estômago"

Talvez minhas borboletas estivessem mortas.

Fui eu quem fiz Sophia começar a beber. Fui eu quem fiz a Giulia dar o primeiro beijo e depois começar a beijar geral.

Massssss

Também sou eu quem...

Ah! Deixa! Eu só ensino coisas ruins mesmo.

Meu único lema era viver bem, ser feliz e aproveitar cada instante que eu tinha. Ir a festas, raves eletrônicos, beijar, dançar e chorar de alegria. Me embebedar também. Eu fumava muito também, e todo dia meu pai gritava "você está se matando aos poucos"

Meu querido, a morte nunca foi tão prazerosa.

Eu não era uma pessoa lá muito ambiciosa. Não queria fazer faculdade, talvez eu virasse stripper, ou vendesse drogas. Talvez Giu me deixasse dormir no seu sofá ou em algum quarto de hóspedes.

E sinceramente?

Foda-se!

Eu não queria casar, nem ter filhos, muito menos passar mais quatros anos estudando. Eu poderia muito bem vender doces de maconha em um food truck. Talvez Sophia virasse minha sócia, ela não era lá muito diferente de mim.

Nos encontrávamos para beber e fumar. Ela chorava por causa da Cami e eu a consolava, também segurava seu cabelo quando ela vomitava. E depois ela passava o rodo em geral. Ela beijou cada um dos meus amigos.

Ok! Cada um tem sua forma de lidar com a dor.

Falo disso porque, até um tempo atrás ela era fodidamente louca pela Cami. A guria pisava na Ana e ela ainda beijava o chão dela.

Mas ai, quando Juliana chegou toda afobada e chorando dizendo que Camily estava internada em estado gravíssimo, eu pensei que no mínimo ela ia ter um ataque cardíaco.

Mas ela apenas virou e disse:

— Eu tenho que ir queimar meus coturnos agora... Rafa, vem comigo? Ai vocês vão lá ver a Camily.

Acabamos dividindo um cigarro enquanto ela tacava fogo nas suas botas pretas e cheias de strass.

— O que aconteceu com sua paixonite pela Cami? — Questionei enquanto tragava meu cigarro.

— Eu reagi. Cansei de ser trouxa... e eu conheci outra pessoa, parece ser bem mais legal, mas vou com calma.

— Uma pessoa?

— Sim. Uma pessoa. — Ela disse calmamente enquanto pegava o cigarro da minha boca e tragava.

— E você gosta dessa pessoa? — Perguntei como quem não quer nada.

— Olha... Ele tem uma moto, um apartamento em Nova Iorque e uma herança deixada pelo avô...  além de que ele tem uma banda de rock.

— Então é puro interesse?

— Em partes... Eu quero ir embora daqui. Esquecer que fui burra e imprudente aponto de matar alguém. — Ela suspirou. — A irmã dele tem uma pizzaria no Brooklyn, ele disse que ela pode me oferecer um emprego lá.... E a tia dele é terapeuta, vou pagar umas consultas... Você deveria fazer o mesmo... sabe, ir embora.

— Talvez eu vá para Las Vegas virar stripper. — Sophia gargalha antes de tragar o cigarro e me dar logo em seguida.

— Leve Giu junto, ela vai amar. — Ele diz, me arrancando uma risada.

— Ninguém duvida disso!

...

No dia seguinte Giulia me buscou em casa. Sentei no banco de trás junto com Sophia e Laura. Juliana estava na frente.

— Foram ver Cami? — Questionei enquanto devorava uma rosquinha.

— Sim. Ela saiu do estado de risco. Ela disse que estava tendo uma crise e acabou acelerando demais, um cervo passou na rua em que ela estava dirigindo e não conseguiu frear. — Juliana explicou.

— Ela só quebrou os braços... e a perna... e o nariz... e dois dedos. — Giulia falou pausadamente.

— Uau... ela está maravilhosamente bem. — Debocho.

— Ela poderia ter morrido. — Laura intervém.

— Na verdade... acho que era isso que ela queria. Cami é racional demais para dirigir chorando. — Falo calmamente.

Chegamos na escola, Giulia estacionou o carro em duas vagas como se fosse rainha do estacionamento e depois saiu correndo com suas botinhas brancas batucando o chão.

Era estranho. Eu me sentia culpada, mas era boa em não deixar transparecer, Giu também.

Ela estava tão sorridente, nem parecia a mesma garota que me ligou chorando na noite passada durante a madrugada.

Aparentávamos estar todas bem.

Falávamos sobre assuntos supérfluos e ríamos das piadinhas de Laura. Mas estávamos mortas por dentro.

Cami estava no hospital;
Matamos duas pessoas e matamos a nós mesmas.

Meu sorriso se expandiu quando Laura e Juliana estavam cantando Hakuna Matata, mas ai meu sorriso morreu.

E eu tremi.

Escutei Giulia arfando e Laura gaguejando. Escutei também um baque, provavelmente Juliana derrubou seus livros de romance ou Sophia derrubou sua garrafinha de água.

Lá estavam eles.

Lucas e Davi andando lado a lado, com suas mãos escondidas nos bolsos, com um sorrisinho descarado. E a única coisa que pensei foi:

Puta que me pariu!

•••

O que meninas fazem no banheiro?Onde histórias criam vida. Descubra agora