Capítulo 15| Destino Cruel

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Pela primeira vez em anos Jonas precisou tocar a campainha do apartamento onde, até três dias antes, morava. Era estranho, assim que saiu do elevador pôs a mão no bolso para pegar a chave, só então caindo sua ficha de que não a possuía mais.

A ex esposa o havia chamado de manhã cedo, sem explicar o motivo, mas alegou se tratar de um assunto urgente e sério. Tirou de cogitação o assunto sobre o divórcio pois sabia que ela teria dito. Até então, havia um clima de suspense acerca da razão de ter que voltar tão cedo ao apartamento no qual dera as costas.

Quando Heloísa o recepcionou, não disse uma palavra sequer, mesmo com um bom dia simpático vindo dele. O escritor agora tinha um receio maior sobre a situação, e cogitou que soubesse o por que. Se fosse o que estivesse pensando, então a ex esposa tinha motivo de sobra para tal rispidez.

Permitiu-se sentar no sofá e com as duas mãos levadas até atrás da cabeça, recostou no assento.

— Não imaginei que me chamaria em tão pouco tempo — ele ironizou claramente debochado. — Já tá com saudades?

— Seu estúpido — quase gritou, mas conseguiu manter a postura mesmo furiosa. — Você ta devendo três meses de aluguel. Três meses!!

Como temera minutos antes, o assunto era a respeito dos aluguéis. Uma questão séria e que precisava de tom adulto para ser tratada.

Heloísa optou em ficar de pé, andava de um lado para o outro movida pela ansiedade. Ele inclinou-se para a frente, pondo os cotovelos sobre a coxa e a cabeça um pouco baixa.

— Certo Helô, vamos falar sobre isso.

— Vamos né? — o encarou. — Aposto que você adorou sair daqui e me deixar esse pepino!

— De jeito nenhum.

— Então com o que você ta gastando esse dinheiro? Com aquela...

— Heloísa, deixa eu explicar.

— Fala, porra! Fala antes que eu morra de tanto desgosto que você tem me dado!

O entoar da esposa soou semelhante ao jeito em que Sérgio o tratava, quase as mesmas escolhas de palavra. Ele nunca havia a visto com um ódio tão nítido, as veias no pescoço sobressaíam e sua pele do rosto tomou um tom vermelho. Conseguiu notar também que a pálpebra do olho esquerdo tremia.

Sentiu que a humilhação a qual passava era um castigo - talvez o primeiro de muitos - pela dor que causou nela. Se ele merecia ou não, estava fora de seu julgamento.

O que ele podia afirmar era sua parcela de culpa em por a ex mulher na situação que beirava o caos. Permitiu naquele instante silencioso admirar o retrato na estante atrás dela, ao lado de uma miniatura da estátua da liberdade. Na foto em questão estavam ele, Heloísa e Hugo na praia da Urca, 6 anos antes.

Todos tão alegres, diferente da nova realidade. Precisava enfrentar as consequências, e expor a verdade. Não faria por ele, mas por sua família.

— Eu sugiro que você sente — Jonas fez uma recomendação que já premeditava a possível bomba.

— Sentarei quando precisar — manteve a postura ríspida. — Não me diga o que fazer, agora eu tenho total controle da minha vida.

— Certo — revirou os olhos antes de prosseguir. — É engraçado, Heloísa, que eu sempre estive convivendo com alguém que possuía um determinado...vício.

— E o que tem de engraçado nisso?

— Por que eu sempre tive um certo julgamento. Você com o álcool, meu pai com remédios, a Paloma...enfim, me perguntava o porquê de não largarem esse mal, essas atitudes que prejudicam tanto a vida e saúde.

VitiumHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin