Intro: Calling

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O sol estava tão forte naquele momento, que ela desejou, mais do que nunca, uma água de côco gelada. Lembrou-se das últimas férias no Brasil, antes de se aventurar num intercâmbio aleatório e acabar morando na Coreia, há cinco anos. Tinha levado Clarice, sua irmã mais nova, para Salvador e lá, ela tinha provado a melhor água de côco de sua vida. Provavelmente eram as memórias da viagem que faziam isso, querer especificamente por aquela água de côco. Além do calor, claro.

— O que está pensando? — a voz grave de Taehyung a trouxe de volta para a Coreia e ela sentiu a luz do sol diminuir com uma sombra.

Quando abriu os olhos, sentiu todo o ar de seus pulmões sendo puxado de uma só vez. Sempre, toda vez, em qualquer minuto de descuido, ela levava um choque ao perceber que Taehyung a olhava com admiração, tão de perto que ela só precisava levantar o rosto alguns centímetros para beijá-lo. A luz do sol, bloqueada pela cabeça dele, fazia com que uma auréola dourada se formasse ao redor do cabelo escuro, deixando a combinação rosto, sorriso quadrado e olhos doces por detrás de óculos de armação redonda, idêntica a de um anjo. Por alguns segundos esqueceu quem era e onde estava.

— Lola? — perguntou ele diante do olhar de espanto dela. Passou a mão espalmada em frente aos olhos da moça, para ver se ela estava acordada ou perdida em pensamentos.

— Oi! Desculpe! — Lola piscou várias vezes, tentando colocar os pensamentos e o coração no lugar. — Qual foi a pergunta? — Taehyung deu risada.

Estavam num raríssimo momento de folga. Era a primeira vez que conseguiam algo do tipo juntos. A agenda do BTS quase nunca permitia folga ou dias livres naquele período do ano. Quando acontecia, era a agenda dela que ficava cheia, porque agora também ajudava a cuidar do figurino dos bebês - apelido carinhoso que havia dado aos membros do TXT.

Para comemorar, Taehyung a convidou para conhecer seu novo "lugar favorito", uma casa térrea com um jardim japonês imenso e bem cuidado que ele havia se dado ao luxo de comprar para presentear a mãe. A casa era grande demais, isolada demais, segura demais e, portanto, vazia demais na maior parte do ano. Ao longe, Lola podia ouvir a água da fonte correndo suavemente através de um cano de bambu, pesando e fazendo com que caísse com um som oco para voltar a se encher em seguida, num ciclo sem fim.

Ela estava deitada com a cabeça no colo de Taehyung, num dos inúmeros bancos de pedra fria que estavam espalhados pelo jardim.

— O que está pensando? — ele repetiu baixinho quando ela voltou a fechar os olhos.

— Água de coco. — respondeu com simplicidade, abrindo um sorriso grande enquanto se ajeitava no colo dele. — Água de coco da Bahia, para ser mais exata. Esse sol merece. — completou.

Taehyung ficou observando Lola voltar a fechar os olhos e se perder de novo em pensamentos. Ela, por sua vez, se concentrou nos cheiros e sons que aquele lugar tinha. Os olhos bem apertados para não se distrair com a visão de Tae a encarando. Ficaram assim alguns minutos, os dedos longos dele brincando despreocupadamente pelos caracóis do cabelo dela, a brisa movendo as folhas das inúmeras plantas espalhadas pelo jardim e o bambu da fonte caindo e voltando a se encher repetidamente.

Nenhum dos dois se deu conta imediatamente, mas aos poucos a atmosfera foi mudando e o silêncio começou a pesar. Lola abriu os olhos de repente, flagrando Taehyung ainda com os olhos presos em si. Havia alguma coisa diferente nele e o olhar atento de repente fez com que ele desviasse o olhar e fingisse reparar no clima.

— Acho que ficou um pouco quente demais, não acha? Quer entrar? — cobriu os olhos com uma mão em formato de concha, enquanto a outra continuou brincando com o cabelo da estilista. Um gesto tão tipicamente culpado que Lola sentou-se num único movimento, desconfiada.

Scenery (Taehyung)Where stories live. Discover now