Ninguém iria me parar! Com todos os documentos em mãos, saí da sede do Destinados Moto Clube pisando firme e indignada. Coloquei eles no alforge da minha moto, subi nela e dei partida.
— Não faça nada de cabeça quente, Júlya! — Marcelo pediu com preocupação, mas ignorei e coloquei meu capacete. Ele era o irmão mais velho das Destinadas e tentava colocar juízo em nossas cabeças.
— Quem ele pensa que é? Estou fazendo algo para o bem dos animais e da sociedade, então aparece um prefeito sem noção e barra o meu sonho? De jeito nenhum, se ele não liberar meu alvará, farei ele comer todo o papel!
— Você não fuma para eu levar cigarro na cadeia, mulher! Não faça uma loucura que se arrependerá depois. — Ele colocou as duas mãos na cintura e levantou uma sobrancelha em desafio.
— Vamos ver quem tem mais poder. — E assim parti rumo a prefeitura da cidade.
Era acostumada a não receber não como resposta. Mimada, filha de pais ricos e com o rei na barriga, tive que apanhar da vida para que me tornasse humilde e altruísta. Tive que humilhar uma irmã Destinada para que eu entendesse que minha felicidade não estava além da felicidade dos outros.
Passei por provações, precisei arregaçar as mangas e mostrar que tinha me redimido o suficiente para merecer o perdão.
Depois de um tempo, as águas passaram e fui aceita como membro. Apesar do meu coração ter se tornado uma maria mole, meu ego continuou inflado e com dinheiro no bolso, resolvia muitos problemas e realizava outros sonhos, um deles, abrir um centro de amparo aos animais de rua.
Estava tudo planejado, faria um baile de gala para a alta sociedade contribuir, agitaria as redes sociais para a adoção consciente, faria feiras de adoção e também, trabalharia com cães para terapia com gente.
Estava tudo indo perfeito, até que resolvi seguir os trâmites legais. Busquei arquitetos, ongs, veterinários e especialistas no assunto para tornar o centro o melhor.
Então, quando espero o alvará da prefeitura ser liberado, ele é rejeitado por inadequação.
Bufo com desgosto ao lembrar quando peguei os papeis e o funcionário não soube explicar o motivo, apenas que o prefeito rejeitou.
Filho da...
Estaciono minha moto perpendicular a calçada, retiro o capacete, desmonto e parto marchando firme. Com calça de couro, blusa curta e decotada, não me sentia formal o suficiente para falar com uma autoridade, mas no atual momento, pouco me importava, eu só queria poder fazer o bem!
Quando eu era inconsequente, tudo parecia fácil... claro, você complicava a vida dos outros e não o contrário, minha consciência me alfinetou.
— Por favor, gostaria de falar com o prefeito — na recepção do prédio da prefeitura, pedi para a mulher que me olhava de forma preconceituosa. Controlei minha ira crescente e sorri com falsidade.
— Qual o assunto?
— Eu quero saber o motivo dele ter rejeitado meu pedido de alvará para o centro de acolhimento de animais da rua! — Coloquei os papeis em cima da mesa dela e bati minha mão com força.
— Agendamentos desse tipo devem ser feito pela internet. Existe um canal...
— Eu não quero saber sobre agendamento, quero falar com ele agora! — em tom de ameaça, mas baixo, olhei nos olhos da recepcionista e mostrei todo o meu descontentamento.
— A senhora está alterada, vou chamar um segurança... — rolei meus olhos para sua tentativa de me menosprezar, peguei os papeis e segui para onde uma excursão de alunos entravam para dentro do prédio.
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Destinados Moto Clube
ChickLitUma amizade, um moto clube e vinte histórias que se cruzaram. Não só na vida real, como nos livros. Destinados Moto Clube é uma coletânea de 20 contos, em homenagem as participantes do clube de leitura Destino Literário.