A Nova Cor (capítulo único)

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Aviso: esse conto contém humor negro, se você não gosta desse tipo de humor, recomendável não ler.

Até hoje me pergunto como cheguei tão longe. Como eu, JD consegui sobreviver ao apocalipse? Depois de muito pensar, eu cheguei a conclusão de que não importa como eu sobrevivi, o que importa mesmo é: como o mundo acabou?

Enchentes? Guerras? Doenças? K-pop?

Não, nenhuma dessas tragédias chegou perto de destruir o mundo, pelo menos, não como Patel chegou.

Patel era um garoto magrelo e insignificante que morava num vilarejo também insignificante da Índia.

Quando era pequeno, Patel apanhava muito de seus pais, pois o consideravam uma maldição.

Quando a mãe de Patel estava grávida dele, ela rezava para a deusa Ganesha todos os dias, na esperança de seu filho nascer deformado e os outros moradores da aldeia o adorarem como um deus.

Mas a deusa não respondeu as suas preces. Diz a história que os pais de Patel entraram em prantos quando o médico disse as seguintes palavras:

- Parabéns, é um menino saudável.

A Índia é o único país do mundo onde você tem mais chances de vencer na vida se nascer com cinco pernas.

Após o nascimento, Patel era negligenciado pelos seus pais, apanhava pelo simples fato de ter apenas dois braços, não recebendo o amor e carinho que toda criança merece.

Mesmo tão sofrido, Patel era inteligente, mais inteligente que a maioria dos meninos de sua turma, ele foi o primeiro da sua classe a aprender a ler, antes mesmo até que seu professor.

Por ser tão avançado, Patel gostava de ler todo tipo de livro que encontrava, ele era tão ávido para aprender que invadia os banheiros dos moradores de seu vilarejo que usavam livros como papel higiênico, foi num desses furtos que teve a ideia que causou o Armageddon.

Enquanto roubava páginas do que restou de uma bíblia do banheiro do seu Zé (o nome do velho não é Zé, mas é um nome tão cheio de consoantes que não vou me atrever a dizer), Patel acabou sendo pego em flagrante com as profanas páginas de Hebreus nas mãos, seu Zé o amaldiçoou em vários dialetos diferentes, todos podem ser traduzidos como : "Suma daqui, aberração de dois braços!".

Patel, ao ouvir as maldições de seu Zé, saiu correndo tentando fugir, mas seu Zé era campeão mundial de acertar as pessoas na cabeça com garrafas de cerveja, ele treinava todos os dias na sua mulher e filhos.

Com apenas um lançamento, seu Zé acertou a garrafa na cabeça de Patel, a garrafa se espatifou em mil pedaços, enquanto Patel se espatifou no chão. Após acordar depois de algumas horas e uma baita dor de cabeça, Patel se levantou e foi lentamente para casa.

Enquanto se arrastava para sua residência, Patel percebia que um arco-íris havia se formado na sua frente, de início, pensou que era apenas sintomas da óbvia concussão que ele sofreu, mas depois percebeu que o arco-íris era real, na verdade, estava sendo refletido pelo sol do pedaço de vidro enfiado na cabeça de Patel.

O jovem estava maravilhado com a beleza de cores, tão maravilhado que desmaiou de novo, dessa vez espumando pela boca de tão maravilhado com as possibilidades que ele havia deparado com aquele arco-íris.

Obviamente, uma das possibilidades era Patel morrer lentamente por causa do pedaço de vidro de 10 centímetros enfiado no seu cérebro, mas ele não morreu, então tudo bem.

Após se recuperar do ferimento, Patel começou a fazer experimentos com cores, usando pedaços de vidro como prisma. Durante meses, conduziu seus experimentos no seu quarto, como ele só tinha um lençol, tinha bastante espaço para usar.

A Nova Cor | CONTO | Humor NegroWhere stories live. Discover now