Juliette
Acordei meio desanimada, como todas as manhãs nesses últimos dias. Parece que uma energia ruim me consome.
Tenho evitado a todos, principalmente a Sarah. Passo direto pelo seu olhar triste e questionador. É o melhor, não quero me magoar mais.
Sei que foi ela que pediu a Carla, pra me aconselhar a procurar o psicólogo. Apesar de pedir pra não dizer, a Carlinha falou que foi ela quem pediu.
Eu realmente fui buscar alguém pra conversar. E tenho que admitir que me aliviou um pouco, mas não me fez mudar de ideia. A Sarah já me disse uma vez, lá no começo do programa, que meu jeito irritava ela.
Acho que depois da nossa amizade, ela não tenha coragem de dizer o quão inconveniente eu sou e o quanto meu jeito é chato.
Mas eu não vou ficar pensando não. Hoje é dia de festa e eu quero tentar curtir, mesmo que sozinha. Ver um novo cenário, escutar umas músicas, beber um pouco e dançar.
Levantei mais cedo que os outros como tem sido de costume nos últimos dias. Na verdade, nem dormir direito eu tenho conseguido. Passo a noite mais acordada do que dormindo.
Vou até o banheiro, faço minha higiene e sigo para o Raio-x.
Sigo até a cozinha da xepa para comer alguma coisa. Preparo uma torrada com manteiga e um pouco de café.
É tão bom o silêncio da manhã, tudo vazio e tranquilo. Por um instante eu me imagino na minha casa sozinha, curtindo minha privacidade.
Ah que saudades!
Calma Juliette, você vai conseguir! Você é forte!
Repito mentalmente tentando me convencer disso a cada dia.
Após o café, coloco meu biquíni que deixei separado ontem perto do chuveiro e vou pra piscina.
Dou um mergulho pela primeira vez sozinha, e é renovador!
O sol está pra nascer. Consigo ver algumas estrelas no céu ainda.
Permaneço boiando olhando pra cima, curtindo esse momento sozinha.
Ao fundo toca a música "Paciência" do Lenine, em um volume mais baixo.
Obrigada meu Deus! Acalme o meu coração aflito.
O sol vem surgindo, aos poucos, no céu; me trazendo alguma esperança de ter um novo dia, um recomeço.
"Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para
Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso, faço hora, vou na valsa
A vida é tão rara
Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência
Será que é tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara, tão rara ! "
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